Carro canadense passa pela passagem de fronteira do Arco da Paz em direção aos EUA em Surrey, Colúmbia Britânica, Canadá, em 10 de abril de 2025. (Foto por Liang Sen/Xinhua)
O mito de que as tarifas oneram principalmente os produtores estrangeiros desmorona sob escrutínio. Na realidade, os consumidores dos EUA acabarão pagando a conta por meio de preços mais altos.
Por Xin Ping
Em uma época em que a interdependência global define a prosperidade, a recente adoção de "tarifas recíprocas" pelos Estados Unidos representa um perigoso retrocesso.
Sob o pretexto de nivelar o campo de jogo e combater "práticas comerciais desleais", essas políticas ergueram mais barreiras que apenas aumentarão os custos para as famílias americanas, interromperão as cadeias de suprimentos e ameaçarão a estabilidade de todo o sistema de comércio internacional.
Conforme alertam economistas e especialistas em comércio, essa estratégia protecionista é um exemplo clássico de "dar um tiro no próprio pé", causando danos muito maiores aos consumidores e às empresas dos EUA do que aos alvos pretendidos.
Pessoas compram mantimentos em uma loja em Nova York, nos Estados Unidos, em 28 de março de 2025. (Foto por Michael Nagle/Xinhua)
ÔNUS MAIS PESADO PARA AS FAMÍLIAS
O mito de que as tarifas oneram principalmente os produtores estrangeiros desmorona sob escrutínio. Na realidade, os consumidores dos EUA acabarão pagando a conta por meio de preços mais altos.
O Instituto Peterson de Economia Internacional estimou que o plano tarifário dos EUA para 2025 poderia custar US$ 2.500 por ano a uma família americana média devido ao aumento do custo das importações, incluindo itens essenciais do dia a dia, como eletrônicos, roupas e alimentos. Por exemplo, a tarifa de 25% sobre automóveis e peças importadas deverá aumentar o preço médio de um carro novo em 10% a 12%, ou seja, de US$ 3.000 a US$ 5.000.
As pequenas empresas e os fabricantes também serão prejudicados. Uma pesquisa realizada em 2025 pela Federação Nacional do Varejo revelou que 74% dos varejistas dos EUA já aumentaram os preços ou planejam fazê-lo devido às tarifas, sendo que muitos já estão lutando para absorver os custos crescentes de matérias-primas importadas, como aço e alumínio. O setor agrícola dos EUA também está se preparando para grandes perdas depois que a China, o maior comprador de produtos agrícolas dos EUA, anunciou tarifas retaliatórias sobre as importações dos EUA.
Foto tirada em 2 de abril de 2025 mostra a loja de uma concessionária BMW na Cidade do México, México. (Foto por Francisco Cañedo/Xinhua)
ILUSÃO DE JUSTIÇA "RECÍPROCA"
Os defensores das "tarifas recíprocas" argumentam que o governo dos EUA está aproveitando a ferramenta para lidar com barreiras comerciais desiguais. Essa lógica ignora as diferenças fundamentais nas estruturas do comércio global, uma vez que as disparidades tarifárias não são o principal fator do déficit comercial dos EUA. Elas refletem fatores estruturais como a demanda do consumidor, as avaliações da moeda e as cadeias de suprimentos globais, e não apenas as taxas tarifárias.
Problemas complexos, como os desequilíbrios comerciais, exigem soluções abrangentes. Medidas simplistas e contundentes, como a imposição de tarifas, só complicam ainda mais a situação. Quando os Estados Unidos impuseram tarifas sobre os produtos chineses no início deste ano, a China retaliou atacando a soja, o milho e o gás natural liquefeito dos EUA, o que custou aos agricultores US$ 1,2 bilhão em perda de receita em poucos meses.
A premissa falha da "reciprocidade" também ignora o sistema baseado em regras da OMC, que fornece mecanismos para a resolução de disputas. Ao contornar esses enquadramentos legítimos, os Estados Unidos estão minando o multilateralismo e provocando retaliações de países ao redor do mundo.
As consequências de longo prazo das tarifas são terríveis até mesmo para os próprios Estados Unidos. O FMI adverte que o PIB global pode encolher 0,8% até o final de 2025, com a economia dos EUA arcando com uma parcela desproporcional das perdas. Tarifas elevadas interrompem as cadeias de suprimentos, forçando as empresas a pagar mais pelas importações ou a realocar a produção, um cenário que corrói a competitividade dos EUA.
As tarifas sobre o aço e o alumínio saíram pela culatra. Embora tenham o objetivo de proteger os produtores nacionais, essas tarifas, em vez disso, aumentaram os custos para os setores de downstream, como construção e manufatura. Um relatório de 2025 da Câmara de Comércio dos EUA constatou que 75.000 empregos em setores que utilizam metais estão em risco devido ao aumento dos preços dos insumos.
Foto aérea tirada em 3 de abril de 2025 mostra um porto no Rio de Janeiro, Brasil. (Xinhua/Wang Tiancong)
AMEAÇA À ESTABILIDADE GLOBAL
As guerras tarifárias dos Estados Unidos são especialmente desestabilizadoras, pois a economia global ainda está em um momento de maior fragilidade. A OMC previu que o crescimento do comércio global diminuiria para 3% em 2025, ante 3,3% em 2024, devido ao aumento do protecionismo.
Essa desaceleração prejudica desproporcionalmente as nações em desenvolvimento, que dependem das exportações para financiar o desenvolvimento e a redução da pobreza. As economias africanas estão perdendo terreno. Países como a Nigéria e o Quênia, que exportam têxteis e produtos agrícolas para os Estados Unidos, podem ter acesso reduzido ao mercado, pois as tarifas desviam o comércio para fornecedores de custo mais alto.
A ação climática também será prejudicada. As tarifas sobre tecnologias de energia limpa, como painéis solares e veículos elétricos, estão dificultando a transição para a energia renovável e ameaçando as metas climáticas globais.
Até mesmo figuras de destaque nos Estados Unidos reconhecem a insensatez: a ex-secretária do Tesouro, Janet Yellen, alertou que as tarifas "prejudicam nossa capacidade de combater a inflação" ao aumentar os preços ao consumidor e reduzir a eficiência econômica.
As tarifas são um imposto oculto sobre os consumidores. Os Estados Unidos deveriam abraçar essa verdade, abandonar a lógica autodestrutiva das "tarifas recíprocas" e voltar a participar da comunidade global na promoção de um sistema comercial justo e baseado em regras, que beneficie todas as nações, e não apenas alguns poucos privilegiados.
Nota do editor: Xin Ping é comentarista de assuntos internacionais, escrevendo regularmente para a Agência de Notícias Xinhua, Global Times, China Daily, CGTN, etc. Ele pode ser contatado pelo e-mail xinping604@gmail.com.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente as posições da Agência de Notícias Xinhua.