Mediação para paz em Gaza falhou e confronto entre Hamas e Israel é possível
Por Saud Abu Ramadan
Gaza, 28 ago (Xinhua) - A crescente tensão entre os grupos militantes palestinos e Israel, bem como o fracasso dos mediadores em restaurarem a paz na Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, aumenta a possibilidade de um confronto aberto entre os dois lados.
Aviões de guerra israelenses lançaram na manhã de sexta-feira intensos ataques aéreos contra instalações de treinamento e infraestrutura militar subterrânea que pertencem às Brigadas Al-Qassam do braço armado do Hamas no enclave costeiro sitiado.
De acordo com o comunicado de um porta-voz do exército israelense, os ataques aéreos israelenses foram uma resposta ao disparo de seis projéteis e dezenas de balões incendiários no sul de Israel, que causou vários grandes incêndios na área.
A tensão entre os dois lados vem aumentando desde 6 de agosto, quando desconhecidos jovens mascarados lançaram dezenas de balões incendiários contra o sul de Israel.
A tensão prejudicou a mediação do Egito, Catar e da Organização das Nações Unidas, que intermediaram há dois anos um entendimento tranquilo para amenizar o bloqueio israelense imposto ao enclave.
O Coordenador-Especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio, Nickolay Mladenov, alertou que "na atual situação, nenhum esforço de mediação pode ter sucesso para evitar a escalada ou para melhorar a situação na Faixa de Gaza".
Mladenov tuitou na sexta-feira que os militantes de Gaza deveriam parar de lançar projéteis e balões incendiários, e pediu a Israel para aliviar o bloqueio e permitir combustível em Gaza para operar a estação de energia local.
Ele acrescentou que a situação em Gaza está se deteriorando ainda mais devido ao rápido aumento de casos de COVID-19 entre as populações devido a um sistema de saúde debilitado, falta de energia, aumento do desemprego, atividade militar e bloqueio.
O ministério da Saúde dirigido pelo Hamas registrou duas mortes e 80 novos casos de COVID-19 desde o surto da doença por coronavírus em áreas densamente povoadas na Faixa de Gaza.
Israel impôs um bloqueio rígido à Faixa de Gaza depois que o movimento Hamas tomou o controle dela violentamente e derrotou as forças de segurança do presidente palestino, Mahmoud Abbas.
O Hamas enfatizou que Israel deveria suspender completamente o bloqueio, mas Israel se recusou e insistiu que o aliviaria apenas se o Hamas parasse de lançar projéteis e balões incendiários.
A fim de colocar mais pressão sobre o Hamas para parar de lançar projéteis e balões, Israel realizou ataques aéreos em suas instalações, proibiu a pesca na costa da Faixa de Gaza e impediu o embarque de combustível, materiais de construção e outros itens, exceto alimentos e medicamentos para Gaza.
Em meio ao surto do coronavírus em Gaza, as medidas israelenses na Faixa de Gaza, onde vivem dois milhões de pessoas, pioraram a situação humanitária de vida no enclave costeiro.
Fawzi Barhoum, o porta-voz do Hamas em Gaza, disse em um comunicado à imprensa que o lançamento de projéteis e balões incendiários é uma resposta direta à escalada da ocupação israelense contra os palestinos.
"A ocupação israelense é totalmente responsável pelas consequências de sua escalada na Faixa de Gaza, principalmente mantendo o cerco imposto e atacando postos e instalações militares em meio à disseminação do coronavírus em Gaza", disse ele.
Uma delegação de inteligência de segurança egípcia falhou na semana passada em convencer os dois lados a restaurarem a paz, enquanto o enviado do Catar, Mohammed al-Emadi, que atualmente está em Gaza, ainda negocia com os líderes do Hamas sem conseguir um avanço.
O Hamas exige que Israel siga entendimentos calmos, incluindo a expansão da zona de pesca na costa de Gaza para 20 milhas náuticas e a implementação de projetos de infraestrutura nos setores de água e eletricidade.
O movimento também exigiu o levantamento israelense das restrições à importação e exportação de produtos, além de permitir o aumento da verba financeira do Catar para ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Adnan Abu Amer, um analista político baseado em Gaza, disse à Xinhua que "Israel está tentando impor a paz pela paz e não para suspender o cerco".
"É claro que a mediação árabe e internacional para a paz não alcançou nenhum avanço em meio a uma troca de mensagens militares entre as facções palestinas e Israel por meio de uma escalada calculada", disse ele.
Abu Amer acrescentou que em meio à disseminação do coronavírus em Gaza, a pressão palestina sobre Israel para encerrar o cerco "aumentará".
"No caso de Israel negligenciar esta mensagem e não suspender o cerco, a situação ficará fora de controle, e isso pode levar a um confronto aberto entre as facções palestinas e Israel", disse ele.
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