Foto tirada no dia 8 de dezembro de 2024 mostra fumaça espessa após explosão em Damasco, Síria. (Foto por Monsef Memari/Xinhua)
Analistas apontaram que as potências regionais e externas, cada uma buscando seus próprios interesses estratégicos, estão cada vez mais envolvidas na disputa pelo poder, alavancando as forças políticas internas da Síria para estender sua influência. Esses desenvolvimentos têm implicações significativas para o futuro da Síria e para a dinâmica geopolítica mais ampla do Oriente Médio.
Damasco, 11 dez (Xinhua) -- A situação na Síria passou por uma mudança dramática nos últimos dias, quando os combatentes do Hayat Tahrir al-Sham (HTS) declararam no domingo a libertação de Damasco e a derrubada do governo de Bashar al-Assad após duas semanas de ofensivas radicais.
Mohammed al-Bashir, chefe do "Governo de Salvação Sírio" em Idlib, formado em 2017 pelo HTS e por outros grupos militantes sírios durante a guerra civil síria, anunciou na terça-feira que foi encarregado de liderar um governo de transição na Síria até o início de março de 2025.
Enquanto isso, os países vizinhos da Síria destacaram que o futuro da nação deve ser determinado pelo próprio povo sírio, pedindo uma solução política para restaurar a estabilidade.
No entanto, analistas apontaram que as potências regionais e externas, cada uma buscando seus próprios interesses estratégicos, estão cada vez mais envolvidas na luta pelo poder, alavancando as forças políticas internas da Síria para estender sua influência. Esses desenvolvimentos têm implicações significativas para o futuro da Síria e para a dinâmica geopolítica mais ampla do Oriente Médio.
PRINCIPAIS ATORES
Em meio à rápida mudança da situação na Síria, várias potências regionais e externas importantes se engajaram rapidamente.
Israel declarou publicamente que não interferirá nos assuntos internos da Síria, mas simultaneamente buscou expandir seu controle sobre as Colinas de Golã. O exército israelense disse na terça-feira que atingiu "a maioria" das armas avançadas da Síria em 350 ataques aéreos em todo o país, incluindo Damasco, nas últimas 48 horas.
Além disso, a mídia israelense relatou que seu exército tomou um posto avançado do exército sírio no Monte Hermon nas Colinas de Golã no domingo, marcando a primeira presença militar israelense na zona de amortecimento desde 1974.
Em resposta ao rápido colapso do governo de al-Assad, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan disse na terça-feira que a Turquia não permitirá que a Síria vire uma zona de conflito e seja dividida novamente. "Qualquer ataque à estabilidade do novo governo sírio ou à integridade das antigas terras sírias nos enfrentará e também enfrentará o povo sírio", disse Erdogan em uma reunião do partido governante.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, disse no domingo que o futuro da Síria, incluindo seus sistemas políticos e de governo, só pode ser decidido pelo povo sírio, destacando a necessidade de diálogo entre outros segmentos da sociedade síria para chegar a um consenso.
Fumaça é vista após ataques aéreos em Damasco, Síria, no dia 9 de dezembro de 2024. (Foto por Monsef Memari/Xinhua)
Em resposta às ações militares de Israel na Síria, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Esmaeil Baghaei, disse na segunda-feira em uma declaração que o Irã condenou fortemente a "frequente agressão de Israel contra a infraestrutura da Síria e sua ocupação de outras partes do Golã".
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou na segunda-feira que al-Assad recebeu asilo na Rússia, dizendo que a Rússia está se engajando em um diálogo sobre a Síria com a Turquia e outros países regionais.
Embora os Estados Unidos tenham dito inicialmente que não tinham intenção de intervir, o Comando Central dos EUA disse no domingo que havia atingido mais de 75 alvos, incluindo líderes, agentes e acampamentos do ISIS, para garantir que o grupo armado não se aproveite do fim do governo de al-Assad. O presidente dos EUA, Joe Biden, também reafirmou o apoio aos vizinhos da Síria, incluindo Jordânia, Iraque, Líbano e Israel durante o período de transição, ressaltando o compromisso de combater o ISIS e impedir seu ressurgimento na região.
CÁLCULOS GEOPOLÍTICOS
Analistas argumentam que as ações militares e os engajamentos estratégicos desses atores regionais e externos são motivados por seus respectivos interesses nacionais.
Israel vê a mudança na situação na Síria como uma oportunidade de expandir sua influência na região. Durante anos, Israel tem se preocupado muito com a crescente presença do Irã na Síria, e o colapso do governo de al-Assad pode ser um golpe significativo no "Eixo da Resistência" liderado pelo Irã, de acordo com relatos da mídia.
Chamando Israel de "vencedor" na mudança política na Síria, Mostafa Amin, pesquisador egípcio sobre assuntos árabes e internacionais, observou que "como resultado dos desenvolvimentos na Síria, todos os aliados do Irã ficaram mais fracos".
O Irã, enquanto isso, está em uma posição particularmente precária, alertaram analistas. A perda de sua posição na Síria limitaria muito sua capacidade de apoiar grupos como o Hezbollah no Líbano, um aliado-chave em sua estratégia regional mais ampla.
"Bashar al-Assad era um elo essencial entre o Irã e o Hezbollah. E agora o Irã não tem mais apoio sírio, o que é uma grande mudança", disse Eyal Zisser, especialista na Síria e vice-reitor da Universidade de Tel Aviv, citado pela DW da Alemanha, em uma reportagem.
Militantes armados se reúnem fora da embaixada iraniana em Damasco, Síria, no dia 8 de dezembro de 2024. (Foto por Ammar Safarjalani/Xinhua)
Acredita-se que a Turquia também esteja observando a situação para aumentar sua influência regional. Amin disse que o país pode tentar reforçar sua posição capitalizando a instabilidade para atacar grupos armados curdos, que considera uma ameaça significativa à sua segurança.
A Rússia está focada em proteger seus ativos militares na Síria. A agência de notícias russa RIA Novosti relatou que os líderes dos combatentes do HTS garantiram a segurança das bases militares russas e estabelecimentos diplomáticos na Síria.
Enquanto isso, os Estados Unidos estão focados em impedir o ressurgimento do ISIS e de outros grupos extremistas. Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional de Biden, disse que a principal prioridade é garantir "que a disputa na Síria não cause o ressurgimento do ISIS".
Ali Moussa, analista político iraquiano, disse que os Estados Unidos podem reverter as desvantagens causadas por sua retirada anterior do Oriente Médio devido a uma mudança no foco estratégico, e isso pode beneficiar o novo governo Trump no avanço da normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita, e potencialmente com mais países árabes.
FUTURO INCERTO
Apesar da queda do governo de al-Assad, o futuro da Síria continua altamente incerto. A complexa composição étnica e religiosa do país, que inclui grupos como o Exército Nacional Sírio, milícias curdas e várias facções islâmicas, significa que o confronto com al-Assad não é uma força monolítica.
Embora a remoção de al-Assad possa ter sido um objetivo comum, a questão permanece se essas facções podem se unir sob uma única estrutura política ou se elas se dividirão em mais conflitos.
Zhao Jun, professor associado do Instituto de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Estudos Internacionais de Shanghai, sugere que as disputas políticas em andamento na Síria desencadearão uma nova rodada de manobras geopolíticas internacionais e regionais.
"A partir da situação atual, a capacidade dos Estados Unidos de afirmar o controle sobre o Oriente Médio pode ser fortalecida, enquanto o Irã provavelmente enfrentará uma nova rodada de pressão dos Estados Unidos e de outros países ocidentais", disse ele, acrescentando que Israel e Turquia serão mais ativos na região, o que pode se manifestar por meio das disputas internas de poder político na Síria.