Muitos profissionais de saúde dos EUA encaram desafios de segurança do COVID-19
Por Julia Pierrepont III e Huang Heng
Los Angeles, 1 mai (Xinhua) – É esperado um certo grau de perigo em trabalhos como policial, soldado ou bombeiro, mas enfermeiros e médicos normalmente não são chamados para arriscarem suas vidas diariamente.
O novo coronavírus, ou COVID-19, mudou tudo isso.
Enfermeiros de 139 hospitais em 13 estados dos EUA, representando mais de 95.540 enfermeiros, estavam programados para realizarem ações no local de trabalho na sexta-feira, Dia Internacional do Trabalhador, exigindo ótimas proteções contra o COVID-19, anunciou a União Nacional de Enfermeiros (NNU).
A NNU disse em um comunicado à imprensa que a demanda por equipamentos de proteção individual (EPI) ideal é enfatizada pelo fato de mais de 60 enfermeiros em todo o país terem morrido devido à doença fatal.
Devido à falta de testes, no entanto, o número é certamente maior. E não há dados exatos de quantos profissionais de saúde no país foram infectados pela doença até o momento.
De acordo com um relatório publicado no Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) em 14 de abril, mais de 9.000 profissionais de saúde nos Estados Unidos haviam testado positivo para o novo coronavírus antes de 9 de abril. Acreditava-se que esse número era um subconjunto de infecções devido à falta de testes em muitas áreas.
"A Equipe de Cuidados de Saúde (HCP) representaram 11 por cento (1.689 de 15.194) dos casos relatados. É esperado que o número total de casos de COVID-19 no HCP aumente à medida que mais comunidades americanas sofram transmissão generalizada", afirmou o relatório.
Em um briefing diário nesta segunda-feira, as autoridades de Los Angeles revelaram que cerca de 2.000 profissionais de saúde no município haviam testado positivo no COVID-19, um aumento de 26 por cento desde a semana passada, e 11 haviam morrido.
Não é surpresa que enfermeiros constituíssem a maioria dos trabalhadores da linha de frente que foram vítimas de COVID-19, com seus empregadores divididos igualmente entre asilos e hospitais.
"Às famílias, lamentamos muito com vocês", disse Barbara Ferrer, diretora do Departamento de Saúde Pública do Condado de Los Angeles. "Seus entes queridos se dedicaram na ajuda aos outros e, assim, salvaram muitas vidas. A todos os que estão na linha de frente, devemos nossa mais profunda gratidão".
No entanto, as estimas não podem resolver o grande problema.
Na falta de protocolos consistentes e adequados da Casa Branca e do CDC, por meio de tentativas e erros dolorosos, os hospitais dos EUA aprenderam não apenas como cuidar de pacientes com COVID-19, mas também quais protocolos de proteção são necessários para proteger os profissionais de saúde que tratam e cuidam dos pacientes.
No entanto, muitos hospitais ainda não seguem esses protocolos necessários, disseram vários profissionais de saúde em anonimato à Xinhua.
"Ainda não estamos seguros", disse na quarta-feira à Xinhua uma enfermeira A que trabalha em uma unidade de saúde da região de Los Angeles, mantendo seu nome em anônimo por medo de represálias por parte da administração do hospital. Ela revelou uma contínua falta de EPI adequado em seu hospital.
Nos Estados Unidos, os protocolos de COVID-19 praticados por hospitais privados são uma mistura incompatível de regras e diferentes regulamentos, com cada hospital criando o seu.
"Os profissionais de saúde estão ficando sem ajuda", disse à Xinhua o enfermeiro B do Mount Sinai Systems Morningside.
"A assistência médica nos EUA está realmente quebrada. Muitos hospitais como o meu estão tão focados em suas margens de lucro que mantêm suas enfermarias cronicamente com falta de equipe, e esse é um problema maior agora, porque os tratamentos de COVID exigem ainda mais trabalho".
Ele disse que os hospitais não usaram dinheiro suficiente para obter os EPI necessários para proteger adequadamente seus profissionais de saúde. "Está errado e é perigoso".
O enfermeiro também disse que achava injusto que funcionários do governo e hospitais cruzassem seus braços e assistissem enquanto o vírus varria a China e não aproveitassem aquele período crucial de aviso prévio de 10 semanas para se prepararem para quando o surto inevitavelmente chegasse aos Estados Unidos.
A enfermeira C, uma enfermeira do sistema Kaiser Permanente na área de Los Angeles, relatou problemas e escassez semelhantes. A Kaiser é um dos maiores sistemas de saúde dos EUA e gera receitas anuais de 80 bilhões de dólares americanos.
Preocupada com a falta de informações confiáveis e concretas sobre o COVID-19, se era espalhado apenas por gotículas ou se era genuinamente transportado pelo ar, a enfermeira C e algumas outras enfermeiras preocupadas, compraram suas próprias máscaras para usarem no trabalho, e algumas até tentaram aliviar o clima usando máscaras de modelos bonitos, mas eficazes.
Ficaram consternados quando todas as suas máscaras foram imediatamente confiscadas pela gerência, que lhes disse que não queriam que assustassem os pacientes usando máscaras ao seu redor. A gerência também disse aos enfermeiros que não precisavam se preocupar em contrair o COVID-19 se não trabalhassem no andar designado.
"Mas os pacientes com COVID-19 passaram pelo nosso setor para chegarem ao andar de COVID", disse a enfermeira C à Xinhua. "Esse tipo de incompetência e desinformação pode matar pessoas".
Pior ainda, no Centro de Saúde Providence Saint John, em Santa Monica, Califórnia, um grupo de enfermeiras solicitou máscaras N95 adequadas para a gerência a fim de protegê-las do coronavírus e recusaram-se a irem ao setor de COVID sem elas.
"A gerência nem ouviu as preocupações", disse a enfermeira D à Xinhua. "Eles apenas suspenderam todos eles no meio da crise".
Isso levou a um protesto improvisado fora do hospital, há duas semanas, por enfermeiros preocupados que não esperavam que a gerência os colocasse deliberadamente em perigo. Tristes e temendo por suas vidas, os manifestantes exigiram melhores EPIs e que seus colegas suspensos pudessem voltar ao trabalho.
"Definitivamente, foi uma ação punitiva do governo suspender os enfermeiros, que estavam solicitando apenas as proteções padrão mínimas contra essa doença mortal", disse a enfermeira D à Xinhua.
A enfermeira D também revelou que o surto está afetando profundamente os enfermeiros e os médicos que não conseguem voltar para casa com suas famílias há semanas, com medo de levar a doença ao lar.
Ao contrário da maioria das pessoas que estão abrigadas no local com suas famílias, os enfermeiros foram forçados pelas circunstâncias a permanecerem em hotéis em estrito isolamento de seus entes queridos.
Na terça-feira, um grupo de enfermeiros e membros da comunidade protestou novamente em uma caravana fora do Centro de Saúde de São João em Santa Mônica, pedindo às autoridades do hospital que providenciassem quartos de hotel para que os profissionais de saúde pudessem impedir a disseminação do coronavírus para suas famílias, enquanto continuavam lutando contra a pandemia.
Com as estimativas do número de profissionais de saúde infectados pelo coronavírus aumentando, os enfermeiros estão tomando medidas para se protegerem, se a gerência não o fizer.
Como resultado, protestos liderados por enfermeiros estão surgindo em todo o país, incluindo um na porta da Casa Branca, onde enfermeiros preocupados se reuniram na semana passada para exigirem maior proteção para os profissionais de saúde nas linhas de frente e mais consistência do CDC e da administração em relação a quais são os protocolos de COVID-19 genuinamente seguros para os profissionais de saúde.
Eles criticaram fortemente o CDC por dizer que os enfermeiros poderiam receber bandanas para usarem em vez de máscaras N95 adequadas.
"Estamos aqui porque nossos colegas estão morrendo. Acho que agora as pessoas pensam em nós como heróis, mas estamos nos sentindo mártires", disse uma enfermeira à NBC News.
Eles pediram ao presidente Donald Trump que invoque imediata e totalmente a Lei de Produção de Defesa para aumentar urgentemente a produção de respiradores, máscaras faciais, macacões, aventais e máscaras cirúrgicas, algo que Trump até agora se recusou a fazer.
Em vez disso, Trump disse aos estados para descobrirem suas próprias fontes de suprimentos médicos e não esperarem a ajuda do governo federal, um anúncio chocou todo o país.
"Os enfermeiros se alistaram para cuidar de seus pacientes. E não para sacrificarem suas vidas nas linhas de frente da pandemia de COVID-19", disse Bonnie Castillo, diretor-executivo da NNU, na declaração de quinta-feira. "Neste dia que celebra o movimento trabalhista e os trabalhadores, os enfermeiros sindicais estão de pé para exigirem as proteções de que precisam agora!".
"Garantir que enfermeiros e outros profissionais de saúde recebam o EPI e o treinamento adequados deve ser nossa principal prioridade", disse à Xinhua, Brian Benson, enfermeiro aposentado da cidade de Nova York. "Eles são o pilar de qualquer sistema de saúde e, se adoecerem com o coronavírus, quem restará para cuidar de todos os outros pacientes?".
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