A presidente do BCE, Christine Lagarde, descreveu a tendência atual de fragmentação econômica como uma situação de "perda mútua", pedindo adesão às regras multilaterais e diálogo contínuo para proteger a economia global interconectada.

Beijing, 14 jun (Xinhua) -- A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, emitiu um alerta severo contra o crescente protecionismo comercial, afirmando que as recentes medidas tarifárias dos EUA estão criando incerteza, minando a confiança e o investimento e representando riscos para o crescimento global.

Em entrevista recente à Xinhua, Lagarde descreveu a tendência atual de fragmentação econômica como uma situação de "perda mútua", apelando à adesão às regras multilaterais e ao diálogo sustentado para proteger a economia global interconectada.

"O nível de incerteza causado pelos anúncios ou pelas ameaças de decisões está prejudicando o investimento", afirmou ela. "Está levando todas as instituições a reduzirem suas projeções de crescimento para a economia global... Estamos vivendo uma situação de perda para todos".

Foto tirada em 17 de abril de 2025 mostra bandeiras da União Europeia em frente à sede do Banco Central Europeu (BCE) em Frankfurt, Alemanha. (Xinhua/Zhang Fan)

Ela destacou que a eliminação da incerteza e a obtenção de acordos, particularmente sobre tarifas e barreiras não tarifárias, beneficiariam todas as partes.

A chefe do BCE alertou ainda que a própria incerteza pode virar um entrave ao desempenho econômico, para empresas e investidores, e para os bancos centrais que tentam prever e implementar políticas eficazes.

"Agentes econômicos, investidores e empregadores têm muita dificuldade em lidar com incertezas", disse ela. "O mesmo para nós, bancos centrais... se tivermos essa grande incerteza, isso dificulta nossas vidas".

Observando que todos os países estão "intrinsecamente ligados por cadeias de suprimentos", Lagarde disse que a fragmentação econômica, seja por meio de tarifas ou dissociação estratégica, representa uma ameaça à prosperidade compartilhada.

Ela afirmou que a incerteza não resolvida pode forçar as empresas a reconsiderar suas cadeias de suprimentos, levando a uma maior fragilidade, crescimento mais lento e possíveis pressões inflacionárias.

"Se a situação não for resolvida satisfatoriamente e a incerteza não for eliminada, o mundo corporativo repensará suas cadeias de suprimentos e isso causará mais fragilidade e um período de incerteza durante o qual o crescimento provavelmente será prejudicado, e poderemos ter pressão inflacionária como resultado", disse ela.

Foto tirada em 19 de outubro de 2023 mostra Banco Popular da China em Beijing, capital da China. (Xinhua/Peng Ziyang)

Como este ano marca o 50º aniversário das relações diplomáticas entre a China e a União Europeia (UE), Lagarde espera que ambas as partes permaneçam comprometidas com o diálogo e a cooperação baseada em regras.

"Espero sinceramente... que a China e a UE continuem cooperando, continuem o diálogo, sejam francas entre si e cumpram as regras acordadas", disse ela. "Acredito que a determinação em dialogar, cooperar e trabalhar em soluções benéficas para ambas as partes continuará sendo compartilhada".

Ela também destacou a importância da cooperação entre o BCE e o Banco Popular da China.

"Compartilhamos algumas das mesmas preocupações, alguns dos mesmos desafios e mantemos um diálogo forte e profundo", disse ela. "Ambos estamos muito apegados à estrutura regulatória e à supervisão que sustentarão a estabilidade financeira".