Rio de Janeiro, 28 nov (Xinhua) -- As cidades brasileiras estão atrasadas na busca da capacidade de suportar fenômenos meteorológicos extremos e se recuperar rapidamente, segundo afirmaram especialistas à Xinhua.
Ondas de calor e secas extremas castigam o país que vem sofrendo com inundações, vendavais e cidades sem luz durante dias, como ocorreu recentemente em vários pontos do Brasil.
Em declarações à Xinhua, Carlos Afonso Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), disse que a natureza não tem culpa dos eventos extremos que vêm ocorrendo cada vez com mais frequência.
Segundo Nobre, as graves inundações que as principais cidades brasileiras, como São Paulo, têm sofrido, demonstram a falta de preparo dos municípios, que necessitam alcançar a chamada "resiliência climática" para suportar emergências e se recuperar em menos tempo.
"Praticamente todas as cidades do Brasil, as grandes cidades, estão muito atrasadas. Realmente, temos que fazer com que as populações brasileiras fiquem muito mais resilientes a estes extremos que não têm retorno", afirmou o pesquisador.
Os estudiosos do clima explicam que falta um planejamento mais rápido e eficaz para responder aos fenômenos meteorológicos extremos que acontecem no Brasil e consideram que o esforço destinado a mudar o cenário passa por reduzir as emissões de carbono, investir em energias renováveis, aumentar o número de árvores para baixar a temperatura e reduzir as inundações e conseguir mudar a localização das pessoas que vivem em áreas de risco.
"Tem que haver grandes investimentos por parte dos governos (federal, estaduais e municipais) para criar as condições necessárias para que essas pessoas vivam em áreas sem risco", comentou Nobre.
Por sua vez, Tasso Azevedo, coordenador da rede de meio ambiente MapBiomas, afirmou que os danos atuais são um reflexo das ações passadas causadas pelo homem.
"Se reduzíssemos a zero as emissões de gases de efeito estufa, se deixássemos de acumular, digamos, poluição na atmosfera, ainda assim, demoraríamos muitos anos para deixar de sentir os efeitos climáticos. Por isso, essa preparação é muito importante para fazer frente a um futuro no qual haverá mais fenômenos extremos, mais frequentes e cada vez mais impactantes", afirmou.
Trezentos e vinte e um municípios brasileiros, entre eles Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife, participam de uma iniciativa das Nações Unidas para tornar as cidades mais resilientes até 2030. Entre as medidas, estão estruturar sistemas de proteção e comunicação e aumentar os recursos financeiros.
"Uma cidade resiliente está toda interconectada, como tem que estar um sistema de energia, mas tem que ser um sistema que possa se reconectar rapidamente e o que temos visto nesses últimos incidentes nas grandes cidades atingidas pelas fortes chuvas é que não estamos preparados para isso", lamentou Azevedo.

