
Mariann Stenvig Andersen, sobrinha de Bernhard Sindberg e presidente da Fundação Sindberg, mostra álbum de Bernhard Sindberg durante entrevista à Xinhua em Aarhus, Dinamarca, em 16 de julho de 2025. (Xinhua/Zhang Yuliang)
Por mais de três meses, a usina se tornou um santuário para quase 20.000 civis. Sindberg, um jovem de 26 anos, montava guarda nos portões, agitando a bandeira dinamarquesa para dissuadir intrusos.
Por Zhang Yuliang
Copenhague, 25 ago (Xinhua) -- Na tranquila cidade dinamarquesa de Aarhus, um telefonema da China em julho deste ano reabriu um capítulo da história que tem sido estimado em todos os continentes por mais de oito décadas.
Na linha estava Huang Xinghua, cuja mãe, Ai Yiying, sobreviveu ao Massacre de Nanquim graças à proteção de um jovem dinamarquês, Bernhard Arp Sindberg. Durante o inverno de 1937-1938, Sindberg arriscou a vida para abrigar milhares de civis em uma fábrica de cimento nos arredores de Nanquim, na China.
"Minha mãe sempre dizia que sem a Fábrica de Cimento Jiangnan e o Sr. Sindberg, nossa família não teria sobrevivido. Sempre nos lembraremos de sua bondade salvadora", disse Huang a Mariann Stenvig Andersen, sobrinha de Sindberg e presidente da Fundação Sindberg.
CORAGEM EM TEMPOS SOMBRIOS
Sindberg, nascido em Aarhus em 1911, chegou a Nanquim em dezembro de 1937. Trabalhando como vigia na Fábrica de Cimento de Jiangnan, construída pela empresa dinamarquesa F.L. Smidth, viu-se subitamente no meio de uma das atrocidades mais sombrias da história. Junto com o gerente da fábrica alemão, Karl Gunther, abriu os portões da fábrica para civis aterrorizados que fugiam dos soldados japoneses.
Por mais de três meses, a fábrica se tornou um santuário para quase 20.000 civis. Sindberg, um jovem de 26 anos, montava guarda nos portões, agitando a bandeira dinamarquesa para dissuadir intrusos.
Sua sobrinha se lembra do tio como "baixo, cerca de 1,73m de altura, mas muito forte", um ex-soldado com cabelos loiros cacheados e uma dureza nórdica que, de alguma forma, fez as tropas japonesas hesitarem. "Ainda não entendo por que não o mataram", disse Andersen. "Talvez, como ele mesmo disse, só teve sorte".

Foto tirada em 17 de julho de 2025 mostra estátua de Bernhard Sindberg no Parque Memorial Marselisborg em Aarhus, Dinamarca. (Xinhua/Zhang Yuliang)
O jornalista Peter Harmsen, autor de Bernhard Sindberg: O Schindler de Nanquim, descreve como Sindberg confrontava os soldados no portão, às vezes carregando apenas uma espingarda de cano duplo e a bandeira dinamarquesa. "Parecia quase mágico", escreve Harmsen, "como se a própria bandeira obrigasse os soldados a recuarem, como demônios confrontados por um forte feitiço".
Sindberg também prestou depoimento. Fotógrafo talentoso, ele capturou imagens assombrosas das consequências do massacre. "É uma grande perda que ele nunca tenha escrito memórias detalhadas", disse Harmsen à Xinhua. "Ele tinha o olhar de um fotógrafo e as palavras de um jornalista".
UM LEGADO DURADOURO
Sindberg deixou Nanquim em março de 1938, estabelecendo-se posteriormente na Califórnia, onde faleceu em 1983. Mesmo assim, na China, seu legado perdurou. Em 1938, o governo municipal de Shanghai concedeu a ele uma medalha e, um ano depois, civis agradecidos o presentearam com uma faixa de seda bordada com as palavras "agindo bravamente por uma causa justa".
A faixa, presenteada por Sindberg à sua sobrinha, agora está preservada no Salão Memorial das Vítimas do Massacre de Nanquim pelos Invasores Japoneses. Andersen disse que doá-la era uma maneira de homenagear seu tio e o povo chinês. "Como os chineses homenageiam meu tio com tanta sinceridade todos os anos, senti que também deveria fazer algo", disse ela.
Em Aarhus, cidade natal de Sindberg, uma estátua imponente se ergue no Parque Memorial de Marselisborg, um presente de Nanquim e inaugurado em 2019 pela então Rainha Margarida II.

Visitantes na exposição fotográfica "Bernhard Sindberg: Um Herói Dinamarquês de Nanquim" em Nanquim, capital da província de Jiangsu, no leste da China, em 31 de agosto de 2019. (Xinhua/Ji Chunpeng)
LEMBRADO COMO UM AMIGO
Em agosto deste ano, a exposição intitulada "Meu Amigo: Bernhard Arp Sindberg" foi inaugurada no Centro Cultural da China em Copenhague, com curadoria de estudantes da Universidade de Nanquim.
"Sua coragem, sabedoria e gentileza inspiram profundamente nossos estudantes", disse Chen Min, diretor do Departamento de Alemão da universidade. "Para eles, ele não é apenas um amigo, mas também um modelo a ser seguido".
O meio-irmão de Sindberg, Ole, compareceu à inauguração. "Bernhard nunca imaginou, durante sua vida, que suas ações em Nanquim seriam lembradas dessa forma. Se ele pudesse ver isso hoje, acho que ficaria orgulhoso", disse ele.
Por décadas, Sindberg foi pouco conhecido na Dinamarca, apesar de ser reverenciado na China. O livro de Harmsen ajudou a reviver sua memória em casa.
"Sindberg era uma pessoa comum na maioria dos aspectos", observou Harmsen. "Mas ele conseguiu se destacar e agir de forma ética e heroica em um momento decisivo da história. Sua história tem apelo universal porque mostra que um indivíduo pode fazer e uma diferença, mesmo diante de circunstâncias avassaladoras".


