Especial: Portugal surge como ponte entre a China e os países lusófonos

Lisboa, 4 dez (Xinhua) -- Depois de adquirir participações significativas em importantes companhias portuguesas, a Fosun, uma multinacional chinesa de propriedade privada, descobriu um mercado muito maior do que o país no sudoeste da Europa com uma população de cerca de 10 milhões de pessoas.

A Fosun estabeleceu presença em Portugal em 2014, assumindo o controle da seguradora Fidelidade, que posteriormente comprou um grande provedor de serviço de saúde, atualmente conhecido como Luz Saúde. Mais tarde, a Fosun expandiu seu portfólio com uma participação de 27% no Millennium BCP, um grande banco português.

Isso permitiu que a Fosun criasse sinergia entre três negócios relacionados, assim como abrisse um portal para um mercado mais amplo -- os países lusófonos.

Este ano, a Fosun comprou a empresa brasileira de corretagem e gestão patrimonial Guide Investimentos, depois da aquisição em 2016 da companhia de gestão de ativos Rio Bravo.

Os negócios no Brasil foram facilitados por sua experiência em Portugal, revelou a companhia, acrescentando que tem uma estratégia "centrada em Portugal" para se expandir para outras regiões de língua portuguesa.

PONTE EMERGENTE

O exemplo da Fosun ilustra o papel emergente de Portugal como uma ponte entre a China e os países de língua portuguesa, segundo os especialistas.

"O investimento direto estrangeiro feito pela China em Portugal já facilitou o acesso a outros países, isto é, o mundo de língua portuguesa", aponta Carlos Rodrigues, chefe do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território na Universidade de Aveiro.

Graças a seu conhecimento sobre a África e os fortes laços com o continente, Portugal pode fazer esforços conjuntos com a China "voltados a gerar oportunidades em países terceiros", explica Rodrigues.

Virgínia Trigo, professora emérita e diretora de Programas com a China do ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), avalia que a "cooperação trilateral" é potencialmente benéfica: Portugal tem ligações históricas e conhecimento sobre a África e o Brasil, consequentemente um papel em estabelecer parcerias.

"O potencial é enorme, desde o desenvolvimento da infraestrutura, energia, sistemas de água e esgoto, ao desenvolvimento de projetos na agro-indústria, até à educação, saúde e outros serviços", analisa Fernanda Ilheu, presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda, um think tank sem fins lucrativos em Lisboa.

Portugal e a China, junto com outros países de língua portuguesa, devem trabalhar em conjunto para descobrir projetos que possam contribuir para o desenvolvimento daqueles países, destaca Ilheu. "Eu gostaria de recomendar a criação de forças-tarefa com representantes do governo, companhias e acadêmicos."

Além dos interesses econômicos, Carlos Rodrigues acredita que tal cooperação trilateral também é consistente com a política externa de Portugal.

Um marco multilateral, "de acordo com a visão oficial, pode ajudar a reforçar o papel de Portugal no cenário internacional, particularmente relativo à África", ressalta.

MAIS PORTUGUÊS

Especialistas disseram ter prazer em ver mais chineses interessados no idioma português.

"Se você levar em consideração nosso tamanho, somos pequenos. Mas os países de língua portuguesa são muito importantes", destaca Paulo Duarte, pesquisador e conferencista na Universidade do Minho.

"Quando eu fui visitar algumas cidades em 2017 na China, como Hangzhou e outros lugares, eu me surpreendi. Surpresa muito boa para mim porque eu descobri que havia alunos na China aprendendo o português e eles eram bastante fluentes", revela Duarte.

"Acredito que poderia ser importante aumentar o escopo dos países de destino e considerar Portugal como um" deles para os inúmeros alunos chineses que desejam estudar no exterior, analisa Virgínia Trigo.

"Em Portugal muitos programas universitários são ensinados em inglês, além de português, e seria uma oportunidade para os estudantes chineses aprenderem o português -se eles quiserem assim- já que é um idioma muito importante no contexto mundial", indica Trigo.