Foto tirada em 19 de março de 2025 mostra a paisagem de Nuuk, capital da Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
Nuuk, Groenlândia, 24 mar (Xinhua) -- "Naquele dia, a cidade inteira de Nuuk se uniu!", disse Gustav Petersen, membro do Naleraq, o segundo maior partido no parlamento da Groenlândia, referindo-se ao protesto contra os EUA realizado em 15 de março.
"Nunca imaginei que o que reuniria os groenlandeses seria um protesto contra os Estados Unidos", disse ele.
A Groenlândia, a maior ilha do mundo e um território autônomo da Dinamarca, testemunhou uma rara manifestação em grande escala contra a renovada reivindicação territorial do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a ilha.
De acordo com a mídia local, mais de 1.000 pessoas participaram do protesto, um número impressionante para Nuuk, uma cidade com uma população de apenas 15.000 habitantes.
Carregando faixas com os dizeres "Não estamos à venda", "Groenlândia para os groenlandeses" e "Fora EUA", os manifestantes marcharam do centro da cidade até o Consulado dos EUA em Nuuk, enviando uma mensagem clara de oposição às ambições de Washington.
Petersen disse que, embora os groenlandeses tenham tido preferências políticas variadas durante as eleições parlamentares de 11 de março, houve um ponto de concordância unânime: "Não queremos ser americanos! Os Estados Unidos não podem tratar a Groenlândia como uma mercadoria a ser comprada à vontade".
O protesto foi desencadeado pelos comentários de Trump na Casa Branca, onde ele reiterou seu desejo de obter controle sobre a Groenlândia durante uma reunião com o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte, Mark Rutte. Ele também sugeriu planos de enviar mais tropas americanas para a ilha.
O Consulado dos EUA em Nuuk, uma das missões diplomáticas americanas mais ao norte, permaneceu fechado quando os repórteres da Xinhua o visitaram. "No dia de nosso protesto, ele estava igual: completamente deserto", disse Petersen.
Do lado de fora do consulado, Nikolaj Davidson, morador de Nuuk, que trabalha em um matadouro, expressou sua oposição à proposta de Trump.
"Não quero ser americano, nem minha família nem meus amigos", disse ele. "Quase todos em minha família discordam de Trump. Pelo que sei, a grande maioria dos groenlandeses não quer que a Groenlândia se torne parte dos Estados Unidos. Os sistemas americanos de saúde e bem-estar não são atraentes para nós."
Davidson disse que a principal motivação de Trump são os ricos recursos naturais da Groenlândia. "Assim como o governo dos EUA já fez antes, Trump pode procurar vários pretextos para legitimar a tomada da Groenlândia", alertou.
Oliver Kristensen, um padeiro local, argumentou que a abordagem de Trump é inaceitável. "Se Trump quiser cooperar com a Dinamarca e a Groenlândia, há maneiras melhores de fazer isso. Mas ele escolheu o caminho da agressão", disse ele.
O interesse de Trump pela Groenlândia não é um fato recente. Durante seu mandato anterior, ele propôs publicamente a compra da ilha.
Desde que ganhou seu segundo mandato, Trump tem expressado repetidamente um forte desejo de afirmar o controle sobre a Groenlândia. Ele até enviou seu filho Donald Trump Jr. para visitar a ilha em janeiro.
Os líderes políticos da Groenlândia têm se manifestado em sua oposição. Jens-Frederik Nielsen, líder do partido Demokraatit, o maior partido no parlamento da Groenlândia, atualmente envolvido em negociações de coalizão, condenou as observações de Trump como "inapropriadas". Ele exortou os groenlandeses a se manterem unidos contra as pressões externas dos Estados Unidos.
Mute Egede, primeiro-ministro do governo autônomo da Groenlândia e líder do partido Inuit Ataqatigiit (IA), também denunciou as declarações de Trump e convocou uma reunião de emergência dos líderes do partido.
Autoridades dinamarquesas e da União Europeia também expressaram forte apoio à Groenlândia. O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, disse que a Groenlândia continua fazendo parte da Dinamarca e que não há nenhuma indicação de que os groenlandeses desejem romper os laços com a Dinamarca e se juntar aos Estados Unidos.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a UE apoia a soberania e a integridade territorial da Dinamarca, incluindo a Groenlândia.
Masaana Egede, editor-chefe do jornal Sermitsiaq da Groenlândia, disse que, embora os groenlandeses possam ter opiniões diversas sobre várias questões, a rejeição do controle dos EUA sobre a Groenlândia é um consenso generalizado.
Uma pesquisa da mídia dinamarquesa publicada em janeiro também revelou que 85% dos groenlandeses se opõem à integração aos Estados Unidos.
Homem tira fotos em Nuuk, capital da Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca, em 19 de março de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
Foto tirada em 18 de março de 2025 mostra o prédio do parlamento da Groenlândia em Nuuk, capital da Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
Veículos trafegam em uma rua em Nuuk, capital da Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca, em 19 de março de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
Foto tirada em 19 de março de 2025 mostra a paisagem de Nuuk, capital da Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
Foto tirada em 19 de março de 2025 mostra uma sala de reuniões dentro do prédio do parlamento da Groenlândia em Nuuk, capital da Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca. (Xinhua/Peng Ziyang)
Homem passa pelo prédio do parlamento da Groenlândia em Nuuk, capital da Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca, em 19 de março de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)