
Visitantes no estande da marca chinesa de carros MG na Everything Electric London, uma feira de energia residencial e veículos elétricos, em Londres, Reino Unido, em 17 de abril de 2025. (Foto por Ray Tang/Xinhua)
Analistas dizem que a forma como o Reino Unido equilibrar as taxas rodoviárias, as pressões comerciais e a confiança do consumidor determinará se o imposto sobre veículos elétricos se tornará um modelo sustentável para o financiamento de infraestrutura ou se introduzirá atritos em um estágio essencial da transição do país para o transporte com zero emissões.
Londres, 15 dez (Xinhua) -- O plano do Reino Unido de incluir um imposto baseado na quilometragem percorrida por veículos elétricos reacendeu o debate sobre como os países devem financiar a infraestrutura de transporte em uma transição para emissões líquidas zero e se a cobrança antecipada de usuários de veículos elétricos pode atrasar a mudança que os formuladores de políticas pretendem acelerar.
De acordo com a proposta do Orçamento de Outono 2025, os motoristas de veículos elétricos a bateria pagariam cerca de 3 centavos de libra esterlina por milha (aproximadamente 1,60 km) a partir de 2028. O governo britânico diz que a medida reflete uma base tributária em transformação, já que o imposto sobre combustíveis deve cair com o declínio das vendas de gasolina e diesel. Autoridades argumentam que os usuários das estradas devem contribuir de forma mais consistente, independentemente do tipo de veículo.
O anúncio ocorre em um momento em que a indústria automobilística britânica aumenta os investimentos em eletrificação e cadeias de suprimentos de baterias em meio à demanda interna mais fraca, custos operacionais mais altos e novas pressões comerciais, o que levanta questões sobre se o momento da política está alinhado com as condições de mercado.
SUBSTITUIÇÃO DO IMPOSTO SOBRE COMBUSTÍVEIS
O imposto sobre combustíveis financia há muito tempo a rede de transportes do Reino Unido. Com o aumento do número de motoristas que optam por veículos com emissão zero, essa fonte de receita está diminuindo. Autoridades alertam que, sem reformas, será mais difícil manter as estradas e construir a infraestrutura de recarga essencial para a adoção mais ampla de veículos elétricos.
Amin Al-Habaibeh, professor de sistemas de engenharia inteligente da Universidade Nottingham Trent, disse que o setor já previa um regime tributário mais normal conforme o uso de veículos elétricos cresce. Ele descreveu a cobrança baseada na quilometragem como um primeiro passo rumo a um sistema rodoviário no qual todos os usuários contribuem para os custos contínuos.
Ele acrescentou que os veículos elétricos provavelmente continuarão sendo mais baratos para muitos motoristas ao longo do tempo, principalmente considerando combustível, manutenção e tarifas urbanas. Ele não espera que a taxa reduza significativamente a trajetória rumo à emissão zero a longo prazo, embora possa influenciar as decisões de usuários que percorrem longas distâncias ou que não têm pontos de recarga em casa.
MUITO CEDO PARA UM MERCADO FRÁGIL
Grupos do setor argumentam que o momento escolhido aumenta o risco, já que a demanda do consumidor esfriou após vários anos de rápida expansão.
Segundo a Sociedade de Fabricantes e Comerciantes de Automóveis (SMMT, na sigla em inglês), os registros de carros novos no Reino Unido caíram 1,6% em novembro em comparação com o mesmo período do ano anterior, com a demanda particular recuando 5,5%.
Os registros de veículos elétricos a bateria aumentaram 3,6%, elevando a participação de mercado para 26,4%, ante 25,1% no ano anterior. No entanto, esse é o crescimento mais lento do setor de veículos elétricos a bateria em quase dois anos e está abaixo da meta governamental de 28% para 2025.
David Bailey, professor de estratégia industrial da Universidade de Birmingham, disse que um sistema de pedágio urbano é "inevitável a longo prazo", mas alertou que implementá-lo agora pode diminuir a confiança do público.
"A implementação de uma taxa para veículos elétricos agora contraria o objetivo de aumentar a adesão", disse ele à Xinhua, acrescentando que isso "com certeza atrasará" a transição e dificultará o alcance das metas de emissões para 2030 e 2035.
Bailey disse que, se não for claramente explicada e implementada gradualmente, a taxa pode ser percebida como "uma apropriação indevida de impostos", especialmente quando outros incentivos também estão sendo analisados.
Steven Smith, pesquisador do Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter, disse que o anúncio "envia o sinal errado na hora errada". Ele declarou à Xinhua que a meta de emissões líquidas zero do setor de transportes "corre o risco de não ser atingida" se as políticas públicas gerarem hesitação.
Smith argumentou que manter o ritmo depende de garantir que as viagens com emissão zero se tornem "a opção mais acessível e conveniente", principalmente em relação ao custo inicial e ao acesso a recargas rápidas.
O órgão fiscalizador do orçamento britânico, o Escritório de Responsabilidade Orçamentária, projetou que a medida pode reduzir milhares de vendas de veículos elétricos em relação ao que foi previsto, mesmo após a consideração de subsídios adicionais.
IMPOSTOS NO PAÍS E TARIFAS NO EXTERIOR
O debate se desenrola em um momento em que o setor automotivo britânico enfrenta desafios externos, principalmente nos Estados Unidos, um mercado importante para as exportações britânicas de carros premium e esportivos.
Bailey observou que os carros fabricados no Reino Unido que entram nos Estados Unidos se beneficiam de uma tarifa de 10% apenas para os primeiros 100.000 veículos por ano, após os quais a taxa sobe para 25%.
"A Jaguar Land Rover vai absorver a maior parte da cota", disse ele, deixando fabricantes menores, como Aston Martin, Mini ou Morgan, na incerteza sobre se seus embarques enfrentarão 10% ou 25%.
Ele mencionou os recentes cortes de empregos. Bailey citou exemplos de fabricantes que se adaptaram a esse ambiente em constante mudança, como a Aston Martin e, anteriormente, a Lotus. Quando a demanda interna diminui devido à tributação, enquanto as condições de exportação se tornam menos previsíveis, Bailey disse que isso cria "um fardo duplo, mais um obstáculo para a indústria automobilística britânica".
"Os impostos fazem parte da transição, não dá para ignorar isso", disse Bailey. "Mas se o momento e o planejamento estiverem errados, há risco de atrasar a própria transição que tentam financiar".
Analistas dizem que a forma como o Reino Unido equilibrar as taxas rodoviárias, as pressões comerciais e a confiança do consumidor determinará se o imposto sobre veículos elétricos se tornará um modelo sustentável para o financiamento de infraestrutura ou se introduzirá atritos em um estágio essencial da transição do país para o transporte com zero emissões.


