Foto tirada no dia 6 de novembro de 2024 mostra Leão de Veneza na Praça de São Marcos, Veneza, Itália. (Xinhua/Li Jing)
Roma, 8 nov (Xinhua) -- No topo de uma coluna alta na Praça de São Marcos, Veneza, Itália, o enorme leão de bronze simboliza há séculos o poder e a herança da cidade. No entanto, sua verdadeira origem ainda é um mistério.
Um estudo recente liderado por uma equipe de cientistas italianos, incluindo arqueólogos, geocientistas e sinólogos, sugere que o icônico leão de bronze pode, na verdade, traçar suas raízes até a Dinastia Tang da China (618-907).
"Sou fascinado por este leão desde criança por causa da aparência única dele", disse Massimo Vidale, professor do Departamento de Patrimônio Cultural da Universidade de Pádua.
"É diferente de qualquer outra estátua da Itália ou de outras partes do mundo ocidental", disse ele.
A origem do Leão de Veneza, que tem aproximadamente quatro metros de comprimento e pesa cerca de 3.000 kg, intriga arqueólogos há anos. No entanto, avanços recentes na análise de geociências, juntamente com um banco de dados abrangente e extenso de fontes de minério, estão trazendo pistas sobre seu passado.
"A análise de isótopos de chumbo, combinada com análise química, é atualmente o método mais confiável para rastrear a fonte de metais", disse Gilberto Artioli, professor do Departamento de Geociências da Universidade de Pádua.
Artioli e sua equipe fizeram análises de isótopos de chumbo no leão, usando três novas amostras da estátua. "Para confirmar a origem, a integridade do banco de dados é essencial", enfatizou ele, observando que sua pesquisa incorporou dados de depósitos de minério em toda a Eurásia, incluindo um estudo de 2019 sobre a composição química dos minérios chineses.
"Com base nas amostras e dados existentes, podemos afirmar que o cobre usado para a parte original do leão veio de minas nas partes baixas do Rio Yangtze, da China", disse Artioli.
Vidale acrescentou que essas descobertas de isótopos se alinham com análises estilísticas, que apoiam uma origem chinesa. A estudiosa italiana Bianca Maria Scarfi sugeriu pela primeira vez em 1990 que o Leão de Veneza exibia semelhanças estilísticas com figuras culturais chinesas específicas.
Análises posteriores revelaram que características distintivas do leão, como seu nariz grande, narinas alargadas, presas à mostra e expressão feroz, lembram muito os "guardiões de tumbas" da era Tang, alguns dos quais estão em exibição no Museu Luoyang, na província de Henan, no centro da China.
"O formato geral do leão de bronze de Veneza tem características do ‘guardião do túmulo’ da Dinastia Tang", confirmou em entrevista à Xinhua, Li Kewei, pesquisador do Instituto de Arqueologia de Luoyang.
Embora a rota exata que o leão pode ter percorrido continue desconhecida, estudiosos sugerem que ele pode ter chegado a Veneza pela antiga Rota da Seda, provavelmente pela Rota da Seda Marítima.
De acordo com Li, o movimentado comércio internacional ao longo do Rio Yangtze teria facilitado o transporte da enorme estátua de bronze.
Alguns acadêmicos italianos também sugerem que exploradores venezianos, possivelmente o pai de Marco Polo, Niccolò, e o tio Maffeo podem ter trazido o leão para Veneza no século 13.
"Sabemos que quando Marco Polo voltou da China para Veneza em 1295, ele ficou instalado no topo da coluna na Praça de São Marcos", observou Vidale.
Essa teoria sugere uma forte conexão Leste-Oeste que remonta aos tempos antigos, destacando o papel da Rota da Seda no intercâmbio cultural. "A conexão entre o Leão de Veneza e a China reflete a influência de longo alcance da Rota da Seda", disse Vidale.
À luz de novas teorias, novas descobertas e avanços contínuos na tecnologia arqueológica, a equipe de pesquisa espera estabelecer parcerias com instituições acadêmicas chinesas. "Também seria muito benéfico colaborar com acadêmicos chineses para aumentar o detalhamento das análises", disse Artioli.
"Aguardamos ansiosamente a oportunidade de examinar outras estátuas de bronze chinesas do mesmo período para confirmar a origem do metal durante o período Tang, tanto de perspectivas analíticas quanto estilístico-históricas", acrescentou ele.
Turistas posam para foto com Leão de Veneza ao fundo na Praça de São Marcos, Veneza, Itália, no dia 6 de novembro de 2024. (Xinhua/Li Jing)
Foto tirada no dia 6 de novembro de 2024 mostra Leão de Veneza na Praça de São Marcos, Veneza, Itália. (Xinhua/Li Jing)
Técnico de laboratório da Universidade de Pádua analisa processo experimental das amostras do leão de bronze de Veneza em Pádua, Itália, no dia 6 de novembro de 2024. (Xinhua/Li Jing)
Massimo Vidale (esquerda), professor do Departamento de Patrimônio Cultural da Universidade de Pádua, conversa com técnico de laboratório sobre o processo experimental das amostras do leão de bronze de Veneza em Pádua, Itália, no dia 6 de novembro de 2024. (Xinhua/Li Jing)
Foto tirada no dia 6 de novembro de 2024 mostra Leão de Veneza na Praça de São Marcos, Veneza, Itália. (Xinhua/Li Jing)
Massimo Vidale, professor do Departamento de Patrimônio Cultural da Universidade de Pádua, fala sobre descobertas a respeito do leão de bronze de Veneza em Pádua, Itália, no dia 5 de novembro de 2024. (Xinhua/Li Jing)
Técnica de laboratório da Universidade de Pádua mostra processo experimental das amostras do leão de bronze de Veneza em Pádua, Itália, no dia 6 de novembro de 2024. (Xinhua/Li Jing)
Técnico de laboratório da Universidade de Pádua mostra processo experimental das amostras do leão de bronze de Veneza em Pádua, Itália, no dia 6 de novembro de 2024. (Xinhua/Li Jing)
Foto tirada no dia 6 de novembro de 2024 mostra Leão de Veneza na Praça de São Marcos, Veneza, Itália. (Xinhua/Li Jing)
Foto tirada no dia 6 de novembro de 2024 mostra Leão de Veneza na Praça de São Marcos, Veneza, Itália. (Xinhua/Li Jing)