Escritório de instituição financeira é fotografado em rua em Bruxelas, Bélgica, no dia 15 de novembro de 2023. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
Em 2024, Macron fez um importante discurso sobre a autonomia estratégica da Europa, pedindo aos europeus que sejam lúcidos e "reconheçam que a Europa é mortal. Ela pode morrer. Tudo depende das nossas escolhas, que precisam ser feitas agora".
Paris, 28 jan (Xinhua) -- Quando Donald Trump foi empossado para seu segundo mandato como presidente dos EUA no começo do mês, os europeus mergulharam em uma sensação coletiva de ansiedade.
Isso não surgiu apenas do impacto potencial da nova administração dos EUA nas relações transatlânticas, mas também de uma crise de identidade mais complexa entre os europeus, exacerbada pela falta de autonomia estratégica.
CONTINENTE ANSIOSO
Quando o Partido Republicano dos EUA nomeou Trump como candidato presidencial em 2024, a Fundação Prospectiva e Inovação da França realizou um fórum geopolítico. Durante o evento, um participante fez referência ao livro "A Geopolítica da Emoção", que argumenta que três emoções humanas fundamentais, sendo medo, humilhação e esperança, estão remodelando o mundo.
De acordo com o autor, a Ásia personifica a esperança, muitos países em desenvolvimento vivenciam a humilhação e a Europa é um exemplo de medo.
Em junho de 2021, o então presidente dos EUA, Joe Biden, participou da cúpula do G7 em Cornwall, Reino Unido, marcando seu primeiro encontro com os líderes dos aliados dos EUA. Durante a cúpula, ele declarou: "A América voltou", ao que o presidente francês Emmanuel Macron respondeu: "Por quanto tempo?".
A Europa teme há muito tempo o declínio de sua civilização, e a mudança de governo em Washington só aumentou essa ansiedade.
Em 2024, Macron fez um importante discurso sobre a autonomia estratégica da Europa, pedindo aos europeus que sejam lúcidos e "reconheçam que a Europa é mortal. Ela pode morrer. Tudo depende das nossas escolhas, que precisam ser feitas agora".
Em novembro passado, após o anúncio dos resultados das eleições de 2024 nos EUA, Sophie Pedder, chefe do escritório de Paris da The Economist, disse na mídia social X: "A França tem razão".
Pessoas passam por pintura de rua em calçada próxima à sede da Comissão Europeia em Bruxelas, Bélgica, no dia 27 de setembro de 2021. (Xinhua/Zhang Cheng)
MEDOS MULTIFACETADOS
Em termos de segurança, tendo apoiado a Ucrânia por três anos, a Europa teme o abandono do novo governo dos EUA ou um acordo de paz alcançado com a Rússia sem o envolvimento da Europa.
Antes da eleição presidencial dos EUA em 2024, o primeiro-ministro polonês Donald Tusk disse em sua conta no X: "Seja qual for o resultado, a era da terceirização geopolítica acabou".
Para Alexandra de Hoop Scheffer, presidente em exercício do Fundo Marshall Alemão dos Estados Unidos (GMF, na sigla em inglês), as observações de Tusk revelaram a gravidade da situação.
Na frente econômica, a Europa teme a vara tarifária dos EUA.
"Do ponto de vista da América, a UE nos trata muito injustamente e mal", disse Trump em discurso virtual no Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, acrescentando: "E faremos algo a respeito".
Ian Lesser, analista político do GMF, disse que as ameaças tarifárias de Trump são reais e que a Europa está longe de estar pronta.
"Eles não estão preparados, ninguém está. Essa abordagem muito diferente do comércio global afeta muitos pilares da economia internacional, que evoluiu ao longo de décadas", disse ele à BBC.
Politicamente, a Europa continua cautelosa com a interferência dos EUA.
O bilionário americano Elon Musk, aliado próximo de Trump, frequentemente comenta sobre os assuntos políticos de muitos países europeus em sua plataforma de mídia social X, incluindo apoio público em muitas ocasiões ao partido de extrema direita alemão Alternativa para a Alemanha.
Além disso, o interesse de Trump em adquirir a Groenlândia soou alarmes por toda a Europa, ressaltando tensões significativas entre os Estados Unidos e seus aliados europeus.
Essa controvérsia, que se concentra na soberania da Groenlândia, atraiu ampla oposição de líderes europeus e gerou preocupações sobre as motivações de Trump, além do futuro das relações transatlânticas.
Falando sobre a nova administração dos EUA, o ex-primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, disse que os compromissos da Europa diante de todos os tipos de acordos com os Estados Unidos não trariam benefícios a ela.
Falando à mídia francesa no dia da posse de Trump, o ministro das Relações Exteriores francês Jean-Noel Barrot disse que o mundo entrou novamente em uma era de "o poder faz a justiça" e a Europa precisa ser forte e aproveitar todos os atributos de seu poder para defender seus interesses.
CHAMADO PARA DESPERTAR POR CONTA PRÓPRIA
Já passou da hora de a Europa se erguer por si mesma, sacudir o medo e despertar por conta própria de forma intensiva, disseram especialistas, acrescentando que o remédio para o medo da Europa é recuperar sua capacidade de tomar suas próprias decisões enquanto age de forma independente.
Como Macron disse em seu discurso de Ano Novo ao exército francês, "Façamos dessa necessidade de autonomia uma oportunidade para um despertar estratégico europeu".
Na semana passada, Macron e o chanceler alemão visitante, Olaf Scholz, destacaram a necessidade de uma Europa mais forte e unida para enfrentar os desafios globais emergentes.
"Cabe aos europeus, e aos nossos dois países, consolidar uma Europa unida, forte e soberana", disse Macron durante uma coletiva de imprensa conjunta após a reunião.