Foto tirada em 22 de maio de 2024 mostra a Casa Branca em Washington, D.C., nos Estados Unidos. (Xinhua/Liu Jie)
"Então o que essa história levanta é a questão: a CIA foi incrivelmente e atrozmente incompetente quando se trata de Oswald, ou Angleton estava realmente comandando uma operação envolvendo Oswald?"
Washington, 20 mar (Xinhua) -- O Arquivo Nacional dos EUA divulgou nesta terça-feira milhares de páginas de registros desclassificados relacionados ao assassinato do ex-presidente John F. Kennedy (JFK) em 1963.
A liberação inicial na terça-feira continha 1.123 registros, totalizando 32.000 páginas. Um lançamento posterior, na noite de terça-feira, continha 1.059 registros, totalizando 31.400 páginas adicionais.
O presidente dos EUA, Donald Trump, disse a repórteres na segunda-feira que a liberação estava próxima, embora ele tenha estimado em cerca de 80.000 páginas. "Temos um volume enorme de documentos, vocês terão muito o que ler", disse ele enquanto visitava o o Centro John F. Kennedy de Artes Cênicas, em Washington.
O QUE HÁ NOS ARQUIVOS?
Os documentos recém-liberados incluem um memorando que, durante décadas, ajudou a alimentar a especulação de que a Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) estava de alguma forma envolvida no assassinato de JFK.
Conhecido como Memorando Schlesinger, o documento de 15 páginas, datado de 10 de junho de 1961, foi escrito por Arthur Schlesinger Jr., assessor de JFK, e advertia Kennedy de que a CIA estava interferindo em sua capacidade de dirigir a política externa.
Entretanto, não foram encontradas evidências no memorando de que a CIA conspirou com o assassino de JFK, Lee Harvey Oswald, para matar Kennedy.
Enquanto isso, várias das páginas recém-divulgadas mostraram que a CIA estava grampeando telefones na Cidade do México entre dezembro de 1962 e janeiro de 1963 para monitorar as comunicações dos soviéticos e cubanos em suas instalações diplomáticas, que Oswald visitou nos meses anteriores ao assassinato.
Jefferson Morley, ex-repórter do jornal The Washington Post, disse em uma entrevista ao canal MSNBC que o memorando e outros documentos são mais uma prova de que Kennedy desconfiava profundamente da CIA, que tinha Oswald sob vigilância muito antes de Kennedy ser morto.
O falecido James Jesus Angleton, um dos membros fundadores da CIA, havia colocado Oswald sob vigilância a partir de novembro de 1959 e estava "monitorando sua política, sua vida pessoal, suas viagens ao exterior, seus contatos", disse Morley.
Angleton tinha um arquivo de 180 páginas "sobre Oswald em sua mesa uma semana antes de Kennedy ir para Dallas" em novembro de 1963, disse Morley, citando documentos do governo que haviam sido divulgados anteriormente.
"Então o que essa história levanta é a questão: a CIA foi incrivelmente e atrozmente incompetente quando se trata de Oswald, ou Angleton estava realmente comandando uma operação envolvendo Oswald?" disse Morley.
"Não temos a resposta para essa pergunta porque ainda há alguns registros relevantes a serem divulgados.
Por exemplo, um arquivo de outro oficial da CIA que estava envolvido na vigilância pré-assassinato de Oswald ainda é mantido em segredo. Esse é um ótimo primeiro começo".
Ainda assim, nada nos primeiros documentos examinados invalida a conclusão de que Oswald era o único atirador.
QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO?
Apesar da conclusão da comissão sobre o assassinato de Kennedy, dúvidas e teorias da conspiração perduraram por décadas, motivadas por inconsistências, relatos de testemunhas oculares e investigações adicionais.
Muitos tiros suspeitos vieram de várias direções, especialmente da colina gramada em frente à carreata, o que sugere a existência de um segundo atirador. O filme de Zapruder, que capturou inesperadamente o assassinato, mostrando a cabeça de Kennedy sacudindo para trás, apoia a teoria de um tiro frontal, contradizendo a narrativa de tiro traseiro da comissão.
Alguns acreditam que a CIA orquestrou ou não conseguiu impedir o assassinato devido às tensões com Kennedy sobre a invasão da Baía dos Porcos e a política de Cuba.
Em 1975, um comitê do Senado dos EUA expôs os planos da CIA para assassinar o falecido líder cubano Fidel Castro, levantando suspeitas de retaliação ou dissidência interna. Um memorando de 1963 revelado em publicações anteriores mostra um oficial da CIA preocupado com as atividades de Oswald na Cidade do México, onde ele visitou as embaixadas soviética e cubana semanas antes do assassinato.
Os críticos argumentam que a CIA ocultou essas informações da comissão, pois os contatos comunistas de Oswald, possivelmente monitorados ou manipulados pela CIA, sugerem uma conspiração ou negligência mais ampla.
Outros argumentam que conexões com a máfia, irritadas com a repressão do ex-procurador-geral Robert Kennedy, podem estar envolvidas no assassinato. Alguns também suspeitam que o então vice-presidente Lyndon B. Johnson, que se tornou presidente após a morte de Kennedy, pode ter participado do assassinato para tomar o poder.
Evidências adulteradas ou ausentes aumentam o mistério. Há muito se suspeita que itens importantes como o cérebro de Kennedy (desaparecido desde a autópsia) e a teoria da "bala mágica" tenham sido manipulados para apoiar a conclusão do atirador solitário.
A "bala mágica" teria causado vários ferimentos em Kennedy e John Connally, que também estava na limusine durante o assassinato. No entanto, essa teoria é amplamente vista como implausível. Em 2023, um ex-agente do Serviço Secreto declarou que encontrou uma bala na limusine, não em uma maca, contradizendo diretamente o Relatório Warren. O passado obscuro de Oswald e sua morte repentina também deixam seu papel real incerto.
O QUE ESTÁ OCULTO NAS VERSÕES ANTERIORES?
Os arquivos sobre o assassinato de JFK vêm sendo divulgados há anos, cada lançamento acrescentando camadas à história, mas nunca reescrevendo totalmente a narrativa oficial do atirador solitário. Em vez disso, eles pintaram um quadro de erros burocráticos e lacunas persistentes nas informações.
Cada lote de documentos deu mais atenção aos movimentos de Oswald, especialmente seu tempo na Cidade do México e a vigilância da CIA sobre ele. Por exemplo, os lançamentos de 2017 e 2021 mostraram que a CIA havia grampeado suas ligações e rastreado suas visitas a diplomatas soviéticos e cubanos. Mas esses detalhes apontavam mais para erros de inteligência e burocracia do que para uma grande conspiração. A relutância da CIA em informar completamente o Departamento Federal de Investigação ou a comissão continua surgindo, mas provas concretas de um segundo atirador ou envolvimento mais profundo da agência permanecem elusivas.
Mesmo com todos os documentos disponíveis, ainda faltam peças importantes. Alguns registros, como transcrições do grande júri e arquivos fiscais, permanecem secretos ou redigidos. O lançamento de 2023, por exemplo, forneceu mais informações sobre as escutas telefônicas da CIA, mas não revelou nenhuma bomba. Essas lacunas remanescentes mantêm vivas as teorias da conspiração à medida que as pessoas preenchem os espaços em branco.
A lenta liberação de documentos, muitas vezes atrasada por revisões de segurança, apenas alimentou a curiosidade e o ceticismo do público. Os historiadores, em sua maioria, veem os arquivos apoiando a história oficial com burocracia extra, mas muitas pessoas ainda têm dúvidas.
Em março de 2025, cerca de 99% dos cerca de 320.000 documentos estavam disponíveis, sendo o último lote o mais completo até o momento. Mas o assassinato de JFK continua sendo um tema quente, com seus mistérios ainda em debate.