Bandeiras da União Europeia tremulam do lado de fora do Edifício Berlaymont, a sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, Bélgica, em 29 de janeiro de 2025. (Xinhua/Meng Dingbo)
Os analistas observam que, embora a UE busque se libertar da influência dos EUA, sua relutância em abandonar totalmente sua dependência de segurança da OTAN tornaria a jornada para atingir esse objetivo longa e difícil.
Bruxelas, 24 mar (Xinhua) -- A cúpula da União Europeia em Bruxelas foi concluída na última quinta-feira, com os líderes expressando apoio a um documento branco que pede o reforço da defesa europeia.
Entretanto, os Estados-membros da UE continuam divididos sobre como defender a Ucrânia e garantir sua própria segurança. Os analistas observam que, à medida que os compromissos de defesa dos EUA mudam e a Europa permanece à margem das negociações entre a Rússia e a Ucrânia, o impulso para a autonomia de defesa está ganhando força. No entanto, ainda é incerto se essa meta poderá ser totalmente alcançada até 2030.
DIVERGÊNCIAS SOBRE AJUDA À UCRÂNIA
A crise ucraniana e a posição do novo governo dos EUA em relação à Ucrânia aumentaram muito a consciência de segurança da Europa, tornando a defesa da Ucrânia um tópico importante na cúpula.
"A ordem internacional está passando por mudanças de uma magnitude nunca vista desde 1945. Este é um momento crucial para a segurança europeia", disse a alta representante da UE para Assuntos Externos e Política de Segurança, Kaja Kallas, em Bruxelas.
Antes da cúpula, Kallas propôs um adicional de 40 bilhões de euros (US$ 43,38 bilhões) em ajuda militar à Ucrânia. A Itália, a Espanha e a Hungria se opuseram à ideia, enquanto algumas nações do leste e do norte da Europa expressaram apoio. A posição da França não ficou clara.
Kallas reconheceu que vários países da UE tinham reservas sobre as propostas devido a restrições financeiras. Ela disse que, em vez disso, a UE está mais focada em garantir um objetivo mais imediato: fornecer à Ucrânia 5 bilhões de euros, muito menos do que os 40 bilhões de euros propostos, para comprar munição para atender às suas necessidades urgentes.
Os analistas acreditam que as divisões internas da UE em relação à Ucrânia podem enfraquecer a influência da Europa nas negociações de paz Rússia-Ucrânia em andamento.
A opinião pública indica que, além da evidente oposição da Hungria, outros países membros da UE não conseguiram chegar a um acordo sobre o valor específico da ajuda militar à Ucrânia. A declaração emitida pelos 26 líderes da UE na cúpula reiterou o apoio à Ucrânia de várias formas, mas não especificou o valor da assistência militar, destacando as crescentes disputas internas.
Jian Junbo, diretor do Centro de Relações China-Europa da Universidade Fudan, sediada em Shanghai, observou que a pressão econômica levou a divergências entre as nações europeias sobre a continuidade do financiamento militar para a Ucrânia. Também há pontos de vista diferentes sobre como levantar fundos e enviar forças de paz para a Ucrânia ou estender o "guarda-chuva nuclear" da França para o país - questões sobre as quais não se chegou a um consenso.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky (na tela) discursa na cúpula da UE por meio de um link de vídeo, em Bruxelas, Bélgica, em 20 de março de 2025. Zelensky pediu na quinta-feira aos líderes da União Europeia que aprovem prontamente um pacote de pelo menos 5 bilhões de euros (US$ 5,45 bilhões) para projéteis de artilharia. (União Europeia/Divulgação via Xinhua)
CONFIANÇA EM DECLÍNIO
Um artigo recente no site da revista Atlantic argumenta que a dependência de segurança de longa data da Europa em relação aos Estados Unidos é insustentável. Após as recentes tensões transatlânticas, o título do artigo não se detém: "A Europa não pode mais confiar nos EUA".
A Comissão Europeia apresentou o "Livro Branco sobre a Defesa Europeia/Prontidão 2030" na última quarta-feira, pedindo um maior investimento no setor de defesa e aquisições conjuntas para garantir que a Europa tenha capacidades de defesa robustas até 2030. Na cúpula, os líderes de todos os 27 Estados-membros da UE concordaram, em princípio, com os objetivos do documento.
"A arquitetura de segurança com a qual contávamos não pode mais ser considerada garantida. A Europa está pronta para dar um passo à frente. Precisamos investir em defesa, fortalecer nossas capacidades e adotar uma abordagem proativa em relação à segurança", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
O Livro Branco está alinhado com o plano anterior de 800 bilhões de euros de von der Leyen, "ReArm Europe"(ReArmar Europa), que busca mobilizar recursos da UE para fortalecer a autonomia de defesa.
Os analistas acreditam que a mudança de política do governo dos EUA em relação à Ucrânia e à Europa fez com que os líderes europeus priorizassem a autonomia de defesa e a independência estratégica.
Um artigo recente no site do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, no Reino Unido, argumentou que "com os EUA não sendo mais um parceiro de defesa confiável, a Europa deve se mobilizar para dar apoio à Ucrânia e resolver suas próprias dependências dos EUA".
JORNADA DIFÍCIL PELA FRENTE
Os analistas observam que, embora a UE busque se libertar da influência dos EUA, sua relutância em abandonar totalmente sua dependência de segurança da OTAN tornaria a jornada para atingir esse objetivo longa e difícil.
Paul van Hooft, pesquisador do think tank americano RAND, argumenta que, se os Estados Unidos se retirarem da Europa, as capacidades de dissuasão nuclear da França e do Reino Unido ainda serão insuficientes para proteger todo o continente.
Sem mencionar que os países da UE ainda dependem muito das armas dos EUA; portanto, é improvável a criação de um setor de defesa independente em poucos anos. Uma pesquisa do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo mostra que os Estados Unidos foram responsáveis por 64% das importações de armas pelos países europeus da OTAN em 2020-2024, em comparação com 52% em 2015-2019.
Além disso, atualmente, a Europa carece de sistemas de armas padronizados. Consequentemente, em um futuro próximo, várias nações europeias estão inclinadas a comprar armas padronizadas dos EUA em vez de alternativas fabricadas na Europa.
Por fim, os problemas de financiamento também prejudicarão seriamente os esforços da UE para obter autonomia de defesa. De acordo com diplomatas da UE citados pelo jornal The Guardian, o plano histórico de 800 bilhões de euros seria difícil de ser realizada, pois países economicamente desenvolvidos, como a Alemanha e a Holanda, não estão dispostos a contrair empréstimos apoiados pela UE, e outros Estados-membros, especialmente no sul da Europa, relutam em aumentar a dívida para gastos com defesa.