Ex-presidente dos EUA, Donald Trump, (centro) é entrevistado em sala de debate presidencial dos EUA após primeiro debate presidencial com a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, na Filadélfia, Estados Unidos, no dia 10 de setembro de 2024. (Xinhua/Li Rui)
Líderes estaduais se manifestaram contra os comentários expansionistas do presidente eleito dos EUA, Donald Trump.
Washington, 10 jan (Xinhua) – Antes de começar seu segundo mandato, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, fez vários comentários expansionistas, incluindo planos para tornar o Canadá um estado dos EUA, renomear o Golfo do México e assumir o controle do Canal do Panamá e da Groenlândia.
Em resposta, os líderes dos países mencionados se manifestaram, rejeitando firmemente suas alegações.
QUE TAL UMA "AMÉRICA MEXICANA"?
Em entrevista coletiva na terça-feira, Trump anunciou sua intenção de renomear o Golfo do México para "Golfo da América", que ele disse "soar muito bem".
"Vamos mudar porque fazemos a maior parte do trabalho lá, e é nosso", disse Trump. "É adequado, e o México precisa impedir que milhões de pessoas entrem em nosso país".
O ministro da Economia mexicano, Marcelo Ebrard, rejeitou mais tarde na terça-feira a sugestão de Trump de renomear o canal compartilhado.
"Hoje, diria que se nos víssemos em 30 anos, o Golfo do México ainda se chamaria Golfo do México", disse Ebrard.
A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, respondeu à proposta de Trump com sarcasmo. Durante sua coletiva de imprensa diária na quarta-feira, com um mapa-múndi de fundo, Sheinbaum propôs brincando que a América do Norte fosse renomeada como "América Mexicana" ou "América dos Mexicanos", citando um documento de 1814 anterior à constituição do México que usava esse nome para a região.
"Parece bom, não?", disse ela.
Sheinbaum também destacou que o Golfo do México é conhecido assim desde 1607, com as Nações Unidas reconhecendo oficialmente o nome.
Edifício do Capitólio dos EUA em Washington, D.C., Estados Unidos, no dia 6 de janeiro de 2025. (Xinhua/Hu Yousong)
GROENLÂNDIA "NÃO ESTÁ À VENDA"
A Groenlândia, maior ilha do mundo com população de aproximadamente 60.000 habitantes, é um território autônomo da Dinamarca. Seus vastos recursos naturais, incluindo petróleo, gás e elementos terrestres raros, juntamente com sua localização no Círculo Polar Ártico, fazem dela um ator-chave na região com grande valor estratégico.
O interesse de Trump na Groenlândia remonta ao seu primeiro mandato presidencial. Em 2019, ele propôs comprar o território, uma medida que a Dinamarca rejeitou rapidamente e considerou "absurda" pela primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen.
Na terça-feira, Trump disse que não descartaria o uso de medidas militares ou econômicas para adquirir a ilha. "Precisamos da Groenlândia para fins de segurança nacional", declarou ele, ameaçando impor altas tarifas à Dinamarca.
A Groenlândia deixou claro que a ilha "não está e nem estará à venda", disse Frederiksen na terça-feira. "Não é uma boa ideia lutar entre si com meios financeiros quando somos aliados e parceiros próximos".
Em entrevista coletiva na quinta-feira à noite, a primeira-ministra mencionou que o governo dinamarquês tentou um telefonema com Trump após seus comentários controversos sobre a Groenlândia, mas nenhuma resposta oficial foi recebida.
Frederiksen acrescentou que atualmente a Dinamarca não tem motivos para acreditar que Trump agiria de acordo com suas declarações, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Lars Lokke Rasmussen, disse: "Precisamos levá-lo a sério, mas não literalmente".
Alguns líderes europeus também alertaram contra os comentários recentes de Trump sobre a Groenlândia.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que a inviolabilidade das fronteiras é um princípio fundamental do direito internacional, que é valido a todos os países, independentemente de seu tamanho ou poder. Ele disse que, nas discussões com parceiros europeus, houve falta de entendimento sobre as declarações recentes dos Estados Unidos.
O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, alertou sobre o ressurgimento das políticas de "o poder faz o certo", pedindo à Europa que reforce sua força. Falando à rádio France Inter, Barrot observou que a Groenlândia é um "território da União Europeia e da Europa".
"Sem dúvidas a União Europeia não deixaria que outras nações do mundo, independentemente de quem sejam, atacassem suas fronteiras soberanas", disse ele.
O primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Store, alertou na quinta-feira sobre a potencial ameaça à unidade da OTAN e à estabilidade europeia.
"É inaceitável sugerir o uso de força militar contra um aliado ou implicar intenções de reivindicar territórios sob a soberania de outra nação", disse Store à emissora nacional NRK.
Foto de drone mostra navio de carga passando pelo Canal do Panamá perto da Cidade do Panamá, Panamá, no dia 28 de agosto de 2024. (Xinhua/Li Muzi)
PROPRIEDADE DO CANAL DO PANAMÁ "NÃO É NEGOCIÁVEL"
Em meados de dezembro, Trump mencionou retomar o controle do Canal do Panamá se o Panamá não diminuir as taxas de pedágio para navios dos EUA que cruzam a hidrovia artificial conectando os oceanos Pacífico e Atlântico.
O canal permaneceu sob controle dos Estados Unidos até que os Tratados Torrijos-Carter expiraram em 31 de dezembro de 1999, quando os Estados Unidos devolveram a administração completa do canal ao Panamá.
O Panamá repreendeu repetidamente as ameaças de Trump. "Quero expressar precisamente que cada metro quadrado do Canal do Panamá e sua área adjacente pertencem e continuarão pertencendo ao Panamá", postou o presidente panamenho, José Raul Mulino, na rede social X no mês passado.
Na terça-feira, em resposta aos comentários renovados de Trump sobre o canal, o ministro das Relações Exteriores panamenho, Javier Martinez-Acha, disse aos repórteres: "As únicas mãos que controlam o canal são panamenhas, e continuará assim".
Ex-ministros das Relações Exteriores de vários países latino-americanos mostraram apoio à soberania do Panamá sobre o canal. Em declaração conjunta, mais de 20 ex-ministros das Relações Exteriores de mais de 10 países latino-americanos mencionaram que a soberania e a independência do Panamá sobre o Canal do Panamá "não são negociáveis".
"É indiscutível que a República do Panamá e seu povo administraram o Canal de forma responsável, garantindo sua contribuição ao comércio marítimo internacional e ao desenvolvimento econômico global, o que é símbolo de autonomia e orgulho latino-americanos", observaram eles.
Captura de tela de vídeo mostra primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, falando à mídia em Ottawa, Canadá, no dia 6 de janeiro de 2025. (Foto por Mick Gzowski/Xinhua)
O CANADÁ "NUNCA RECUA"
Desde que venceu a eleição de novembro, Trump levantou repetidamente a ideia de o Canadá virar "o 51º estado". Ele mencionou a questão novamente na terça-feira, sugerindo que consideraria usar pressão econômica para adquirir o Canadá.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau disse que a proposta de Trump era uma tática para desviar a atenção do impacto potencial de suas tarifas propostas.
Trump, que há muito reclama do superávit comercial do Canadá com os Estados Unidos, ameaçou impor uma tarifa de 25% sobre as importações canadenses.
"O que acho que está acontecendo é que o presidente Trump, um negociador muito habilidoso, está fazendo com que as pessoas se distraiam com essa conversa", disse Trudeau à CNN quando questionado sobre os comentários de Trump.
O primeiro-ministro cessante havia dito anteriormente que não há "chances de o Canadá virar parte dos Estados Unidos".
"Trabalhadores e comunidades em ambos os países se beneficiam de ser o maior parceiro comercial e de segurança um do outro", acrescentou ele.
Na terça-feira, a ministra das Relações Exteriores canadense, Melanie Joly, disse no X que os comentários de Trump "mostram total falta de compreensão do que torna o Canadá um país forte", acrescentando: "Nunca recuaremos diante de ameaças".