Soldados da OTAN participam do exercício Steadfast Dart 2025 da OTAN em campo de treinamento em Smardan, Romênia, no dia 19 de fevereiro de 2025. (Foto por Cristian Cristel/Xinhua)
Os gastos militares globais atingiram o recorde de 2,72 trilhões de dólares americanos em 2024, impulsionados por um aumento nos orçamentos de defesa europeus, o que, segundo analistas, reflete a crescente ansiedade com a segurança na região.
Bruxelas, 2 mai (Xinhua) — Impulsionados por um aumento nos orçamentos de defesa europeus, os gastos militares globais atingiram um recorde de 2,72 trilhões de dólares americanos em 2024, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).
A Europa liderou a tendência de alta, com os gastos com defesa disparando 17%, para 693 bilhões de dólares, o maior aumento regional e o nível mais alto desde o fim da Guerra Fria.
Analistas afirmam que o aumento nos gastos militares reflete a crescente ansiedade da Europa em relação à segurança, impulsionada pela retirada dos compromissos de segurança dos EUA com a região e pela pressão das nações europeias para reduzir a dependência de Washington e fortalecer suas próprias capacidades de defesa em meio à crescente instabilidade global.
AUMENTO NOS GASTOS
De acordo com o SIPRI, todos os países europeus, exceto Malta, aumentaram seus gastos militares em 2024.
Os gastos militares da Ucrânia subiram para 64,7 bilhões de dólares em 2024, impressionantes 34% do seu PIB, o maior ônus para a defesa entre todas as nações. O Reino Unido aumentou os gastos com defesa em 2,8%, para 81,8 bilhões de dólares, enquanto a França aumentou seu orçamento de defesa em 6,1%, para 64,7 bilhões de dólares.
Os gastos militares da Alemanha subiram 28%, para 88,5 bilhões de dólares, tornando-se o maior gastador em defesa na Europa Central e Ocidental e o quarto maior do mundo; a Suécia, em seu primeiro ano como membro da OTAN, aumentou os gastos com defesa em 34%, para 12 bilhões de dólares, atingindo o limite de 2% do PIB do bloco; e a Polônia aumentou seu orçamento em 31%, para 38 bilhões de dólares, totalizando 4,2% do seu PIB.
"As políticas mais recentes adotadas na Alemanha e em muitos outros países europeus sugerem que a Europa entrou em um período de gastos militares elevados e crescentes, que provavelmente continuarão a curto prazo", disse Lorenzo Scarazzato, pesquisador do Programa de Despesas Militares e Produção de Armas do SIPRI.
PRESSÃO DOS EUA
Todos os 32 membros da OTAN aumentaram seus orçamentos de defesa em 2024, de acordo com o SIPRI, com 18 países atingindo ou excedendo a meta de 2% do PIB do bloco. O gasto total da OTAN atingiu 1,5 trilhão de dólares, representando 55% dos gastos militares globais.
O aumento reflete a crescente inquietação da Europa quanto à confiabilidade das garantias de segurança dos EUA.
Em fevereiro, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, disse a seus colegas membros da OTAN que Washington não se concentraria mais principalmente na segurança europeia, instando o continente a assumir maior responsabilidade pela ajuda militar à Ucrânia.
O forte aumento nos gastos militares também ocorre em meio a uma pressão renovada de Washington. Em seu segundo mandato, o presidente dos EUA, Donald Trump, reforçou as exigências anteriores, instando os membros da OTAN a aumentarem os gastos com defesa para 5% do PIB, mais que o dobro do valor de referência atual da aliança.
Soldados da OTAN participam do exercício Steadfast Dart 2025 da OTAN em campo de treinamento em Smardan, Romênia, no dia 19 de fevereiro de 2025. (Foto por Cristian Cristel/Xinhua)
Em uma coletiva de imprensa em janeiro, Trump declarou: "Acho que a OTAN deveria ter 5%", repetindo suas críticas de primeiro mandato de que a Europa, particularmente a Alemanha, estava investindo pouco em sua própria defesa. Ele também alertou sobre uma possível retirada de tropas americanas da Europa caso o bloco não cumpra as metas mais elevadas.
A retórica gerou inquietação em todo o continente. O secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, reconheceu as crescentes expectativas, descrevendo a meta de 2% como "um piso, não um teto" e pedindo às nações europeias que "turbinem" seus esforços de defesa à luz das ameaças em evolução.
O ING, um think tank com foco na economia global, afirmou em análise recente que os primeiros contatos entre EUA e Rússia sobre um possível acordo de paz com a Ucrânia, juntamente com as críticas do vice-presidente americano J.D. Vance à Europa na Conferência de Segurança de Munique, aumentaram a pressão sobre os países europeus para que se rearmem.
"Os últimos acontecimentos no Salão Oval só aumentaram esse senso de urgência", observou o documento.
DESAFIOS POR VIR
Em meio à crescente incerteza transatlântica, a busca de longa data da Europa por autonomia estratégica assumiu uma nova urgência.
A Agenda Estratégica da UE 2024-2029 destaca a defesa como uma prioridade máxima. Em março, a Comissão Europeia lançou o "Livro Branco para a Defesa Europeia - Preparação para 2030", destacando medidas para abordar as lacunas na capacidade de defesa e fortalecer a indústria de armas do bloco por meio do aumento das compras conjuntas.
Anteriormente, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, revelou um plano de 800 bilhões de euros (904,69 bilhões de dólares americanos) para aumentar os gastos da UE com defesa. A iniciativa inclui um empréstimo de 150 bilhões de euros (cerca de 169,94 dólares) para ajudar os estados-membros a investir conjuntamente em ativos militares essenciais.
Embora não seja mais membro da UE, o Reino Unido continua desempenhando um papel fundamental na defesa europeia. Em fevereiro, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, prometeu aumentar os gastos com defesa de 2,3% para 2,5% do PIB até 2027 e para 3% até 2029, caso seja reeleito.
Seth Krummrich, coronel aposentado dos EUA e atual vice-presidente de Gestão de Riscos do Cliente do Global Guardian, disse à Al Jazeera que, apesar do esperado aumento nos gastos com defesa da Europa, "ainda foi chocante ver isso se desenrolar".
"A Europa reconhece a necessidade de se manter independente e não depender tanto dos Estados Unidos", disse ele. "Isso não quer dizer que os Estados Unidos não apoiarão a Europa, mas a ‘certeza garantida’ do apoio americano não é mais sentida".
O think tank ING também alertou que, do ponto de vista do financiamento público, mais gastos com defesa na zona do euro "não poderiam vir em pior hora" e que países como França, Bélgica e Itália já estão sob o procedimento de déficit excessivo da UE, lutando para reduzir seus déficits para abaixo de 3% do PIB.
"Aumentar os gastos com defesa para uma meta mais alta da OTAN será, portanto, um desafio, especialmente porque alguns dos países com alto déficit já lutam para atingir a meta atual de 2%", afirmou ele.