Calin Georgescu (frente), vencedor do primeiro turno nas eleições presidenciais da Romênia, gesticula após falar com a mídia em frente a uma seção eleitoral fechada em Mogosoaia, perto de Bucareste, Romênia, no dia 8 de dezembro de 2024. (Foto por Cristian Cristel/Xinhua)
Mais de 20 eleições regionais e nacionais este ano não conseguiram resolver as manobras políticas no continente.
Por Xia Yuanyi, Zhang Xin e Li Jizhi
Bruxelas, 11 dez (Xinhua) -- Conforme 2024 chega ao fim, a Romênia virou a mais nova nação europeia envolvida em uma "turbulência pós-eleitoral". O país aguarda um novo governo definir a data para reeleger seu presidente após a anulação sem precedentes do primeiro turno da eleição presidencial pelo Tribunal Constitucional.
Em toda a Europa, há uma instabilidade parecida. Vários governos enfrentam votos de confiança, a turbulência política se mantém e a liderança continua sem solução.
Mais de 20 eleições regionais e nacionais este ano não conseguiram resolver as manobras políticas no continente. Em vez disso, os parlamentos divididos e as coalizões frágeis resultantes disso deixaram os eleitores ansiosos por mudanças, e cada vez mais insatisfeitos, conforme as questões críticas continuam, se não pioram.
VEREDITO ELEITORAL: UMA VIRADA À DIREITA
A crise política da Romênia decorre de alegações de interferência russa apoiando o candidato de extrema direita Calin Georgescu na eleição anulada. Agora os partidos pró-europeus estão se esforçando para formar uma maioria, pois as disputas de liderança e as divisões políticas paralisam o progresso, aumentando a frustração pública.
Foto tirada no dia 10 de junho de 2024 mostra resultados provisórios das eleições do Parlamento Europeu 2024 no Parlamento Europeu em Bruxelas, Bélgica. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
A difícil situação da Romênia reflete problemas mais amplos e a crescente influência da extrema direita em toda a Europa. Após as eleições do Parlamento Europeu (PE) em junho, os partidos de extrema direita aumentaram em popularidade. Enquanto as forças de centro-direita, lideradas pelo Partido Popular Europeu (PPE), mantiveram sua posição como o maior bloco, o cenário do PE ficou ainda mais dividido. As cadeiras ocupadas por coalizões tradicionais diminuíram, e o número de partidos compartilhando o poder aumentou, reduzindo as perspectivas de maiorias estáveis.
Em novembro houve outro drama político: Ursula von der Leyen garantiu por pouco seu segundo mandato como presidente da Comissão Europeia. Sua aprovação, a menor desde 1993, destacou a divisão dentro do PE. O ex-vice-presidente do Parlamento Europeu, Jacek Saryusz-Wolski, descreveu o processo como "o menor da história do PE", marcado por "negociações interpartidárias".
Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comemora após votação na sede do Parlamento Europeu em Estrasburgo, França, no dia 27 de novembro de 2024. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
Esse impasse institucional é agravado por uma lacuna de liderança no núcleo da UE. França e Alemanha, há muito tempo a base da formulação de políticas da UE, agora estão envolvidas em crises domésticas.
Na França, o partido do presidente Emmanuel Macron sofreu uma derrota humilhante nas eleições antecipadas da Assembleia Nacional em julho, levando a meses de impasse político e ao mandato mais curto desde 1958. Na Alemanha, a frágil coalizão do chanceler Olaf Scholz entrou em colapso no mês passado em meio ao caos orçamentário e político. É esperado que um voto de confiança na Alemanha resulte em eleições antecipadas em 2025.
Até o final de 2024, agora os partidos de extrema direita ocupam cargos de governo em pelo menos sete países da UE, incluindo Holanda, Finlândia e Itália.
De acordo com o think tank Chatham House, sediado em Londres, a crescente influência da extrema direita começou a remodelar o Conselho Europeu, com os eurocéticos defendendo cada vez mais a redução da formulação de políticas da UE em favor do controle nacional.
Presidente francês, Emmanuel Macron, (2º, à direita) cumprimenta moradores ao chegar para votar em uma seção eleitoral nas eleições do Parlamento Europeu em Le Touquet, França, no dia 9 de junho de 2024. (Foto por Frank Boham/Xinhua)
FORÇAS QUE IMPULSIONAM A MUDANÇA EUROPEIA
As mudanças políticas na Europa mostram anos de frustração acumulada dos eleitores com a estagnação econômica, as crescentes pressões migratórias e a tensão duradoura dos conflitos regionais.
Os problemas econômicos foram um tema central em 2024. A economia da zona do euro deve crescer apenas 0,8%, com a Alemanha, sua maior economia, contraindo pelo segundo ano consecutivo. Os receios de dívida soberana ressurgiram quando o déficit orçamentário da França aumentou para 6,2%, o dobro da meta da UE, reacendendo as preocupações sobre a disciplina fiscal.
Enquanto isso, a alta inflação, os altos custos de energia e uma implacável crise de custo de vida continuam aumentando os orçamentos familiares. Em outubro, milhares de pessoas em Madri protestaram contra o aumento dos custos de moradia.
A fadiga com a crise na Ucrânia também incentivou mudanças políticas. A paciência pública com o pacote de ajuda de 133 bilhões de dólares americanos da UE está acabando, particularmente em estados fiscalmente em tensão como a França. Na Eslováquia, a oposição ao apoio militar à Ucrânia ajudou a impulsionar a extrema direita ao poder, enquanto na Polônia, os fluxos de refugiados amplificaram a retórica nacionalista e aumentaram a divisão pública.
Veículos parados em semáforo perto da sede da UE em Bruxelas, Bélgica, no dia 4 de outubro de 2024. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
A ambiciosa agenda climática da UE também enfrentou uma reação negativa. Em janeiro, fazendeiros alemães protestaram contra as regulamentações do Acordo Verde, desencadeando manifestações semelhantes na Bélgica, na França e na Polônia. O Instituto de Economia Climática, sediado em Paris, estimou que atingir as metas climáticas da UE para 2030 exigirá investimentos anuais de 813 bilhões de euros, o equivalente a 5,1% do PIB do bloco, o que é insustentável para muitas economias que passam por dificuldades.
A migração continua sendo a questão mais politicamente cobrada da Europa, com os principais partidos centristas adotando cada vez mais a retórica de extrema direita sobre o assunto para manter o apoio dos eleitores.
Em abril, a UE reformulou suas políticas de asilo ao reforçar os controles de fronteira e acelerar as deportações. Internamente, a Alemanha restabeleceu os controles temporários de fronteira em setembro, com a França, a Áustria e outros países seguindo o exemplo. Essas medidas, no entanto, têm um custo: o desgaste do princípio fundamental de livre circulação da Zona Schengen.
DESAFIOS INTERNOS E EXTERNOS
O think tank francês Fondapol destacou os dilemas políticos da Europa: os progressistas estão presos entre as demandas da imigração em massa e da transição ecológica, e a necessidade de manter o bem-estar social e o poder de compra de baixa renda.
Primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban (centro), o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, (direita) e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, participam de entrevista coletiva após reunião informal do Conselho Europeu em Budapeste, Hungria, no dia 8 de novembro de 2024. (Foto por Attila Volgyi/Xinhua)
A mudança no cenário geopolítico, marcada pelo retorno de Donald Trump à Casa Branca, traz mais incertezas para o continente. Conforme a "era Trump 2.0" chega, a Europa se prepara para potenciais consequências: a retirada dos EUA da OTAN, a redução do apoio à Ucrânia e guerras comerciais.
Jian Junbo, vice-diretor do Centro de Relações China-Europa da Universidade Fudan, disse à Xinhua que, se essas preocupações virarem realidade, a Europa pode priorizar a segurança, mesmo com despesas econômicas.
Em meio a essas preocupações, os partidos de extrema direita têm destacado as deficiências estruturais e de liderança da UE, consolidando suas plataformas nacionalistas e eurocéticas. Essas tensões também forçaram os partidos tradicionais a se adaptarem.
"O que antes era considerado radical, agora virou o novo normal", observou Matthijs Rooduijn, cientista político da Universidade de Amsterdã.
As escolhas eleitorais de 2024 refletem as crescentes crises da Europa, deixando o continente em uma encruzilhada crítica. O futuro da Europa será definido se ela conseguir superar a fragmentação, reconstruindo a confiança entre os eleitores e a união dos estados-membros. No entanto, fica claro que as antigas abordagens não são mais suficientes.