Diante das tarifas dos EUA, África caminha para um novo paradigma econômico-Xinhua

Diante das tarifas dos EUA, África caminha para um novo paradigma econômico

2025-04-24 10:57:30丨portuguese.xinhuanet.com

Funcionários embalam carne de carneiro prestes a ser exportada para a China em Antananarivo, Madagascar, no dia 11 de setembro de 2024. (Foto por Sitraka Rajaonarison/Xinhua)

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou recentemente tarifas abrangentes sobre vários países, incluindo muitos na África, interrompendo a ordem do comércio internacional. Embora Washington tenha concedido um adiamento de 90 dias para a maioria dos países afetados, analistas acreditam que a pausa provavelmente será temporária, e não uma reversão completa.

Yaoundé/Beijing, 22 abr (Xinhua) -- O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou recentemente tarifas abrangentes sobre vários países, incluindo muitos na África, interrompendo a ordem do comércio internacional. Embora Washington tenha concedido um adiamento de 90 dias para a maioria dos países afetados, analistas acreditam que a pausa provavelmente será temporária, e não uma reversão total.

Nesse contexto, a Lei de Crescimento e Oportunidades para a África (AGOA, na sigla em inglês), um pacto comercial lançado em 2000 e com validade prevista até setembro, enfrenta uma perspectiva obscura de renovação. Economistas e especialistas em políticas públicas argumentam que os países do Sul Global devem fortalecer sua autossuficiência e aprimorar a cooperação Sul-Sul para combater o crescente protecionismo e unilateralismo dos EUA.

CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS PARA A ÁFRICA

No início de abril, o governo dos EUA anunciou uma nova onda de tarifas visando uma ampla gama de países, com várias economias africanas entre as mais afetadas. As medidas incluem tarifas de até 50% sobre produtos do Lesoto, 47% de Madagascar, 40% das Ilhas Maurício e 37% de Botsuana.

Robert Kahn, diretor-geral de macroeconomia global da consultoria de risco político do Grupo Eurásia, reconheceu que a política levou a "muitos números absurdos e sem sentido".

Lesoto, um pequeno país montanhoso com cerca de dois milhões de habitantes, teria imposto tarifas recíprocas de 99% sobre produtos americanos, segundo o governo Trump. A consultoria Oxford Economics observou que o setor têxtil do Lesoto, que emprega aproximadamente 40.000 pessoas, é especialmente vulnerável.

Funcionárias da Karen Roses podam flores em oficina em Nairóbi, Quênia, no dia 29 de outubro de 2024. (Xinhua/Wang Guansen)

"A tarifa recíproca de 50% introduzida pelo governo dos EUA vai acabar com o setor têxtil e de vestuário no Lesoto", disse Thabo Qhesi, analista independente baseado em Maseru, capital do Lesoto. "Além disso, há varejistas vendendo alimentos. E também proprietários de imóveis residenciais alugando casas para os trabalhadores. Ou seja, se as fábricas fecharem, o setor vai morrer e haverá efeitos multiplicadores".

A longo prazo, os efeitos indiretos das interrupções comerciais, das guerras comerciais globais e do fechamento dos mercados ocidentais podem representar desafios significativos para as economias africanas, que dependem fortemente das exportações como principal fonte de renda e divisas, disse Celestin Monga, economista camaronês e ex-vice-presidente do Banco Africano de Desenvolvimento.

"Uma desaceleração econômica global significa redução da demanda por petróleo e outras matérias-primas, o que, por sua vez, gera queda nos preços do petróleo bruto e de outros produtos africanos não processados", destacou Monga.

AGOA EM DILEMA

A AGOA, que oferece acesso preferencial isento de impostos ao mercado americano para mais de 30 países africanos, desempenhou um papel fundamental no apoio ao crescimento impulsionado pelas exportações em todo o continente. No entanto, com a imposição de altas tarifas americanas, analistas alertam que a renovação da AGOA parece cada vez mais incerta e talvez não sobreviva até seu 25º aniversário.

A economista camaronesa, Michelle Josee Ekila, observou que a incerteza sobre o futuro da AGOA pode restringir significativamente o comércio e aumentar os custos para os exportadores africanos.

Pessoas trabalham em fábrica têxtil no Parque Industrial de Hawassa, em Hawassa, Etiópia, no dia 12 de outubro de 2021. (Xinhua/Michael Tewelde)

Enquanto os países africanos pressionam por uma extensão de 10 anos, muitos economistas duvidam que o atual governo americano esteja comprometido com a continuidade da cooperação. "As tarifas americanas efetivamente anulam a AGOA", disse Daniel Silke, diretor da Consultoria de Futuros Políticos da África do Sul.

O diretor chegou a alertar que o programa poderia ser encerrado antes do seu vencimento previsto, a menos que os países africanos demonstrassem forte valor estratégico para justificar sua continuação.

COOPERAÇÃO SUL-SUL

Em resposta a esses crescentes desafios, líderes e economistas africanos estão pedindo uma mudança de estratégia.

Monga sugeriu que os países africanos estabeleçam bancos nacionais de desenvolvimento e mobilizem financiamento público, privado e institucional para desenvolver parques industriais centrados na produção e no processamento locais. Isso atenderia aos mercados emergentes ávidos por produtos "Feitos na África" ​​que atendam aos padrões internacionais.

Ekila enfatizou a necessidade de diversificar os mercados de exportação. "Buscar acordos comerciais com outras regiões, como a União Europeia ou a Ásia, poderiam compensar as perdas com as novas tarifas".

Nkolo Foe, ex-professor da Universidade de Yaoundé I, concordou com a urgência da cooperação Sul-Sul. "As medidas tomadas por Donald Trump impactam diretamente o Sul Global e estão desestabilizando a ordem internacional e a coexistência pacífica. Os países do Sul Global, e particularmente a África, estão despertando".

Humphrey Moshi, diretor do Centro de Estudos Chineses da Universidade de Dar es Salã, na Tanzânia, pediu uma abordagem proativa e estratégica para a evolução da situação global. Ele disse que, em vez de tentar recuperar o atraso, os países deveriam investir em resiliência, integração regional e parcerias inteligentes.

"Os Estados Unidos podem tentar criar obstáculos, mas é a cooperação, não o confronto, que sustenta o desenvolvimento", observou ele. "Para o Sul Global, principalmente a África, esta é uma oportunidade de repensar parcerias, fortalecer laços regionais e se engajar em pé de igualdade com potências emergentes como a China".

Fale conosco. Envie dúvidas, críticas ou sugestões para a nossa equipe através dos contatos abaixo:

Telefone: 0086-10-8805-0795

Email: portuguese@xinhuanet.com