Foto tirada no dia 19 de janeiro de 2023 mostra prédio do Capitólio dos EUA em Washington, D.C., Estados Unidos. (Foto por Ting Shen/Xinhua)
Os Estados Unidos provocaram um conflito na Ucrânia para "render a Europa " e conseguiram usar a crise ucraniana para "desestabilizar o continente", disse o economista Pierre de Gaulle.
Beijing, 26 abr (Xinhua) -- Um relatório publicado na segunda-feira pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês) indicou que os gastos militares na Europa dispararam 13% em 2022, o maior aumento anual nos últimos 30 anos.
Os Estados Unidos provocaram um conflito na Ucrânia para "render a Europa" e conseguiram usar a crise ucraniana para "desestabilizar o continente", disse o economista Pierre de Gaulle, neto do ex-presidente francês Charles de Gaulle, ao jornal francês Le Parisien.
Na verdade, os Estados Unidos é um país egoísta e nunca trata verdadeiramente seus "aliados" como amigos. As estritas sanções da UE contra a Rússia, seguindo a América, levaram a um abastecimento de energia tenso, aumento da inflação e uma crise de custo de vida em toda a Europa. Enquanto isso, as empresas americanas que exportam energia estão fazendo fortuna.
Washington continua alimento isso, buscando prolongar e expandir a crise na Ucrânia. Essa ação aumentará a dependência da Europa dos Estados Unidos para energia e segurança e reduzirá os esforços do continente em direção à autonomia estratégica.
Tabela de preços em posto de gasolina em Berlim, Alemanha, no dia 2 de março de 2023. A taxa de inflação anual da zona do euro deve cair para 8,5% em fevereiro, de 8,6% em janeiro, disse o escritório de estatísticas da União Europeia em estimativa preliminar na quinta feira. (Foto por Stefan Zeitz/Xinhua)
AMÉRICA BENEFICIADA
Na fábrica da Usina de Munições do Exército de Scranton, na Pensilvânia, Estados Unidos, os antigos trilhos lembram a época em que as locomotivas a vapor eram montadas neste edifício há mais de cem anos. No entanto, agora a fábrica está fazendo projéteis que são enviados para a Ucrânia.
Produzindo cerca de 11.000 projéteis de artilharia mensalmente, a fábrica está passando por uma expansão massiva, financiada por milhões de dólares americanos em novos gastos de defesa do Pentágono. Também está contratando dezenas de trabalhadores e, eventualmente, mudará o cronograma de produção para um formato constante de 24 horas em todas as semanas, de acordo com um relatório da CNN.
"Certamente isso aumentou em relação ao ano passado. À medida que trouxermos equipamentos mais modernos, será possível aumentar mais", o diretor-sênior da General Dynamics Ordnance and Tactical Systems, Todd Smith, que opera a fábrica para o Exército foi citado pela CNN.
O trabalho extraordinário na fábrica de munições mostra a "prosperidade" da indústria militar dos Estados Unidos. Desde a escalada da crise na Ucrânia, o país tem constantemente exaltado a "ameaça russa" e incitado os aliados europeus a melhorar continuamente sua assistência militar à Ucrânia e expandir suas próprias capacidades militares.
Desde o final de fevereiro de 2022, os países da UE prometeram aumentar seus arsenais em cerca de 230 bilhões de dólares, com a Alemanha planejando canalizar 100 bilhões de euros este ano para modernizar suas forças armadas, informou o site Yahoo News em novembro de 2022.
Os gastos militares dos países da Europa Central e Ocidental em 2022 superaram pela primeira vez os de 1989, quando a Guerra Fria estava no fim, de acordo com o relatório do SIPRI.
Os comerciantes americanos de armas são os que mais se beneficiam da expansão militar da Europa. Funcionários europeus acusaram os americanos de fazer fortuna com o conflito, enquanto os países da UE sofrem. "A verdade é que, se você observar bem, o país que está lucrando mais com esta guerra são os EUA porque eles estão vendendo mais gás e a preços maiores, além de ver mais armas", reclamou um alto funcionário à revista americana Politico.
Para aproveitar a oportunidade de ganhar muito lucro, o Departamento de Defesa dos EUA criou um grupo de trabalho em agosto do ano passado, liderado pelo departamento de política e pelo departamento de aquisição e manutenção, responsável por avaliar e acelerar a implementação de vendas militares estrangeiras.
No mercado de energia, os Estados Unidos também são impiedosos em se aproveitar dos aliados europeus. "Um grande vencedor da crise energética na Europa: a economia dos EUA", afirmou o Wall Street Journal.
A UE importou cerca de 94,73 milhões de toneladas de gás natural liquefeito (GNL) em 2022, em comparação com 57,27 milhões de toneladas em 2021. Os Estados Unidos representaram 41% da oferta no ano de 2022 inteiro e continuam sendo o principal fornecedor de GNL da UE, de acordo com um relatório da empresa de pesquisa Kpler.
Impulsionado pelo aumento da demanda europeia, teve uma reviravolta no desempenho de algumas empresas de energia dos EUA. A Chesapeake Energy Corporation, uma empresa de petróleo e gás de xisto dos EUA, lucrou até 1,3 bilhão de dólares nos primeiros nove meses, enquanto em 2020 a empresa entrou com pedido de proteção contra falência.
O presidente francês, Emmanuel Macron, acusou os Estados Unidos de criar "um padrão duplo" com a Europa, à medida que aumenta o ressentimento sobre o preço econômico que o continente está pagando pela crise na Ucrânia, informou a Bloomberg em outubro de 2022.
"A economia americana está escolhendo por questão de atratividade, o que eu respeito, mas eles criam um padrão duplo" com preços de energia mais baixos no mercado interno enquanto vendem gás natural para a Europa a preços recordes, disse Macron em entrevista coletiva em Bruxelas após uma reunião de líderes da UE.
Além disso, os Estados Unidos tiraram vantagem da situação com a "Lei de Redução da Inflação" para revitalizar sua própria economia. Sob o pretexto de reduzir a inflação, subsídios discriminatórios são usados para incentivar as empresas a realocar suas bases produtivas da Europa para os Estados Unidos.
Isso enfraquecerá seriamente a competitividade da Europa em setores como automóveis, baterias e energia limpa, e causou forte insatisfação no continente. O gerente de Assuntos da UE na Federação de Empresas Belgas, Olivier Joris, denunciou os subsídios dos EUA como "um golpe protecionista por trás dos americanos".
"O preocupante é que os investimentos serão mais direcionados para os Estados Unidos do que para a Europa por causa dessas obrigações de conteúdo local", disse Joris.
Pedestre passa pela sede da Comissão Europeia em meio à neve em Bruxelas, Bélgica, no dia 8 de março de 2023. (Xinhua/Zheng Huansong)
ECONOMIA EUROPEIA "PIORA AOS POUCOS"
"Só estou usando mais um suéter", disse Susan, uma francesa de 102 anos.
O inverno do ano passado na Europa foi mais quente do que o normal, mas tem sido frio para os idosos em Cournot-Changey, uma casa de repouso no centro de Gray, uma comuna no departamento de Haute-Saone, no leste da França.
De acordo com os regulamentos de economia de energia do governo francês, a temperatura ambiente do salão de atividades desta casa de repouso em Dijon não pode passar dos 20 graus Celsius, e os idosos devem vestir mais roupas de frio.
Por um lado, muitas pessoas reclamam que não está mais quente, por outro, os custos de energia continuam aumentando, disse o diretor da casa de repouso, Frederic Meunier. "Renovei o contrato de eletricidade em julho do ano passado, e a conta de luz aumentou 20%".
Desde a escalada da crise na Ucrânia, a UE seguiu os Estados Unidos ao impor um embargo ou limite de preço ao gás natural e aos produtos petrolíferos russos, o que obviamente saiu pela culatra.
A cadeia industrial e a de suprimentos em energia, além de outros campos, foram bloqueadas. Isso aumentou os preços de maneira geral e reduziu os salários das pessoas.
Afetadas pela falta de energia, as contas energéticas das empresas francesas subiram, e as indústrias de alumínio, plástico e química foram as mais impactadas.
Uma fábrica têxtil na cidade francesa de Luneville, no departamento de Meurthe-et-Moselle, no nordeste da França, abria apenas três dias por semana para economizar eletricidade.
Klaus Rudolph, que administra um restaurante em Lubmin, no norte da Alemanha, disse que o preço do gás natural local subiu cerca de três vezes mais do que o normal, isso aumentou os custos operacionais.
Laura Ramoni, proprietária do bar Big Mamy em Roma, Itália, disse à Xinhua que as contas de eletricidade no dela dispararam durante o horário de pico no ano passado, o que resultou na demissão de dois funcionários e no aumento dos preços do café.
A assessora-sênior do Centro de Energia e Clima da Ifri, Cecile Maisonneuve, disse que os preços da energia na Europa caíram com a chegada da primavera, mas o fornecimento externo de energia continua complicado. Esta situação, junto com desenvolvimentos incertos de energia nuclear doméstica e outras, além da decisão da OPEP de reduzir a produção de petróleo bruto, significa que os problemas energéticos da Europa continuarão. Ela também notou que os medidores de gás e eletricidade poderiam sair do controle.
A UE seguiu repetidamente os Estados Unidos e aumentou as sanções contra a Rússia. Fatih Birol, chefe da Agência Internacional de Energia, alertou que algumas partes da Europa podem ficar sem óleo diesel neste verão, com uma crise pior do que a do petróleo de 1973. A previsão econômica de 2023 da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico diz que a Europa pode enfrentar uma situação econômica muito difícil se a crise energética piorar. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, disse que a economia europeia está piorando aos poucos por causa de uma enorme crise de energia.
Por que a Europa está passando por esse dilema? Os europeus sabem exatamente o motivo. Os efeitos econômicos da crise na Ucrânia "afetarão a Europa inteira", de acordo com um relatório recente publicado pelo Jacques Delors Centre, um think tank com sede em Berlim.
"Custos diretos de sanções e interrupções comerciais, aumento da inflação devido aos preços mais altos de energia e commodities, além de crescente incerteza se tornarão um obstáculo na economia da Europa", disse o relatório.