Hideo Shimizu, ex-membro do Corpo de Jovens da Unidade 731, participa de uma reunião por meio de link de vídeo que marca o 35º aniversário da descoberta de ossos humanos em uma escola de medicina do exército japonês, em Tóquio, Japão, em 20 de julho de 2024. A reunião foi organizada pela Associação Exigindo Investigação sobre os Ossos Humanos Descobertos no Local da Faculdade de Medicina do Exército. (Xinhua/Zhang Xiaoyu)

Tóquio, 21 jul (Xinhua) -- Cerca de cem cidadãos japoneses e representantes da mídia se reuniram no centro de Tóquio, apesar do calor escaldante, para o 35º aniversário da descoberta de ossos humanos em uma escola de medicina do exército japonês.

Sob um sol escaldante, eles vieram participar da reunião no sábado, organizada pela Associação Exigindo Investigação sobre os Ossos Humanos Descobertos no Local da Faculdade de Medicina do Exército.

Em 22 de julho de 1989, um grande número de ossos humanos foi encontrado em um canteiro de obras no bairro de Shinjuku, em Tóquio, onde agora fica o Instituto Nacional de Doenças Infecciosas.

Anteriormente, o local abrigava uma escola de medicina e um instituto de prevenção de epidemias operado pelo Exército Imperial Japonês, e acredita-se que tenha sido o quartel-general da Unidade 731, o notório exército japonês de guerra bacteriológica durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1990, a associação foi criada para descobrir a verdade por trás dos ossos e devolver os restos mortais às famílias dos falecidos.

Na reunião de sábado, o atual representante da associação, Kazuyuki Kawamura, ex-vereador do distrito de Shinjuku, disse que os registros de investigação recentemente divulgados pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão mostraram que os ossos encontrados em Shinjuku eram "espécimes humanos que haviam sido processados artificialmente".

Alguns dos ossos foram transportados da cidade de Harbin, no norte da China, para a faculdade de medicina do exército no Japão em barris de ferro e caixas de madeira, acrescentou Kawamura, citando os registros de investigação do ministério.

Kawamura também observou que um oficial sênior da antiga faculdade de medicina do exército lhe disse que as cabeças dos soldados chineses mortos em batalha foram trazidas de volta para a faculdade de medicina para serem usadas como espécimes, uma declaração que se alinhava com os registros da investigação.

A associação acredita que os ossos descobertos no local da antiga Faculdade de Medicina do Exército estão ligados à Unidade 731.

Em 2001, o Ministério da Saúde divulgou um relatório de investigação afirmando que os ossos encontrados no local de construção eram, de fato, espécimes, mas havia testemunhos que negavam que os ossos tivessem vindo de fora do Japão, tornando impossível vinculá-los definitivamente à Unidade 731.

Desde então, os ossos foram armazenados no Instituto Nacional de Doenças Infecciosas, e sua verdadeira identidade continua sendo um mistério.

Kawamura destacou as discrepâncias entre os registros de investigação recentemente divulgados e o relatório de 2001, sugerindo que o relatório havia sido alterado. "Eles estavam tentando esconder o fato de que as testemunhas oculares tinham visto e vivenciado diretamente esses eventos", disse ele.

Além disso, Kawamura afirmou que a recusa do governo japonês em interrogar indivíduos relacionados à Unidade 731 e sua exclusão deliberada da unidade da investigação torna impossível descobrir a verdade.

A associação espera que uma organização terceirizada independente, imparcial, profissional e internacionalmente influente entre em cena para investigar.

Também no sábado, Hideo Shimizu, um ex-membro do Corpo de Jovens da Unidade 731, de 94 anos, participou da reunião por meio de um link de vídeo. Ele confirmou que tinha visto "espécimes com cabeças cortadas ao meio na sala de espécimes da unidade", pedindo ao governo japonês que enfrentasse os fatos históricos.

Os cidadãos japoneses que participaram da reunião expressaram sua frustração com o fato de o Ministério da Saúde ter evitado deliberadamente investigar a Unidade 731.

A Unidade 731 representa a sombra escura das guerras agressivas do Japão, e é essencial informar o público sobre suas ações, disse à Xinhua Tatsuo Kawano, participante da reunião de sábado, acrescentando que esperava que a reunião levasse a um novo progresso na investigação.

"Contar verdades históricas às gerações futuras é um passo crucial para refletir sobre a guerra", disse um morador chamado Yamada do concelho de Toyama, em Shinjuku. 

Participantes assistem a uma exibição de espécimes durante uma reunião que marca o 35º aniversário da descoberta de ossos humanos em uma escola de medicina do exército japonês, em Tóquio, Japão, em 20 de julho de 2024. A reunião foi organizada pela Associação Exigindo Investigação sobre os Ossos Humanos Descobertos no Local da Faculdade de Medicina do Exército. (Xinhua/Zhang Xiaoyu).

Kazuyuki Kawamura, ex-conselheiro do distrito de Shinjuku, fala durante uma reunião que marca o 35º aniversário da descoberta de ossos humanos em uma escola de medicina do exército japonês, em Tóquio, Japão, em 20 de julho de 2024. A reunião foi organizada pela Associação Exigindo Investigação sobre os Ossos Humanos Descobertos no Local da Faculdade de Medicina do Exército. (Xinhua/Zhang Xiaoyu)