Delegações da Rússia e da Ucrânia iniciam sua reunião em Istambul, Turquia, em 16 de maio de 2025. (Ministério das Relações Exteriores da Turquia/Divulgação via Xinhua)

Depois de não cumprir sua promessa de campanha de encerrar rapidamente a crise na Ucrânia, o governo Trump advertiu repetidamente que poderá se retirar de seus esforços de mediação se não houver progresso no sentido de acabar com o conflito.

Washington/Moscou, 20 mai (Xinhua) -- As negociações de cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia "começarão imediatamente", disse o presidente dos EUA, Donald Trump, após sua ligação de duas horas na segunda-feira com seu homólogo russo, Vladimir Putin, observando que "o tom e o espírito da conversa foram excelentes".

Apesar do otimismo, a conversa continua "inconclusiva", com poucos sinais de avanço, disse a mídia dos EUA, já que o momento, o local e os participantes de quaisquer negociações permanecem incertos.

O QUE TRUMP DISSE?

Logo após seu telefonema com Putin, Trump publicou em sua rede social Truth que a Rússia e a Ucrânia "iniciarão imediatamente as negociações para um cessar-fogo" e trabalharão para encerrar o conflito.

Ele disse que a Rússia está ansiosa para buscar grandes acordos comerciais com os Estados Unidos quando o conflito terminar. "Há uma enorme oportunidade para a Rússia criar grandes quantidades de empregos e riqueza. Seu potencial é ILIMITADO. Da mesma forma, a Ucrânia pode ser uma grande beneficiária do comércio, no processo de reconstrução de seu país."

Ele acrescentou que as condições do cessar-fogo serão negociadas entre a Rússia e a Ucrânia, " como deve ser, porque só elas conhecem os detalhes das negociações que ninguém mais conhece".

No entanto, ao falar com os repórteres mais tarde, Trump advertiu que poderia desistir do processo de negociação. "Há grandes egos envolvidos, mas acho que algo vai acontecer. E se não acontecer, eu simplesmente recuo e eles terão que continuar", disse ele.

Depois de não cumprir sua promessa de campanha de encerrar rapidamente a crise na Ucrânia, o governo Trump advertiu repetidamente que poderá se retirar de seus esforços de mediação se não houver progresso no sentido de acabar com o conflito.

O vice-presidente dos EUA, JD Vance, reiterou essas advertências antes do telefonema de Trump com Putin. "Percebemos que há um pequeno impasse aqui... Os Estados Unidos não vão ficar parados aqui. Queremos ver os resultados", disse ele.

"Não tenho certeza de que Vladimir Putin tenha uma estratégia própria para encerrar a guerra", acrescentou Vance, enquanto Trump disse mais tarde aos repórteres que acreditava que Putin estava falando sério sobre querer a paz.

Trump também disse que realizar as negociações de paz no Vaticano, representado pelo Papa, teria "um significado extra".

Robert Francis Prevost acena para a multidão após ser eleito o novo papa na Cidade do Vaticano, em 8 de maio de 2025. (Foto por Alberto Lingria/Xinhua)

O Papa Leão XIV destacou os esforços para acabar com o conflito na Ucrânia em sua missa inaugural no domingo e se encontrou com Zelensky. O pontífice recém-eleito havia pedido o fim do conflito em seus primeiros dias no cargo..

No início deste mês, o papa ofereceu o Vaticano como um local em potencial para conversações de paz entre a Rússia e a Ucrânia, depois que Putin se recusou a encontrar Zelensky pessoalmente na Turquia para negociações. Por fim, nenhum dos presidentes compareceu à mesa de negociações na sexta-feira em Istambul, onde os dois lados concordaram com uma troca de 1.000 prisioneiros de guerra, mas não conseguiram chegar a um acordo sobre um cessar-fogo imediato.

OBSERVAÇÕES DE PUTIN E ZELENSKY?

Em contraste com seu entusiasmo, Putin ofereceu uma resposta mais cautelosa, dizendo apenas que a Rússia "está pronta para trabalhar com o lado ucraniano em um memorando sobre um possível futuro acordo de paz", não chegando a concordar com um cessar-fogo imediato. E seu assessor, Yury Ushakov, confirmou que um prazo para o cessar-fogo não foi "discutido".

Embora Putin tenha chamado a conversa de "franca, informativa e construtiva" e agradecido a Trump por seus esforços diplomáticos, ele sinalizou que as principais exigências de Moscou permanecem inalteradas. "Eu gostaria de observar que, em geral, a posição da Rússia é clara. O principal para nós é eliminar as causas fundamentais dessa crise", disse Putin.

Enquanto isso, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que se os Estados Unidos puderem "ajudar a atingir nossos objetivos por meios pacíficos, então isso é de fato preferível".

Questionado sobre a possibilidade de um encontro pessoal entre Trump e Putin, uma ideia lançada pelo presidente dos EUA na sexta-feira, Peskov disse que "isso dependerá em grande parte do que eles próprios decidirem". O momento e os detalhes de tal reunião "precisam ser definidos" pelos dois líderes, acrescentou.

Em resposta ao telefonema entre Putin e Trump, Zelensky disse na segunda-feira que falou com Trump duas vezes, antes e depois da ligação telefônica. "Reafirmei ao presidente Trump que a Ucrânia está pronta para um cessar-fogo total e incondicional", disse ele no X, destacando que é crucial "não diluir essa proposta".

"Também reiterei que a Ucrânia está pronta para negociações diretas com a Rússia em qualquer formato que traga resultados", disse ele. "Não é necessário convencer a Ucrânia, e nossos representantes estão preparados para tomar decisões reais nas negociações."

Ele acrescentou que "é crucial para todos nós que os Estados Unidos não se distanciem das negociações e da busca pela paz", pedindo mais sanções se a Rússia "se recusar a parar com os assassinatos".

Um dia antes do encontro entre Putin e Trump, a Rússia lançou o que a Ucrânia disse ser seu maior ataque de drones desde o início do conflito. Após uma noite de alertas de ataque aéreo, a Força Aérea Ucraniana informou na manhã de domingo que a Rússia havia lançado 273 drones contra cidades ucranianas, superando o recorde anterior estabelecido em fevereiro, no terceiro aniversário da guerra..

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky fala em uma coletiva de imprensa na Embaixada da Ucrânia em Ancara, Turquia, em 15 de maio de 2025. (Mustafa Kaya/Divulgação via Xinhua)

A REAÇÃO DA EUROPA?

Após a conversa telefônica, estão surgindo diferenças claras na abordagem entre Washington e a Europa, disse o Frankfurter Rundschau, um jornal alemão, em um artigo publicado na terça-feira.

Enquanto Trump descreveu a Rússia como um parceiro econômico, a Europa enfatizou a necessidade de "aumentar a pressão sobre o lado russo por meio de sanções", disse.

Um dia antes da ligação telefônica, líderes do Reino Unido, França, Alemanha e Itália disseram que conversaram com Trump, pedindo que "Putin levasse a sério as negociações de paz". O presidente francês Emmanuel Macron disse no X que Putin deve mostrar seu compromisso com a paz, aceitando um cessar-fogo incondicional de 30 dias proposto por Trump e apoiado pela Ucrânia e pela Europa.

Os líderes "também discutiram o uso de sanções caso a Rússia não se engaje seriamente em um cessar-fogo e nas negociações de paz", disse o governo britânico em um comunicado.

De acordo com a Bloomberg, vários países europeus ficaram "chocados" com o fato de Trump não querer pressionar Putin com sanções e expressaram sua decepção depois de serem informados por Trump após seu telefonema com Putin.

Os líderes europeus concordaram em aumentar a pressão das sanções contra a Rússia, disse o chanceler alemão Friedrich Merz em uma publicação no X na noite de segunda-feira, após o briefing de Trump.

Foto tirada em 25 de fevereiro de 2022 mostra o edifício principal do Banco da Rússia em Moscou, Rússia. (Xinhua/Evgeny Sinitsyn)

A União Europeia aprovou na quarta-feira um novo pacote de sanções contra a Rússia, que deverá ser adotado nesta semana, incluindo a inclusão na lista negra de cerca de 200 petroleiros usados para contornar as restrições às exportações de petróleo da Rússia, já que o bloco ameaça mais punições se Moscou não concordar com um cessar-fogo na Ucrânia.

Ursula Schrode, professora de Ciência Política do Instituto de Pesquisa para a Paz e Política de Segurança, disse em uma entrevista recente que, embora os detalhes ainda não tenham sido anunciados, isso enviará um forte sinal político de unidade europeia, observando que a medida é especialmente significativa em meio à crescente fadiga e frustração do bloco com a posição de Trump em relação ao processo de negociação. "Um dos maiores riscos agora é uma retirada completa dos EUA do processo de paz, deixando a UE com total responsabilidade", afirmou.