* Uma tarifa americana de 30% sobre importações da UE entrará em vigor em 1º de agosto, gerando alarme nas indústrias europeias.
* Na semana passada, a Associação Italiana para o Desenvolvimento Industrial no Mezzogiorno alertou que as tarifas americanas podem levar a uma redução de 0,5% no PIB italiano em 2026 e à potencial perda de até 150.000 empregos, incluindo cerca de 13.000 nas regiões do sul do país.
* Além das tarifas, a recente valorização acentuada do euro também gerou crescente preocupação entre formuladores de políticas e economistas, com alguns alertando que a moeda forte representa um "duplo golpe" para as economias europeias, fortemente exportadoras.
* Medidas protecionistas recentes dos Estados Unidos podem, involuntariamente, acelerar o esforço da Europa para diversificar suas parcerias comerciais e ajudar a promover uma arquitetura comercial global mais equilibrada, resiliente e inclusiva, afirmou o economista alemão Hermann Simon.
Bruxelas/Frankfurt, 23 jul (Xinhua) – Faltando menos de 10 dias para a entrada em vigor das novas tarifas propostas pelos EUA sobre as importações da União Europeia (UE), o relógio está correndo, e o alarme já soa em todas as indústrias europeias, algumas das quais enfrentam ameaças existenciais.
Os esforços desesperadamente empreendidos pela UE para garantir um acordo que evite as novas tarifas abrangentes dos EUA fracassaram até agora. O comissário de Comércio da UE, Maros Sefcovic, alertou que a imposição de uma tarifa de 30% "proíbe o comércio".
Das siderúrgicas da Baviera aos produtores de geleia croatas, as novas tarifas são um desastre para as empresas europeias excessivamente dependentes dos mercados americanos, ressaltando uma verdade urgente: agora é hora de a Europa se diversificar ou enfrentará um declínio permanente.

O chefe de comércio da UE, Maros Sefcovic, participa de coletiva de imprensa conjunta em Bruxelas, Bélgica, no dia 14 de julho de 2025. (Xinhua/Peng Ziyang)
DIFICULDADE NA EXPORTAÇÃO
Neb Chupin, CEO da croata Hermes International, teme que seu negócio de geleia de figo, um sucesso no mercado americano desde 2005, não sobreviva às tarifas iminentes.
Nos tempos áureos, a empresa enviava até 150 contêineres de geleia de figo para os Estados Unidos anualmente, o que gerava cerca de 10 milhões de dólares americanos em receita de vendas.
Se a taxa de 10% sobre produtos da UE imposta pelo governo americano for aplicada, a empresa terá que pagar um adicional de 1 milhão de dólares anualmente.
Conforme as tarifas se refletem nos preços da geleia de figo de Chupin nos Estados Unidos, as vendas caíram e a empresa precisou cortar empregos.
Se Washington cumprir suas ameaças de tarifação de 30%, Chupin disse à Xinhua que não consegue imaginar as consequências.
A apreensão de Chupin repercute nas 6.000 pequenas e médias empresas vulneráveis da Itália, particularmente em setores premium como bebidas e produtos farmacêuticos, onde 11 bilhões de euros (12,7 bilhões dólares) em exportações correm riscos.
Na semana passada, a Associação Italiana para o Desenvolvimento Industrial no Mezzogiorno alertou que as tarifas americanas podem levar a uma redução de 0,5% no PIB italiano em 2026 e à potencial perda de até 150.000 empregos, incluindo cerca de 13.000 nas regiões do sul do país.
O Instituto de Estudos Políticos Internacionais (ISPI), um think tank italiano, afirmou que as tarifas americanas também pesariam sobre economias como a Alemanha e a França, custando aos dois países 0,5% e 0,25% de suas produções econômicas.
De acordo com as novas políticas tarifárias americanas, os produtos siderúrgicos europeus vendidos nos Estados Unidos serão taxados com uma tarifa adicional de 50%, o que, segundo especialistas da Associação de Empresas da Baviera na Alemanha, tornará as vendas de produtos siderúrgicos alemães nos Estados Unidos inviáveis.
Kerstin Maria Rippel, diretora-geral da Federação Alemã do Aço, alertou que o influxo de produtos siderúrgicos de países terceiros para os mercados europeus agravará a situação dos produtores de aço europeus.

Foto tirada em 23 de maio de 2025 mostra bandeiras da União Europeia na sede da Comissão Europeia em Bruxelas, Bélgica. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
RISCO DE ALTA DO EURO
A recente forte valorização do euro gerou crescente preocupação entre formuladores de políticas e economistas, com alguns alertando que a moeda forte é um "duplo golpe" para as economias europeias, fortemente exportadoras.
O euro atingiu a maior cotação em quatro anos, de 1,181 dólar americano, no início deste mês, de acordo com os dados das taxas de referência publicados pelo Banco Central Europeu. O par euro-dólar se valorizou em 14% desde o início deste ano.
Henrik Mueller, professor de Jornalismo Econômico na Universidade Técnica de Dortmund, explicou que um euro mais forte torna os bens e serviços europeus mais caros em comparação com os concorrentes estrangeiros, o que prejudica as exportações.
Para uma região fortemente dependente da demanda externa, isso é "muito inadequado", disse ele.
O ministro da Economia e Finanças da Itália, Giancarlo Giorgetti, enfatizou que um dólar fraco atua efetivamente como uma tarifa "implícita", tornando os produtos americanos mais baratos e os importados mais caros, distorcendo assim os fluxos de comércio internacional.
Mueller acrescentou que a zona do euro, especialmente a Alemanha, está sendo atingida simultaneamente pelo aumento das barreiras comerciais e pela valorização cambial. "Este duplo golpe, tarifas mais revalorização, vai doer", alertou ele.
"Qualquer nível tarifário além disso está fora de controle", visto que o dólar mais barato representa a "tarifa mais alta que (a Europa) já enfrenta... nos tornando fracos desde o início", disse Emanuele Orsini, presidente da Confindustria, a maior associação patronal da Itália, em uma conferência em Roma. Em sua opinião, a única tarifa aceitável sobre as exportações da UE para os Estados Unidos seria zero, visto que o bloco já enfrenta uma taxa de câmbio prejudicial.
Nos últimos dias, vários membros do Conselho do Banco Central Europeu (BCE) expressaram preocupação com a força do euro. O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, afirmou recentemente que uma taxa de câmbio acima de 1,20 dólar por euro pode representar riscos para as perspectivas econômicas da Europa.
O mais preocupante é a velocidade com que a taxa de câmbio atinge esse nível. Thu Lan Nguyen, especialista em câmbio do Commerzbank, observou em uma análise que são principalmente as oscilações cambiais rápidas e pronunciadas que podem diminuir a certeza do planejamento das empresas e, como resultado, ter implicações econômicas reais.

Participantes conversam na 6ª Cúpula da Comunidade Política Europeia (CPE) em Tirana, Albânia, no dia 16 de maio de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
DIVERSIFICAÇÃO NECESSÁRIA
Enquanto as políticas comerciais erráticas dos EUA causam estragos no comércio global, na cadeia de suprimentos e na economia europeia, os formuladores de políticas e os fabricantes europeus estão prontos para diversificar seu comércio e buscar expandir os negócios em outros mercados.
Medidas comerciais unilaterais de Washington estão minando os fundamentos do sistema multilateral global e dando um golpe direto na economia alemã, afirmou Bernd Einmeier, presidente da Associação Sino-Alemã para Economia, Educação e Cultura. "Esta situação exige uma mudança estratégica: a diversificação de mercados não pode mais ser um slogan político, virou uma necessidade econômica. O comércio internacional sustentável deve ser baseado em confiança, regras e reciprocidade".
A segurança econômica tem sido uma preocupação de longa data para a UE, que busca ativamente parceiros comerciais diversificados em uma tentativa de reduzir a dependência excessiva.
A UE e o Mercado Comum do Sul, conhecido como Mercosul, que inclui Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, assinaram em dezembro do ano passado um acordo de livre comércio e cooperação após 25 anos de negociações.
Para Hermann Simon, renomado economista alemão conhecido como o pai da teoria dos "Campeões Ocultos", o potencial inexplorado das parcerias comerciais com regiões em desenvolvimento continua sendo um foco fundamental para a Alemanha e a Europa.
Ele destacou a África como um exemplo marcante: a Alemanha exporta atualmente mais para a Suécia, um país com apenas 10 milhões de habitantes, do que para todo o continente africano, que abriga mais de 1,2 bilhão de pessoas.
Esse desequilíbrio gritante, argumentou ele, ressalta não apenas a necessidade de a Alemanha e a Europa expandirem sua presença comercial nos mercados africanos, como também de apoiar a capacidade da África de aumentar suas exportações para a Europa.
Fortalecer essas relações comerciais recíprocas, afirmou Hermann, representa uma oportunidade econômica significativa e uma responsabilidade global compartilhada.
Em sua opinião, as recentes medidas protecionistas dos Estados Unidos podem, involuntariamente, acelerar o esforço da Europa para diversificar suas parcerias comerciais e ajudar a promover uma arquitetura comercial global mais equilibrada, resiliente e inclusiva.
(Repórteres de vídeo: Liu Yuxuan, Diao Ze, Leonardo Lombroso, Li Xuejun, Relja, Dusek, Yin Xiaosheng e Jasmin Brutus; edição de vídeo: Hong Liang, Zhu Cong, Zheng Qingbin e Wang Han)

