Radicada no Brasil, última amiga a ver Anne Frank viva dedica sua vida a homenagear vítimas

2020-08-25 12:16:47丨portuguese.xinhuanet.com

São Paulo, 25 ago (Xinhua) -- Nanette Blitz Konig, de 91 anos, é uma sobrevivente do Holocausto que saiu agonizante de um campo de concentração e foi a última pessoa a ver Anne Frank viva, a adolescente que foi assassinada depois de ter registrado em seu famoso "Diário" como era suportar em um sótão na Holanda a opressão da ocupação nazista.

A holandesa vive desde 1953 em São Paulo, Brasil, para onde emigrou para construir sua vida depois de ter sido uma das vítimas do nazismo e da Segunda Guerra Mundial.

Nos últimos 10 anos, Nanette escreveu um livro de memórias e se dedica a contar a história dos campos de concentração onde 1,5 milhão de crianças e adolescentes morreram antes e durante a Segunda Guerra Mundial.

Segundo ela, o mais importante de um país é a educação. Nanette foi forçada a frequentar o Liceu Judaico em Amsterdã, que a ocupação nazista tinha imposto para os judeus na Holanda, e, prisioneira, ficou desprovida de educação formal ainda adolescente.

"Aproveitem a educação. Aproveitem ao máximo a oportunidade de ter uma educação. Eu não tive", é sua mensagem às crianças nas palestras que dá nas escolas e centros culturais.

Antes da pandemia, quando Nanette dava palestras para apresentar seu livro "Eu sobrevivi ao Holocausto", os alunos tiravam fotos com ela e pediam para autografar o "Diário de Anne Frank".

Ela disse à Xinhua que sua educação formal foi interrompida aos 15 anos, quando ela se tornou prisioneira pelos nazistas. E é isso que ela lembra às crianças e aos adolescentes no Brasil. "A educação que têm deve ser vista como uma oportunidade", disse.

Ela era colega de Anne Frank no Liceu Judaico em Amsterdã e estava no 14º aniversário de sua amiga, que escreveu seu diário no sótão secreto de sua casa, à beira de um dos canais da capital holandesa.

Os judeus que foram relegados pela invasão nazista foram levados para campos de concentração de 1943 a 1944. Em fevereiro de 1944, depois de perder seus pais e irmãos, Nanette viu Anne Frank com muitos piolhos e "magra como uma esqueleto", no campo de concentração de Bergen Belsen, Alemanha.

Foi a última vez que viu viva a autora do "Diário de Anne Frank", que também tinha estado no campo de concentração de Auschwitz.

"Sobrevivi porque penso que já não tinham onde guardar os corpos, e a minha missão era denunciar a tragédia que aconteceu", disse à Xinhua antes da pandemia Nanette, que atualmente está confinada em sua casa no centro de São Paulo, com alguns problemas de saúde, ao lado do seu marido, o húngaro-inglês John Konig.

Em 1945, com a libertação de Berlim e a entrada do Exército Vermelho, a ocupação nazista na Holanda caiu. Nanette foi encontrada perto da morte em Bergen Belsen por soldados britânicos.

Ela ficou hospitalizada por quase três anos, sem nenhuma outra família além de parentes distantes que ela pudesse contatar em Londres. "Quase enlouqueci, mas lutei contra isso porque ninguém queria adotar uma sobrevivente louca", lembrou.

Em Londres, Nanette Blitz conheceu John Konig, um empresário húngaro-inglês, também órfão, que tinha familiares no Brasil.

"Tivemos de procurar uma nova vida e a encontramos", disse ela.

Em 1953 ele se casou e se estabeleceu em São Paulo. Nanette tem 3 filhos, 5 netos e 4 bisnetos no Brasil.

O seu principal legado, disse ela, foi sua memória para poder contar às novas gerações sobre os horrores da Segunda Guerra Mundial. E com isso evitar repeti-los.

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