Aumentam preocupações com nova crise energética na UE com o fim do trânsito do gás russo pela Ucrânia-Xinhua

Aumentam preocupações com nova crise energética na UE com o fim do trânsito do gás russo pela Ucrânia

2024-12-28 13:31:21丨portuguese.xinhuanet.com

Foto tirada em 28 de abril de 2022 mostra o escritório da gigante russa de energia Gazprom em Moscou, Rússia. (Xinhua/Alexander Zemlianichenko Jr.)

Com relação a soluções alternativas no esforço da UE para reduzir a dependência da energia russa, o analista político croata Robert Frank argumentou que a UE há muito tempo luta para encontrar as "respostas certas" e é improvável que o faça desta vez.

Valeta, 26 dez (Xinhua) -- "Se o gás natural russo parar de transitar da Ucrânia para a UE, os países europeus, incluindo a Croácia, sentirão o impacto e talvez uma nova crise de fornecimento de energia possa ocorrer na Europa", Frano Kalac, morador de Zagreb, expressou suas preocupações sobre novos aumentos nos preços do gás.

A Ucrânia anunciou recentemente que não permitiria mais que a Rússia transportasse gás natural por meio de sua rede de gasodutos para os países europeus depois que o acordo de trânsito de cinco anos com a gigante russa de energia Gazprom expirasse no final do ano. As preocupações são compartilhadas não apenas pelos cidadãos europeus, mas também pelas indústrias, que têm enfrentado dificuldades com os altos custos de energia e com o declínio da competitividade desde que a UE procurou reduzir sua dependência da energia russa após a eclosão do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

Apesar dos esforços, a dependência da UE em relação ao gás natural russo provavelmente persistirá no futuro próximo em meio a desafios como os altos custos de energia, uma recuperação econômica lenta e divisões entre os Estados-membros.

PREOCUPAÇÕES COM ABASTECIMENTO

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reafirmou a recusa do país em estender o acordo de trânsito depois de se reunir com os líderes da UE em Bruxelas em 19 de dezembro, observando que a proibição se aplicaria a todos os fluxos de gás "provenientes da Rússia". No mesmo dia, o presidente russo Vladimir Putin confirmou que não haveria um novo acordo com Kiev.

De acordo com o acordo atual, o gás que transita pela Ucrânia é responsável por cerca de metade das exportações de gasodutos da Rússia para a UE. Em 2023, cerca de 15 bilhões de metros cúbicos de gás foram transportados pela Ucrânia para a Europa. Quando o acordo expirar, o gasoduto Turkish Stream através do fundo do Mar Negro se tornará a única rota restante para o transporte de gás russo para a Europa.

O comissário europeu para a Energia e a Habitação, Dan Jorgensen, disse recentemente que Bruxelas está "se preparando" para uma suspensão, o que "não é algo que surpreenda". No entanto, o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, alertou sobre a iminência de uma crise de gás.

A Eslováquia importa cerca de 3 bilhões de metros cúbicos de gás natural da Rússia via Ucrânia anualmente, cobrindo quase dois terços de sua demanda. Durante a visita surpresa de Fico a Moscou no domingo, Putin teria expressado sua disposição de continuar fornecendo gás à Eslováquia, mas Fico reconheceu que isso seria "praticamente impossível" sem que a Ucrânia renovasse o acordo de trânsito.

Enquanto isso, a Hungria, que agora depende em grande parte do Turkish Stream para as importações de gás russo, também enfatizou a importância de manter a rota ucraniana para garantir a segurança do fornecimento. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, disse que as autoridades húngaras ainda estão em negociações com a Rússia e a Ucrânia para garantir o fluxo contínuo de gás russo através da Ucrânia.

Com relação a soluções alternativas no esforço da UE para reduzir a dependência da energia russa, o analista político croata Robert Frank argumentou que a UE há muito tempo luta para encontrar "respostas certas" e é improvável que o faça desta vez. "Cada Estado-membro da UE será forçado a buscar soluções por conta própria", disse Frank.

Tubos de gás são vistos em uma instalação de armazenamento de gás natural operada pela Hungarian Gas Storage Ltd. na Aldeia de Zsana, Hungria, em 20 de maio de 2022. (Xinhua/Attila Volgyi)

PREOCUPAÇÕES ECONÔMICAS

"A UE já vacilou no que diz respeito à economia, a Alemanha está enfrentando uma crise histórica e agora será ainda mais difícil para os europeus obterem energia se o contrato de trânsito não for renovado", disse Frank. "Se houver uma crise no fornecimento de energia, a Europa será a mais afetada e isso enfraquecerá ainda mais seu poder econômico."

"Uma parada repentina do gás russo provavelmente intensificará as pressões de custo para as indústrias eslovenas e, por extensão, aumentará os preços ao consumidor", disse Joze P. Damijan, professor de economia da Universidade de Liubliana, na Eslovênia, em entrevista à Xinhua. Ele destacou os desafios significativos enfrentados por setores como agricultura e produção de eletricidade, que dependem fortemente de suprimentos de gás acessíveis, alertando que a falta do gás russo criará um "sério obstáculo".

Em uma carta enviada ao presidente da Comissão Europeia em 17 de dezembro, fornecedores de gás, operadores de rede e consumidores industriais da Hungria, Eslováquia, Áustria e Itália expressaram preocupação com o fato de que o fim do acordo de trânsito poderia "complicar o fornecimento de gás" e "levar a preços mais altos do gás para os consumidores europeus".

De acordo com um relatório recente do Bruegel, um think tank econômico com sede em Bruxelas, os preços da energia na UE são mais altos do que na maioria das outras economias industrializadas. O relatório afirma que, em 2024, os preços de atacado do gás na UE seriam, em média, quase cinco vezes maiores que os dos Estados Unidos.

A interrupção do gasoduto russo forçará a UE a depender mais fortemente das importações de gás natural liquefeito (GNL) para preencher a lacuna. As importações são mais caras e menos confiáveis, aumentando a carga econômica dos consumidores e das indústrias.

DEPENDÊNCIA PERSISTE

Embora a UE tenha reduzido sua dependência do gás de gasoduto russo desde o início do conflito Rússia-Ucrânia, as importações de GNL da Rússia aumentaram. De fato, apesar de sua meta de parar completamente de importar energia fóssil, inclusive gás natural, da Rússia até 2027, a UE continua sendo a maior compradora de gás canalizado e GNL russo.

De acordo com a Comissão Europeia, o gás russo ainda representa cerca de 15% do total de importações de energia da UE, embora isso represente um declínio significativo em relação aos cerca de 40% anteriores ao conflito.

Para atingir a meta de 2027, são necessários investimentos maciços de capital, não apenas em infraestrutura de gás e renováveis, mas também na atualização das redes de eletricidade, disse Mojmir Mrak, professor da Universidade de Liubliana, em uma entrevista à Xinhua. "A questão do financiamento continua parcialmente sem resposta, especialmente para as economias menores da UE."

Dados da Kpler, um provedor de dados de commodities, mostram um aumento nas importações de GNL russo pela UE, tornando a Rússia o segundo maior fornecedor de GNL da UE, depois dos Estados Unidos, informou o jornal The Financial Times. Em meados de dezembro, a Europa havia importado um recorde de 16,5 milhões de toneladas de GNL russo, superando os 15,18 milhões de toneladas importadas no ano passado.

Um relatório de monitoramento de mercado da Agência de Cooperação dos Reguladores de Energia da UE confirmou essa tendência de aumento. Embora as importações totais de GNL da UE tenham diminuído em relação ao ano anterior durante os primeiros nove meses de 2024, a participação da Rússia subiu para 20%, um aumento de seis pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado.

A República Tcheca, que reduziu as importações de gás russo a quase zero no verão de 2023, retomou importações significativas em 2024. Os analistas atribuíram essa mudança ao preço competitivo do gás russo. De acordo com as estatísticas da operadora de gasodutos tcheca Net4Gas, o gás russo que passa pela Eslováquia foi responsável por mais de 95% do abastecimento do país em novembro.

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