Chinesa é considerada rainha guerreira do deserto da China e defensora de Dunhuang
Beijing, 14 mar (Xinhua) -- Se não fossem Fan Jinshi e sua equipe, o Patrimônio Cultural Mundial nas Grutas Mogao de Dunhuang em um deserto remoto chinês poderia ter sido destruído há muito tempo por areia, tempo ou seres humanos.
Nascida e crescida em Shanghai, Fan passou meio século de sua vida na difícil batalha de preservar as pinturas budistas antigas em murais em Dunhuang, na Província de Gansu, no noroeste da China.
"Não é que eu priorizei meu trabalho sobre minha família, apenas não posso aguentar a culpa de deixar o legado dos nossos ancestrais destruído", disse ela à Xinhua em Beijing ao participar da sessão anual do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), o principal órgão de assessoria política do país.
As Grutas Mogao de Dunhuang de 1.600 anos de idade são uma enorme coleta de arte budista -- mais de 2 mil estátuas budistas e 45 mil metros quadrados de pinturas espalhados em 735 cavernas.
É o primeiro patrimônio mundial da UNESCO no país.
GUERRA DO DESERTO
Fan, arqueóloga, foi enviada a Dunhuang depois da formação pela Universidade de Pequim em 1963. Seu namorado em faculdade foi designado com um trabalho de ensino em Wuhan, a milhares de milhas.
Em Dunhuang, um posto avançado de deserto naquela época, Fan viveu em um templo abandonado. No início, ela até não ousava ir ao banheiro à noite.
"Eu vi um par de olhos brilhando na escuridão. Eu pensei que era um lobo", lembrou, antes de descobrir que os olhos eram de um burro.
Para proteger os tesouros da areia e umidade, Fan e outros trabalhadores instalaram portas nas cavernas, plantaram árvores e começaram a monitorar a temperatura e a umidade nas cavernas. Eles também controlaram o número de visitantes.
"O dióxido de carbono exalado pelas pessoas nas cavernas acumula e danifica as pinturas, então nós permitimos um máximo de 3 mil turistas cada dia."
No final dos anos 1990, o turismo cresceu muito no âmbito nacional pois os feriados nacionais foram estendidos, e o governo local planejou cotar o local em bolsa, mas Fan ficou firmemente em seu caminho.
"O legado teria sido destruído se tivesse sido listado", disse.
A academia fotografou e catalogou todas as esculturas e pinturas e as colocou online. "Apesar de nossos esforços para minimizar o dano, não podemos evitar completamente a degradação delas. Mas o banco de dados digital durará".
Fan ficou agradecida quando seu marido juntou-se a ela em Dunhuang em 1986 depois de 19 anos de ficar longe dela. Seus dois filhos cresceram em Shanghai com sua tia.
"Eu não tenho sido uma boa mãe ou esposa. No que diz respeito à minha família, estou cheia de culpa", lamentou.
NUNCA DESISTIR
Fan, de 79 anos, se aposentou dois anos atrás como diretora da Academia de Dunhuang mas continua com seus esforços como assessora política nacional.
Ela passou o Dia Internacional da Mulher em Beijing nos últimos 25 anos, pois a CCPPC tipicamente convoca suas sessões anuais no início de março.
Como um dos membros da CCPPC com o mais tempo de serviço, Fan fez muitas propostas para proteger o patrimônio da China. Algumas foram aceitas e causaram mudanças em políticas.
Fan lembrou a proposta feita em 2003 que levou ao estabelecimento do Centro de Informações do Turismo de Dunhuang. O centro digital foi aberto ao público em 2014 depois de 11 anos de pesquisa, verificação, planejamento e construção.
"O centro ajuda os turistas a terem um melhor entendimento sobre o que nós fazemos aqui, e dobra nossa capacidade de atendimento aos turistas", disse Fan.
Outra proposta resultou em mudanças para uma linha ferroviária planejada, que ela pensou que danificaria as grutas.
Nos últimos dois anos, ela tem trabalhado em uma proposta para usar tecnologia para proteger os locais em todo o país.
Ela propôs que o Ministério da Ciência e Tecnologia priorize a proteção do patrimônio cultural, tenha mais locais digitalizados, e combine reparos antigos tradicionais com tecnologia moderna.
"Dunhuang se beneficiou da tecnologia digital e espero que nossa experiência possa ser replicada no país inteiro", disse.
Este ano, Fan decidiu se aposentar do corpo consultivo. "Estou muito velha para o cargo da CCPPC", explicou. "Mas vou continuar a trabalhar para a proteção de patrimônios."