Alemanha adota postura comercial mais rígida em meio à escalada das ameaças tarifárias dos EUA-Xinhua

Alemanha adota postura comercial mais rígida em meio à escalada das ameaças tarifárias dos EUA

2025-07-27 12:24:59丨portuguese.xinhuanet.com

Caminhões aguardam para entrar no Terminal de Contêineres Tollerort, em Hamburgo, Alemanha, no dia 28 de maio de 2025. (Xinhua/Zhang Fan)

Por Li Hanlin

Berlim, 25 jul (Xinhua) — A Alemanha está sinalizando uma mudança em sua postura comercial em relação aos Estados Unidos, já que o presidente americano Donald Trump planeja impor tarifas de 30% sobre vários produtos da União Europeia a partir de 1º de agosto. Antes uma das principais defensoras das negociações dentro do bloco, agora a Alemanha adota um tom mais firme, alinhando-se mais estreitamente com a França ao defender uma resposta mais enérgica.

Especialistas observaram que essa mudança reflete a crescente frustração com as exigências unilaterais do governo Trump e o espaço cada vez menor para concessões. Isso pode ajudar a UE a estreitar laços e abrir caminho para uma estratégia comercial mais unificada nas próximas semanas.

ALEMANHA EM EVIDÊNCIA

A mudança ocorreu após Trump anunciar planos de impor uma tarifa de 30% sobre as importações da UE, alegando práticas e barreiras comerciais "não recíprocas". A nova taxa se somaria às tarifas existentes de até 50% sobre aço e alumínio da UE e de 25% sobre automóveis.

De acordo com o Financial Times, Trump também está pressionando para estabelecer um limite tarifário mínimo de 15% a 20% em qualquer acordo potencial, algo acima da linha de base anterior da UE, de cerca de 10%. Um diplomata sênior da UE disse que essa exigência poderia deixar Bruxelas sem opções a não ser considerar fortes contramedidas.

O endurecimento de tom foi particularmente acentuado na Alemanha, onde autoridades expressaram crescente frustração com a abordagem dos EUA. O país teria ficado "furioso" ao saber que o governo Trump não apenas rejeitou concessões sobre tarifas automotivas, como também buscou aumentar as tarifas básicas.

O chanceler alemão, Friedrich Merz, que anteriormente defendia uma solução negociada, alertou que o aumento das tarifas poderia prejudicar gravemente a economia alemã, dependente de exportações.

O vice-chanceler e ministro das Finanças, Lars Klingbeil, falando à margem da reunião de ministros das Finanças do G20 na semana passada, declarou: "Não aceitaremos acordo a qualquer preço. Não deve haver vitória a qualquer preço".

Agora a Comissão Europeia está avaliando se ativará o Instrumento Anticoerção, caso as negociações fracassem antes de 1º de agosto. O mecanismo, que nunca foi usado antes, permitiria à UE impor restrições ao comércio e aos investimentos em resposta à pressão econômica de terceiros países. A Alemanha expressou formalmente apoio ao uso do instrumento em 18 de julho, segundo o jornal americano The Wall Street Journal.

Mulher faz compras em supermercado em Frankfurt, Alemanha, no dia 22 de abril de 2022. (Xinhua/Lu Yang)

PRESSÃO ECONÔMICA CRESCENTE

A Alemanha, maior economia da UE, já sente os efeitos da crescente tensão comercial com os Estados Unidos.

O país depende fortemente das exportações para os Estados Unidos, seu principal mercado externo, especialmente em setores de alto valor agregado, como automóveis, maquinário, produtos químicos e farmacêuticos.

Essa dependência está se transformando em um passivo. As exportações alemãs para os Estados Unidos caíram 7,7% em maio, atingindo o menor nível em mais de três anos, de acordo com dados do Departamento Federal de Estatística da Alemanha. As importações dos Estados Unidos caíram 10,7% no mesmo período.

A economia alemã encolheu em 2023 e em 2024. Vários institutos reduziram as expectativas de crescimento para 2025 a zero, citando a política comercial dos EUA como risco fundamental.

Um relatório do Instituto de Política Macroeconômica do país alertou que um aumento de 30% nas tarifas pelos Estados Unidos poderia estagnar o crescimento alemão em 2025 e limitar a expansão de 2026 a cerca de 1,2%. Os Estados Unidos respondem por quase 10% das exportações totais da Alemanha. Qualquer queda adicional na demanda americana pode enfraquecer significativamente a já frágil recuperação do país.

"Se o plano tarifário de Trump avançar, estimamos que poderá reduzir de 0,5 a 0,6 ponto percentual do PIB", disse Moritz Schularick, presidente do Instituto Kiel para a Economia Mundial.

Zheng Chunrong, diretor do Centro de Estudos Alemães da Universidade Tongji da China, observou que a tradicional preferência da Alemanha por diálogo e livre comércio dentro da UE está sendo posta à prova, conforme a vulnerabilidade econômica persiste e a pressão de Washington aumenta.

Zheng afirmou que a reavaliação do governo alemão sobre sua posição comercial reflete preocupações crescentes de que uma nova escalada possa prejudicar a frágil recuperação buscada pelo novo governo do país.

Pessoas visitam área de exposição do Grupo Volkswagen no Salão Internacional do Automóvel de Nova York de 2025, no Javits Center, em Nova York, Estados Unidos, no dia 16 de abril de 2025. (Xinhua/Liu Yanan)

CÁLCULO ESTRATÉGICO

Especialistas observaram que o uso de tarifas pelo governo Trump como instrumento de pressão reflete uma abordagem transacional mais ampla da política externa, frequentemente comparada à chantagem econômica. Em resposta, parceiros comerciais como Brasil, Japão e UE começaram a reagir, adotando posturas mais firmes para defender seus interesses.

Juergen Matthes, especialista do Instituto Econômico Alemão, argumentou que Trump pode estar superestimando sua influência. O especialista afirmou que mais da metade das importações americanas são bens intermediários e que muitos dos equipamentos industriais fabricados na Alemanha têm poucos substitutos viáveis nos Estados Unidos.

Empresas alemãs em setores de máquinas, eletrônicos, produtos químicos e farmacêuticos têm forte poder de precificação, afirmou Matthes, acrescentando que é provável que essas empresas repassem os custos tarifários mais altos aos compradores americanos.

O tom mais duro da Alemanha reflete a crescente frustração com o impasse nas negociações com Washington, segundo analistas. Embora Berlim ainda prefira uma solução negociada, agora se prepara para reagir, se necessário.

Ainda assim, ambos os lados mantêm a porta aberta. O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou recentemente que um acordo ainda é possível. A Comissão Europeia também reafirmou, em 20 de julho, seu compromisso com o diálogo.

A mudança da postura da Alemanha também pode moldar a dinâmica interna da UE. Defensora do livre comércio e da previsibilidade institucional, essa firmeza da Alemanha pode influenciar mais Estados-membros a apoiarem uma resposta coordenada e firme à pressão dos EUA.

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