Líderes da OTAN se reúnem em meio à incerteza política e questões relevantes-Xinhua

Líderes da OTAN se reúnem em meio à incerteza política e questões relevantes

2024-07-12 11:30:04丨portuguese.xinhuanet.com

* A OTAN é um dos “quadros institucionais” do aparelho de segurança militar americana que sustenta a grande estratégia dos EUA e visa a hegemonia global do país, disse Jeffrey Sachs.

* “O processo de tomada de decisão rígido e baseado no consenso da OTAN, concebido para um mundo com ameaça singular, não é adequado para o ambiente dinâmico e acelerado do mundo multipolar”, disse um professor dos EUA.

Por Xiong Maoling

Washington, 10 jul (Xinhua) -- Enquanto líderes de mais de 30 nações se reúnem em Washington, D.C., capital dos Estados Unidos, para marcar o 75º aniversário do estabelecimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a atual crise na Ucrânia continua sendo um tema central, com a perspectiva de paz ainda parecendo distante.

Os países membros da OTAN estão se esforçando para acelerar a entrega de armamento e assistência militar à Ucrânia, em um momento em que a confiança na liderança dos EUA está diminuindo e persistem divergências importantes na aliança.

Estabelecida durante as fases iniciais da Guerra Fria, a OTAN agora confronta um cenário global em mudança caracterizado pela multipolaridade, incentivando debates sobre sua relevância contínua.

Secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg (centro), preside reunião de ministros da defesa da OTAN na sede da OTAN em Bruxelas, Bélgica, no dia 14 de junho de 2024. (Xinhua/Zhao Dingzhe)

DOMÍNIO DA SEGURANÇA DOS ESTADOS UNIDOS

A OTAN, que passou de 12 membros em 1949 para 32 em 2024, é um pilar central que apoia o amplo alcance e autoridade dos Estados Unidos em questões de segurança internacional, reforçando a posição da América como potência de segurança dominante.

A organização é uma das “estruturas institucionais” do aparato de segurança militar americana que sustenta a grande estratégia dos EUA e visa a hegemonia global do país, disse à Xinhua, Jeffrey Sachs, professor e diretor do Centro para Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia.

Os Estados Unidos tentam fortalecer a OTAN de três formas: expansão para a Ucrânia, Geórgia e até para a Ásia Central; aumento do envolvimento da organização na Ásia Oriental; e aumento da aquisição e acumulação de armas, mencionou Sachs.

“Os únicos vencedores a curto prazo são os empreiteiros militares, que estão ganhando muito dinheiro”, disse o renomado economista.

Apesar das promessas de fornecer mais apoio militar à Ucrânia, os líderes da OTAN provavelmente se absterão de fazer progressos tangíveis no sentido da sua adesão ao bloco ocidental. Alguns estão preocupados com a integração de um país atualmente envolvido em conflito com uma superpotência com armas nucleares.

“A OTAN oferecerá um tipo de ‘ponte’ para a adesão da Ucrânia, mas a adesão é improvável até que as principais operações de combate diminuam ou terminem”, disse à Xinhua, William Courtney, ex-embaixador dos Estados Unidos e membro-sênior adjunto da RAND Corporation.

No entanto, mais de dois anos após o início do conflito Ucrânia-Rússia, a paz ainda parece distante, servindo de exemplo de que a coligação não está promovendo a paz, mas a ameaçando.

As ações da OTAN incentivaram protestos em todo o mundo. Recentemente, centenas de organizações e ativistas contra guerras se reuniram em Washington, D.C. no fim de semana para protestar contra a cúpula marcada para 9 a 11 de julho.

“Os Estados Unidos continuam tendo uma política externa muito equivocada e perigosa, baseada no objetivo da hegemonia, e com a consequência do confronto com a China, a Rússia e com a maioria dos países em desenvolvimento. A OTAN faz parte dessa política externa equivocada e perigosa”, disse Sachs.

Foto tirada no dia 23 de abril de 2024 mostra edifício do Capitólio dos EUA em Washington, D.C., Estados Unidos. (Xinhua/Liu Jie)

INCERTEZA POLÍTICA

A cúpula será realizada em um momento em que vários estados-membros importantes da OTAN enfrentam mudanças políticas internas sob incerteza política.

Um novo primeiro-ministro britânico acaba de tomar posse, depois de o Partido Conservador ter sido eliminado após 14 anos no poder. A França ainda enfrenta um impasse político, uma vez que nenhum partido ou coligação recebeu a maioria absoluta nas eleições parlamentares. O chanceler alemão, Olaf Scholz, está em posição enfraquecida na sequência das perdas sofridas por seu partido e pela coligação nas eleições para o Parlamento Europeu.

Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden enfrenta pressão crescente para desistir da corrida presidencial de 2024 devido a preocupações com sua saúde física e mental, após o fraco desempenho em um debate presidencial com o ex-presidente Donald Trump no final de junho.

“Cada passo que Biden dá, cada gesto que faz e cada palavra que fala estarão sob intenso escrutínio, especialmente em momentos improvisados ​​depois que a imagem de um comandante-em-chefe idoso e às vezes incoerente foi vista por 50 milhões de telespectadores no Debate da CNN em Atlanta no final do mês passado”, disse uma análise da CNN.

Imagem fornecida pela CNN mostra presidente dos EUA, Joe Biden (à direita), e o ex-presidente Donald Trump no palco do estúdio da CNN em Atlanta para o primeiro debate presidencial em 27 de junho de 2024 das eleições de 2024. (CNN/Divulgação via Xinhua)

“Biden também aproveitou a próxima cúpula como prova das suas capacidades de liderança e sucesso como presidente, enquanto a campanha procurou usar sua participação no cenário global em solo americano para redefinir a comparação entre ele e Trump”, afirmou.

Com Trump liderando Biden nas pesquisas eleitorais, os países da OTAN estão preocupados. “A maioria dos aliados vê Trump como anti-OTAN e com inclinações isolacionistas”, disse Courtney, acrescentando que a maioria dos aliados acredita que Trump tem fortes chances de vencer e teme que isso enfraqueça a aliança e coloque em risco o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia.

Em um artigo de opinião, Kurt Volker, renomado membro do Centro de Análise de Política Europeia, que também foi representante-especial dos EUA para as Negociações na Ucrânia de 2017 a 2019 e embaixador dos EUA na OTAN de 2008 a 2009, destacou a incerteza sobre o futuro da liderança dos Estados Unidos.

“Os Estados Unidos são o membro mais poderoso da aliança e é indispensável. Agora há uma grande incerteza sobre o futuro da liderança americana, seu interesse na vitória ucraniana e até mesmo na própria aliança”, disse Volker.

Foto tirada no dia 11 de março de 2024 mostra cerimônia de hasteamento da bandeira da adesão da Suécia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na sede da OTAN em Bruxelas, Bélgica. (Xinhua/Zhao Dingzhe)

A OTAN AINDA É RELEVANTE?

A OTAN enfrenta um ambiente global em mudança marcado pela multipolaridade, incentivando debates sobre seu significado contínuo.

A situação atual é diferente dos momentos anteriores de tensão intra-aliança, e as forças que ameaçam o futuro da OTAN vão além das inclinações pessoais dos líderes individuais, escreveu Stephen M. Walt, professor de relações internacionais na Universidade de Harvard, em um artigo sobre política estrangeira.

“A fonte mais óbvia de tensão é a mudança na distribuição do poder mundial”, argumentou Walt, destacando que “a União Soviética e o Pacto de Varsóvia não existem mais, e a Rússia já não tem a capacidade de conquistar e subjugar o continente europeu”.

Observando que a maioria dos novos esforços após a dissolução da União Soviética não funcionaram muito bem, o professor disse que a OTAN está “em apuros” porque os clichês familiares sobre valores compartilhados e solidariedade transatlântica não ressoam tão fortes como antes, especialmente para as gerações mais jovens.

“Existem forças estruturais poderosas que separam gradualmente a Europa e os Estados Unidos, e essas tendências continuarão independentemente do que acontecer em novembro, na Ucrânia ou na própria Europa”, disse ele.

“A OTAN ainda existirá em 25 anos?”, perguntou Andrew Latham, professor de relações internacionais no Macalester College em Saint Paul, Minnesota, membro sênior do Instituto para Paz e Diplomacia e membro não residente das Prioridades de Defesa em Washington, D.C.

“A ameaça soviética, que serviu como força unificadora para a Aliança, terminou há muito tempo. Os membros europeus e canadenses da OTAN, estão na equipe que ‘ganhou’ a Guerra Fria, perderam grande parte da sua determinação em manter capacidades militares firmes e contribuir com sua parte para a defesa coletiva”, escreveu Latham em um artigo publicado pelo The Hill.

“A OTAN foi concebida em um mundo bipolar para enfrentar a realidade da competição entre superpotências”, disse Latham. “Mas o momento unipolar passou e entramos em uma nova era geopolítica, definida fundamentalmente pela multipolaridade”.

“O processo de tomada de decisão rígido e baseado no consenso da OTAN, concebido para um mundo com uma ameaça singular, não é adequado para o ambiente dinâmico e acelerado do mundo multipolar”, disse Latham.

(Matthew Rusling contribuiu para a matéria.)

(Repórteres de vídeo: Hu Yousong e Xiong Maoling; Edição de vídeo: Lin Lin, Zhao Xiaoqing, Zhang Yichi, Li Qin e Hong Ling)

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