Ex-líder do partido de extrema direita francês, Marine Le Pen, fala em debate sobre moções de desconfiança contra o governo na Assembleia Nacional em Paris, França, no dia 4 de dezembro de 2024. (Foto por Aurelien Morissard/Xinhua)
Esperava-se que Le Pen fizesse sua quarta tentativa de ser a primeira presidente da República Francesa em 2027. No entanto, a decisão de inelegibilidade frustrou suas esperanças ter a vitória que muitos esperavam.
Paris, 1º abr (Xinhua) -- O Tribunal de Paris considerou na segunda-feira Marine Le Pen, líder do partido de extrema direita Rally Nacional (RN) no parlamento francês, culpada de desvio de fundos públicos pagando assistentes parlamentares europeus fantasmas. A decisão imediatamente a proíbe de concorrer a cargos públicos por cinco anos.
Le Pen saiu furiosa do tribunal antes de ouvir sua sentença. Falando ao canal de televisão pública francês TF1 na noite de segunda-feira, ela garantiu que "apelaria o mais rápido possível" e não se aposentaria da vida política mesmo se fosse impedida de concorrer à presidência.
Esperava-se que Le Pen fizesse sua quarta tentativa de ser a primeira presidente da República Francesa em 2027. No entanto, a decisão de inelegibilidade frustrou suas esperanças de ter a vitória que muitos esperavam.
PELO O QUE LE PEN FOI CONDENADA?
A promotoria francesa acusou Le Pen, junto com outros oito membros do RN, de desviar fundos públicos durante seu mandato como membros do Parlamento Europeu entre 2004 e 2017.
Durante o julgamento de segunda-feira, o Tribunal disse que Le Pen e seus colegas fizeram o parlamento pagar salários a indivíduos que estavam trabalhando, parcial ou totalmente, para o partido de extrema direita francês em vez do próprio parlamento.
O Tribunal disse que o total de fundos desviados foi de 2,9 milhões de euros (3,1 milhões de dólares americanos), acrescentando que Le Pen sozinha desviou cerca de 474.000 euros.
O Tribunal condenou Le Pen a quatro anos de prisão, dois anos suspensos e os dois restantes a serem cumpridos em domicílio com tornozeleira eletrônica. Ela também foi multada em 100.000 euros.
A proibição de cinco anos de cargos públicos não pode ser suspensa por apelação, embora ela possa terminar seu mandato no parlamento.
"Luto por vocês há trinta anos. Por trinta anos, também luto contra injustiças. Vou continuar fazendo isso até o fim", disse Le Pen em sua conta no X na noite de segunda-feira.
Captura de tela da postagem de Le Pen na plataforma de mídia social X na noite de segunda-feira. (Xinhua)
ARMADILHA DE OPONENTE POLÍTICO?
Entre os nove membros do RN condenados na segunda-feira, Le Pen recebeu a sentença mais severa devido ao seu papel "no centro" de um sistema que desviou fundos públicos da União Europeia, disse o juiz.
Em sua entrevista com a TF1 na noite de segunda-feira, Le Pen observou que o julgamento lançado contra ela e seu partido foi uma conspiração de seus oponentes políticos.
"Não há enriquecimento pessoal, não há corrupção, não há nada disso", disse ela, chamando o veredito de "desvio" de um "desentendimento administrativo" com o Parlamento Europeu.
Le Pen foi a principal rival política do presidente Emmanuel Macron nas últimas duas eleições. Em 2022, Macron a derrotou com 58,5% dos votos. Em 2017, ele a venceu em um segundo turno com 66,10%. Le Pen havia declarado que a corrida presidencial de 2027 seria sua quarta e última tentativa de presidência francesa.
Se o apelo de Le Pen não a livrar antes da eleição presidencial de 2027, sua única opção será apostar o futuro do RN na estrela em ascensão Jordan Bardella, atual presidente do partido RN.
De acordo com o Le Monde, Bardella aumentou a popularidade do RN. Em 2024, o RN quebrou seus recordes nas eleições para o Parlamento Europeu com 31,37% dos votos e ganhou um número sem precedentes de assentos na Assembleia Nacional Francesa.
"No entanto, até agora por trás da fachada brilhante, Bardella falhou em transformar o RN em um ‘partido de governo’", disse o Le Monde.
Bardella, protegido de Le Pen, pediu aos apoiadores de Le Pen que realizassem uma mobilização "pacífica" na tarde de segunda-feira. Ele também lançou uma petição em apoio a Le Pen, chamando sua decisão de inelegibilidade de "escândalo democrático".
Marine Le Pen, candidata do partido de extrema direita Rally Nacional, comparece a um comício após segundo turno presidencial em Paris, França, no dia 24 de abril de 2022. (Xinhua)
LE PEN TEM APOIO?
Líderes europeus de direita mostraram apoio a Le Pen após a decisão do tribunal. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, postou "Estou com Marine!" em sua conta no X, enquanto o vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, disse que a condenação de Le Pen foi "uma declaração de guerra de Bruxelas".
O político holandês, Geert Wilders, disse no X que ficou "chocado" com o "veredito incrivelmente rígido" contra Le Pen. "Apoio e acredito 100% nela, também confio que ela vencerá a apelação e será presidente da França", escreveu ele.
Do outro lado do Atlântico, a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tammy Bruce, disse na segunda-feira que a "exclusão de pessoas do processo político é preocupante" quando um repórter perguntou sobre Le Pen.
"Precisamos fazer mais como Ocidente do que só falar sobre valores democráticos. Devemos vivê-los", disse ela.
Na França, as reações de diferentes campos políticos variam. De acordo com o Le Figaro, o primeiro-ministro François Bayrou, aliado centrista de Macron, disse que ficou "preocupado" com a decisão de inelegibilidade.
Jean-Luc Melenchon, que lidera o partido de extrema esquerda La France Insoumise (LFI), ainda não comentou. Mas em meados de março, ele disse aos repórteres que uma decisão de inelegibilidade imediata, sem esperar pelo julgamento do recurso, "não seria justa".
Falando em sua conta no X, o coordenador nacional do LFI, Manuel Bompard, disse na segunda-feira que o partido "reconhece a decisão do tribunal, mesmo que nos recusemos a princípio a aceitar que seja impossível para qualquer um apelar".
"La France Insoumise nunca teve a opção de usar um tribunal para se livrar do Rally Nacional. Estamos lutando contra isso nas seções eleitorais e nas ruas", disse ele.
Além da LFI, os partidos de esquerda geralmente apoiam a decisão do tribunal. O ex-presidente François Hollande, agora deputado pelo Partido Socialista, disse que o respeito pela independência judicial deve ser garantido.
"Os franceses podem ser paradoxais. Eles acham que a justiça é muito frouxa com os poderosos. E no dia em que são condenados, acham que é uma injustiça. Mas a justiça deve ser feita", disse ele à BFMTV.