Primeiros 100 dias do governo Trump - grandes mudanças políticas, batalhas jurídicas e controvérsias-Xinhua

Primeiros 100 dias do governo Trump - grandes mudanças políticas, batalhas jurídicas e controvérsias

2025-05-02 11:23:41丨portuguese.xinhuanet.com

Manifestantes se reúnem em protesto em frente à Casa Branca em Washington, D.C., Estados Unidos, no dia 19 de abril de 2025. (Foto por Aaron Schwartz/Xinhua)

Durante seus primeiros 100 dias, o governo Trump consistentemente causou surpresas e choques nos Estados Unidos e no mundo, levando a uma série de batalhas jurídicas e amplas controvérsias.

Washington, 30 abr (Xinhua) — Os primeiros 100 dias do segundo mandato do presidente dos EUA, Donald Trump, tiveram grandes mudanças e a execução precipitada de políticas, gerando várias batalhas jurídicas e controvérsias entre a população americana.

Embora o governo tenha alardeado "vitórias infinitas", críticos disseram que algumas das medidas de Trump são muito rápidas e extremas, o que poderia impactar negativamente a economia e a sociedade americanas. Alguns até mostraram preocupações com o enfraquecimento do sistema e uma crise constitucional.

SURPRESAS E CHOQUES DIÁRIOS

Em seus primeiros 100 dias, o governo Trump trouxe surpresas e choques diários para os Estados Unidos e para o mundo, assinando um número massivo de decretos, reduzindo significativamente o tamanho de agências e funcionários federais, deportando imigrantes à força, usando a força das tarifas contra o mundo, continuando a se retirar de grupos internacionais e rompendo acordos, e até mesmo ameaçando expansão territorial.

"Nenhum presidente nos tempos modernos agiu com mais rapidez do que Trump para reformular tantos setores do governo, assim como algumas instituições externas", relatou o jornal americano The Washington Post.

Em discurso em um comício em Michigan na terça-feira, Trump descreveu seus primeiros 100 dias como os mais bem-sucedidos entre os governos na história dos EUA. Apesar de sua confiança, muitos especialistas mostraram preocupação com as implicações de suas políticas.

"Os americanos se preocupam com imigrantes cruzando a fronteira ilegalmente, isso tem sido uma boa questão para (Trump) politicamente. Mas pesquisas mostram que as pessoas não gostam de sua abordagem e sentem que ele tem deportado pessoas sem o devido processo legal", disse à Xinhua, Darrell West, membro sênior da Instituição Brookings.

Trump impôs tarifas a muitos parceiros comerciais, para insatisfação de muitos economistas que acreditam que o aumento das tarifas desencadeará uma desaceleração econômica.

"A série de tarifas está criando muita incerteza entre os CEOs, eles estão preocupados não apenas com suas próprias cadeias de suprimentos e clientes, mas também com os impactos em outras áreas da economia", disse à Xinhua, Gary Clyde Hufbauer, pesquisador sênior não-residente do Instituto Peterson de Economia Internacional.

"Eles atrasam as decisões de investimento. Enquanto isso, a confiança do consumidor despencou. Espero que os consumidores adiem compras de alto valor", disse Hufbauer, acrescentando que a combinação implica uma recessão no segundo semestre deste ano.

A Casa Branca afirmou que é necessário cortar os gastos do governo, visto que há "fraude e desperdício" em massa, incumbindo o empresário bilionário Elon Musk de chefiar o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês). Mas opositores e alguns especialistas disseram que os cortes de Trump não reduzirão muito a dívida, e que funcionários públicos estão sendo injustamente punidos em uma tentativa de politizar as agências governamentais.

"Eficiência é um pretexto. O principal objetivo do DOGE parece ser fechar ou incapacitar agências às quais Trump e seus apoiadores se opõem, como a USAID e o Departamento de Educação", disse à Xinhua, Christopher Galdieri, professor de ciência política na Faculdade Saint Anselm.

MAIS DE 200 AÇÕES JUDICIAIS

As rápidas mudanças de política do presidente foram acompanhadas por um aumento avassalador no número de litígios, com mais de 200 ações judiciais movidas em tribunais em todo o país.

Essas contestações judiciais têm como alvo mais de 20 decretos executivos e várias ações executivas. Os autores incluem uma coalizão de estados, proprietários de pequenas empresas, funcionários federais que foram demitidos, organizações de direitos dos imigrantes, estudantes internacionais cujos vistos foram revogados e a Universidade Harvard.

Observadores notaram que, desde seu retorno à Casa Branca, Trump tem tentado explorar sistematicamente os limites do poder presidencial, particularmente confiando na autoridade executiva para impulsionar políticas. Essas políticas incluem a eliminação da "cidadania por direito de nascença", a deportação forçada de imigrantes, o congelamento de gastos federais, o corte de verbas para educação e pesquisa, entre outras.

"Os conflitos jurídicos em torno da enxurrada de ações executivas do presidente Trump estão se intensificando, com novos processos e novas decisões surgindo dia e noite", segundo o jornal americano The New York Times, que observou que, até 28 de abril, pelo menos 123 dessas decisões suspenderam, pelo menos temporariamente, algumas das iniciativas do governo.

Os críticos acusaram o governo Trump de desrespeitar a autoridade dos tribunais, já que Trump criticou publicamente juízes federais que decidiram contra as políticas de seu governo e até mesmo pediu impeachment.

"A posição do governo desde que assumiu o cargo é a de que sempre que houver uma decisão contrária, a Suprema Corte reverterá a decisão de qualquer forma, portanto, não precisa seguir o que a instância inferior decidiu", disse à Xinhua, Clay Ramsay, pesquisador do Centro de Estudos Internacionais e de Segurança da Universidade de Maryland.

Enquanto isso, as ações do governo Trump não enfrentaram verificações efetivas do Congresso.

O casal Wood, que dirigiu mais de três horas do Condado de Bradford, Pensilvânia, para participar de um protesto recente em Washington D.C., disse à Xinhua que estava muito decepcionado com o Congresso, controlado pelos republicanos, por ficar em silêncio sobre políticas como deportação de imigrantes, aumento de tarifas e demissões do governo, todas as quais enfrentaram ampla oposição pública.

"Eles não estão fazendo o trabalho deles. Não estão sendo um contraponto aos outros dois poderes do governo, para dar voz à vontade do povo, estão fazendo o oposto", disse Wood.

Manifestantes em protesto em frente à Casa Branca em Washington, D.C., Estados Unidos, no dia 19 de abril de 2025. (Xinhua/Hu Yousong)

PROTESTOS NACIONAIS

Desde que Trump assumiu o cargo, há três meses, protestos têm ocorrido com frequência nos Estados Unidos. Em 5 de abril, mais de 1.000 protestos foram realizados em todo o país, abrangendo todos os 50 estados. Na capital do país, os protestos viraram algo regular, impulsionados por políticas como demissões em larga escala no governo federal.

"Parem as deportações ilegais!", "Devido processo legal agora!", "Os trabalhadores devem ter poder, não os bilionários!", "A crise constitucional chegou!", um protesto em 19 de abril em frente à Casa Branca teve vários cartazes chamativos escritos à mão.

Em meio à insatisfação pública, o apoio ao governo Trump continua em declínio. Apenas 39% dos entrevistados em uma pesquisa recente da ABC News/Washington Post/Ipsos disseram aprovar a forma como Trump está conduzindo seu mandato, marcando o menor índice de aprovação de 100 dias entre todos os presidentes dos EUA nos últimos 80 anos.

Três meses após o início da presidência de Trump, seu governo está apenas tornando os ricos ainda mais ricos, disse recentemente à Xinhua, Frank, que trabalha para uma organização sem fins lucrativos. "Todas as suas políticas visam garantir que os ricos que doaram para sua campanha fiquem ainda mais ricos. Portanto, acabar com os impostos para os ricos, garantindo que as empresas sejam mais fortes e poderosas, é uma agenda de bilionários, não da população", disse ele.

Analistas apontam que a política "América Primeiro" do governo Trump está desestabilizando a economia global, minando a ordem global e aumentando a incerteza.

No último relatório Perspectivas Econômicas Mundiais, o FMI rebaixou a previsão de crescimento econômico global para 2025 para 2,8%, 0,5 ponto percentual abaixo da projeção feita em janeiro. Observando que isso, por si só, é um "grande choque negativo", o FMI afirmou no relatório que a "imprevisibilidade" com que essas medidas vêm se desenrolando também tem impacto negativo na atividade econômica e nas perspectivas.

Goodman Chakanyuka, diretor-executivo de risco de crédito do Banco de Comércio e Desenvolvimento, uma instituição financeira africana para o desenvolvimento regional, afirmou estar preocupado com o futuro.

"No momento, há muito caos e é difícil fazer planejamentos", disse Chakanyuka. "É preciso esperar evento após evento. Portanto, é crise após crise... talvez leve mais alguns meses até vermos estabilidade", disse ele, acrescentando que isso não é adequado para o crescimento econômico.

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