Rio de Janeiro, 19 dez (Xinhua) -- O Brasil instalará microrreatores nucleares em pequenas cidades, empresas e projetos estratégicos para abastecê-los com energia, em um projeto inovador para o país que prevê que as primeiras unidades estejam prontas para operar em 2033, anunciou hoje o governo.
Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), aproximadamente 68% dos municípios brasileiros têm potencial para receber energia nuclear por meio de microrreatores, o que poderia impactar a vida de cerca de 30 milhões de pessoas. Além de centros urbanos com menos de 20.000 habitantes, a tecnologia também pode ser utilizada por data centers, plataformas de petróleo offshore, bases militares e diversos setores industriais.
O projeto prevê a construção de uma unidade crítica no Instituto de Engenharia Nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) no Rio de Janeiro, que abrigará o primeiro microrreator nuclear do país. O processo de lançamento do projeto, que reúne 13 parceiros institucionais, teve início em 15 de dezembro.
A iniciativa conta com um financiamento total de 50 milhões de reais (aproximadamente US$ 9,1 milhões), dos quais 30 milhões de reais (aproximadamente US$ 5,5 milhões) provêm do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da Agência de Financiamento de Estudos e Projetos (Finep). O projeto também envolve parceiros do setor privado, agências de apoio e desenvolvimento, instituições científicas, universidades e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Segundo o CNEN, os microreatores nucleares se caracterizam pelo tamanho compacto, o que permite seu transporte para regiões de difícil acesso, como comunidades ribeirinhas ou áreas de selva. Essa característica amplia o alcance da geração de energia elétrica em áreas isoladas do país.
A unidade crítica operará em um nível de potência muito baixo, da ordem de 100 watts, suficiente para sustentar a reação nuclear em cadeia de forma controlada. Uma vez obtida a licença de construção, a expectativa é que o primeiro microrreator entre em operação no Brasil até 2033.
O Secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Inácio Arruda, enfatizou que o projeto reflete o compromisso do governo brasileiro com a ciência e a inovação, especialmente no setor energético, com potencial para gerar amplos benefícios para o país.
Por sua vez, o diretor do Instituto de Engenharia Nuclear, Cristóvão Araripe, observou que a iniciativa contribui para o enfrentamento de desafios globais como a descarbonização, a transição energética e o desenvolvimento sustentável, por se tratar de uma fonte de energia que não emite gases poluentes responsáveis pelo efeito estufa.
Do setor privado, Adolfo Braid, CEO da Terminus P&D em Energia, afirmou que o Brasil possui capacidade científica e tecnológica para projetar, fabricar e operar microrreatores nucleares, ressaltando que seu domínio do ciclo do combustível e a experiência acumulada no setor se traduzem em benefícios diretos para a população.

