O piloto chinês, Lu Jin, se prepara para largada no Rali Safari do Quênia 2025 em Nairóbi, Quênia, no dia 20 de março de 2025. (Xinhua/Li Yahui)
Lu Jin, 49 anos, virou o único chinês a terminar o Rali Safari do Quênia 2025, realizando seu sonho após 32 anos de esforço e dedicação.
Nairóbi, 10 abr (Xinhua) -- Lu Jin esperava por este momento há 32 anos.
Enquanto seu carro de corrida cinza, numerado KDK571E, cruzava a linha de chegada no final de março no Rali Safari do Quênia, a terceira etapa do Campeonato Mundial de Rali da FIA de 2025, o sonho de infância de Lu de competir em um rali internacional finalmente virou realidade.
Em sua estreia em uma rota do WRC, Lu, o único participante chinês no rali no Parque Nacional Hell's Gate, perdeu 9 kg para atingir o limite de peso de 72 kg do evento, se alimentando com três pequenas tigelas de sopa de macarrão por dia e enganando a fome com água e pedaços de chocolate de vez em quando.
Os rigores da modificação do carro também o ajudaram a atingir o peso necessário em apenas 25 dias.
Na semana que incluiu os quatro extenuantes dias de corrida, Lu mal conseguiu dormir 24 horas no total.
No entanto, por trás de todos esses esforços, o relógio e o placar não importavam para ele, o que importava era cruzar a linha de chegada.
O piloto chinês, Lu Jin, se prepara em seu carro de corrida na linha de largada do Rali Safari do Quênia 2025, em Nairóbi, Quênia, no dia 20 de março de 2025. (Xinhua/Li Yahui)
O interesse começou no final do outono de 1993, quando Lu assistiu ao seu primeiro evento de automobilismo, o Rali Hong Kong-Beijing, em Shijiazhuang, capital da província de Hebei, no norte da China.
"Fiquei impressionado como se tivesse visto um OVNI pousar", lembrou Lu, agora com 49 anos.
Aquela cena continua na minha cabeça, os veículos pilotados por lendas como Lu Ningjun e Colin McRae avançando ruidosamente em direção ao centro da cidade de Shijiazhuang, com os fachos ofuscantes de seus faróis cortando o crepúsculo.
Desde então o esporte virou uma obsessão. Ao atingir a maioridade, Lu tirou a carteira de motorista para ajudar nos negócios da família, aprendeu a consertar carros com o pai e, secretamente, aprimorou suas habilidades no automobilismo.
Sem treinamento formal, ele assistiu a vídeos de como Jimmy McRae, pai do campeão mundial de rali de 1995, Colin McRae, treinava Lu Ningjun, um dos pilotos de rali mais experientes da China.
Sem condições para comprar um carro com tração nas quatro rodas turbo, Lu Jin aperfeiçoou seu drifting em uma pequena picape. Sem qualificação para competir oficialmente, ele desenhou pistas em uma autoescola e alugou carros para correr com amigos.
"Se você perguntar se eu tinha outros sonhos na época, a resposta é não", disse Lu, cuja vida gira em torno de carros até hoje.
Instrutor de direção, dono de uma oficina de carros personalizados, colunista de resenhas de carros, piloto de drifting contratado e organizador de eventos de automobilismo, Lu tem vasta experiência no mundo automotivo, além de prêmios provinciais e nacionais em drifting e corridas de curta distância.
Ele tinha perdido uma vaga no paddock internacional. Sua inscrição para o Rali Safari 2024 foi cancelada no último minuto devido a um atraso no envio de peças.
Uma nova oportunidade surgiu em 2025, quando o WRC flexibilizou as regras de inscrição.
Lu Jin corta peças para seu carro de corrida em sua oficina em Mogotio, Quênia, no dia 6 de março de 2025. (Xinhua/Li Yahui)
Do projeto de peças e contato com fábricas no exterior à gestão de remessas, montagem e certificação, Lu cuidou de cada detalhe pessoalmente. Em 28 dias, ele converteu um veículo de fábrica em um carro de rali em conformidade com as normas da FIA, com a ajuda de quatro técnicos locais.
Sua residência, localizada a mais de 200 km a noroeste de Nairóbi, capital do Quênia, também servia como garagem, isolada ao longo de uma rodovia e cercada por vastos campos.
Dias consertando um carro, para ele, eram como "ser um monge em um templo", pois somente quem realmente entende de automóveis pode aproveitar essa alegria. "O automobilismo te impulsiona a estabelecer constantemente novos objetivos", disse Lu.
"Já enfrentei capotamentos, batidas, tudo. Fiz cada parafuso deste carro com minhas próprias mãos. Confio nele e acredito em mim mesmo para pilotá-lo", sorriu. "Não pretendo ser o mais rápido nem quero destruir o carro. Apenas terminar a corrida, esse é o maior sucesso que desejo".
O Rali Safari do Quênia percorreu 1.397,91 km, incluindo 21 trechos especiais ao longo de 383,1 km, e atravessou terrenos como lama, rochas, pastagens, areia e travessias de água.
Em meio à temporada de chuvas no Quênia, o clima imprevisível apimentou ainda mais a corrida. "É muito difícil avaliar o nível de aderência que você tem e o que vai encontrar. A chuva foi tão forte que mudou as condições muito rapidamente", disse Elfyn Evans, da Toyota, à Xinhua após vencer o rali.
Furos, perda de controle, giros e problemas técnicos atormentaram a elite. Entre os azarões de classificação mais baixa, o estreante Lu escapou não escapou dos desafios.
Um problema na fiação causou mau funcionamento na caixa de câmbio, forçando-o a comprometer o segundo dia para reparos.
Para incentivar os pilotos a superar as adversidades, o regulamento do rali permite que competidores que já haviam desistido voltem à corrida.
Quando Lu retornou no terceiro dia, a etapa "Guerreiro Adormecido", de 26,97 km, sofreu outro duro golpe.
Poços de lama com meio metro de profundidade, buracos densos cheios de água e rochas irregulares formaram vários obstáculos. Lu e sua equipe de boxes trabalharam até as duas da manhã.
Seis horas depois, a etapa final começou. Felizmente, Lu atingiu seu auge na seção que mais desejava conquistar: Hell's Gate.
O Parque Nacional Hell's Gate recebeu esse nome devido a uma estreita fenda nos penhascos. Dentro dele, há um trecho de 10,53 km que tem a última etapa antes da linha de chegada, marcado por encostas íngremes, curvas com pontos cegos e areia grossa.
"Depois de descer a montanha em segurança, uma longa reta o aguarda", disse Lu. "É só acelerar forte".
Voando a 140 a 150 km/h com o ronco estrondoso do motor preenchendo seus ouvidos, Lu disse que se concentrou apenas nas rotações, sem pensar em mais nada.
Ele estava totalmente concentrado, usando cada detalhe de sua habilidade de pilotagem e liberando todo o potencial do carro.
O piloto chinês, Lu Jin (esquerda), e seu copiloto, Michael Kirui, posam com troféu de finalista na linha de chegada do Rali Safari do Quênia 2025 em Naivasha, Quênia, no dia 23 de março de 2025. (Foto cedida pelo entrevistado)
Enquanto o motor silenciava na linha de chegada, 32 anos de paixão, um mês de preparação incansável e quatro dias sem dormir viraram um resultado simples, porém significativo: o troféu de finalista.
Em um esporte em que a sensação finlandesa Kalle Rovanpera se tornou o mais jovem campeão mundial com apenas 22 anos, Lu não se arrependeu de sua modesta e tardia conquista, mas apenas sentiu orgulho por se manter fiel ao seu ritmo.
"O automobilismo exige tempo e experiência. Quando tudo amadurece, você pode tentar, e os resultados são confiáveis. O rali não é para diversão, mas uma verdadeira batalha que exige planejamento cuidadoso", disse ele.
Será que ele voltará?
"Claro! Por que não?", respondeu Lu. "Já tenho um plano. A partir de maio, começaremos a reconstruir o carro. No ano que vem, vou garantir que este carro com tração nas duas rodas alcance os carros com tração nas quatro rodas".