Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, faz declaração à imprensa sobre contramedidas da UE às tarifas dos EUA em Estrasburgo, França, no dia 12 de março de 2025. (União Europeia/Divulgação via Xinhua)
A decisão do presidente dos EUA, Trump, de impor tarifas de 25% sobre todos os carros importados gerou críticas generalizadas em toda a Europa, com líderes políticos, especialistas e representantes da indústria pedindo a implementação de contramedidas.
Berlim, 27 mar (Xinhua) -- O presidente dos EUA, Donald Trump, transformou sua ameaça anterior em ação na quarta-feira ao assinar uma ordem executiva impondo tarifas de 25% sobre todos os veículos importados.
A medida gerou uma onda de críticas por toda a Europa, levando líderes políticos, especialistas e representantes da indústria a pedirem contramedidas. Eles também pediram o fortalecimento dos laços comerciais com outros parceiros para ajudar a compensar o impacto do aumento das tarifas.
OPOSIÇÃO GENERALIZADA
Destacando a importância da parceria transatlântica e do livre comércio como pilares da prosperidade para a Europa e os Estados Unidos, Hildegard Mueller, presidente da Associação Alemã da Indústria Automotiva, descreveu a decisão de Trump como "um sinal desastroso para o comércio livre e baseado em regras".
Os comentários de Mueller ecoam as críticas generalizadas e as crescentes tensões nas relações transatlânticas, que foram ainda mais inflamadas pela forte reação da Europa na quinta-feira.
A partir de 2 de abril, as tarifas anteriormente baixas sobre importações de carros entre os dois aliados não serão mais válidas, com as taxas definidas para aumentar drasticamente. A medida segue a alegação de Trump de que o superávit comercial da União Europeia com os Estados Unidos, principalmente no setor automotivo, é excessivo.
O presidente francês, Emmanuel Macron, chamou as tarifas adicionais de equivocadas tanto econômica quanto geopoliticamente. Ele também questionou o momento da mudança, apontando para a ironia de que os aliados de longa data dos EUA foram os primeiros a serem alvos. "É um paradoxo ver os principais aliados dos Estados Unidos sendo os primeiros a serem taxados", disse ele.
Presidente dos EUA, Donald Trump, participa de evento comemorativo do Dia da Independência da Grécia na Casa Branca em Washington, D.C., Estados Unidos, no dia 24 de março de 2025. Trump disse na segunda-feira que pode "dar a muitos países folgas" nas tarifas, já que seu prazo de 2 de abril para impor "tarifas recíprocas" aos parceiros comerciais dos EUA está chegando. (Xinhua/Hu Yousong)
Jose Lopez-Tafall, diretor-geral da Associação Espanhola de Fabricantes de Automóveis e Caminhões, descreveu as tarifas como "claramente negativas", alertando que elas abrem caminho para "um confronto econômico" entre ambos os lados.
"A nova administração dos EUA está adotando uma abordagem cada vez mais confrontacional em relação aos seus parceiros comerciais", disse Sonali Chowdhry, especialista em comércio do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica. Ela observou que as novas tarifas automotivas têm como alvo uma indústria altamente globalizada e certamente interromperão cadeias de suprimentos internacionais complexas.
A Associação da Indústria Automotiva Tcheca também expressou sua "séria preocupação" sobre a interrupção que as taxas podem causar às economias de fabricantes e fornecedores europeus, alertando que as tarifas ameaçam sua competitividade global.
TARIFAS AMEAÇAM OS DOIS LADOS DO ATLÂNTICO
Os especialistas concordam amplamente que o aumento das tarifas infligirá danos econômicos à Europa e aos Estados Unidos. Espera-se que o aumento resultante nos custos seja repassado diretamente aos consumidores dos EUA, alimentando a inflação, ao mesmo tempo em que reduz as exportações europeias e leva a potenciais perdas de empregos em todo o continente. Além disso, muitos veículos fabricados nos EUA dependem fortemente de componentes provenientes da Europa.
"Não há vencedores em uma guerra comercial", disse Dirk Jandura, presidente da Federação Alemã de Atacado, Comércio Exterior e Serviços. O órgão comercial havia projetado anteriormente um declínio de 2,7% no comércio exterior alemão em 2025. "Agora revisaremos essa previsão significativamente para baixo", acrescentou Jandura.
Espera-se que o impacto das tarifas atinja as montadoras alemãs de forma particularmente dura, já que uma parcela substancial de suas exportações é destinada ao mercado dos EUA.
De acordo com o Escritório Federal de Estatística da Alemanha, cerca de 3,4 milhões de novos veículos alemães foram exportados em 2024, com os Estados Unidos respondendo por 13,1% do total.
O Reino Unido também deve ser fortemente afetado, já que os Estados Unidos são seu segundo maior mercado de exportação de carros depois da União Europeia. A chanceler britânica do Tesouro, Rachel Reeves, disse que as negociações seriam realizadas entre os dois países para forjar um melhor relacionamento comercial. "Guerras comerciais não são boas para ninguém, e o Reino Unido não quer intensificar esse conflito", disse Reeves.
Um estudo italiano de Marco Simoni, economista político da Universidade LUISS de Roma, prevê que a economia dos EUA pode se contrair em 2 a 3% devido às tarifas. O estudo também prevê que a taxa de desemprego poderá aumentar três pontos percentuais entre 2025 e 2032, enquanto a inflação poderá aumentar 4% nos próximos dois anos.
Funcionário limpa carro Rolls-Royce Cullinan Black Badge/Wraith no salão "Dream Cars" da 98ª edição do Salão do Automóvel de Bruxelas, em Bruxelas, Bélgica, no dia 8 de janeiro de 2020. (Xinhua/Zheng Huansong)
MEDIDAS RETALIATÓRIAS POR VIR
O porta-voz da Comissão Europeia, Olof Gill, alertou na quinta-feira que a UE está preparando contramedidas "robustas" e "calibradas".
"Temos este anúncio sobre carros. Na próxima semana, entendemos que um novo conjunto de medidas dos EUA, o que eles estão chamando de tarifas recíprocas, entrará em vigor. É lamentável, mas estamos nos preparando para tudo isso", disse Gill.
O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, observou que as tarifas dos EUA "não foram surpresa", acrescentando que a Comissão Europeia havia se coordenado de perto com os estados-membros da UE em antecipação a esses movimentos. "Não recuaremos para os EUA", enfatizou ele.
O ministro das Finanças francês, Eric Lombard, disse que a única resposta viável da UE é impor tarifas mais altas sobre produtos dos EUA. Uma lista de produtos americanos alvos está sendo finalizada e deve entrar em vigor em meados de abril.
Bernd Lange, presidente do Comitê de Comércio do Parlamento Europeu, sugeriu que medidas retaliatórias poderiam incluir mirar grandes empresas de tecnologia dos EUA, como Google, Amazon e Netflix, que mantêm extensas bases de clientes e influência de mercado na Europa. Ele propôs que serviços digitais fossem considerados para tarifas adicionais.
Essa postura ecoa comentários recentes de Dirk Jandura, que emitiu uma declaração intitulada "Comércio Exterior Exige Contramedidas Duras". Nela, ele pediu à UE que respondesse decisivamente ao que chamou de ações unilaterais e violadoras de regras de Washington.
Ele também destacou a importância de abordar a posição dominante mantida pelas corporações digitais americanas no mercado europeu.
Pessoas observam veículo elétrico da Volkswagen na Swedish eCarExpo 2024 em Estocolmo, Suécia, no dia 2 de fevereiro de 2024. (Foto por Patrick Ekstrand/Xinhua)
EXPANDENDO PARCERIAS ALÉM DOS EUA
Além das medidas retaliatórias contra os Estados Unidos, especialistas pediram uma cooperação mais profunda com outros parceiros comerciais para ajudar a compensar o impacto negativo do aumento das tarifas.
Sonali Chowdhry argumentou que o crescimento econômico e a resiliência de longo prazo da UE dependerão do fortalecimento do comércio dentro do mercado único europeu e com outros parceiros de livre comércio, a fim de diversificar os destinos de exportação.
"É benéfico nos movermos mais decisivamente em direção a regiões onde a cooperação é possível. Um exemplo é a China", disse Ferdinand Dudenhoeffer, proeminente especialista automotivo alemão e diretor do Centro de Pesquisa Automotiva (CAR, na sigla em inglês).
Ele sugeriu que o setor automotivo deveria dar maior ênfase a plataformas internacionais, como a próxima edição do Salão do Automóvel de Shanghai.
Falando à Xinhua, Mario Boselli, presidente da Fundação Conselho Itália-China, disse que o retorno de Trump à Casa Branca, combinado com uma falta de coesão dentro da UE, poderia afetar ainda mais a dinâmica econômica e comercial global. Essas mudanças, disse ele, podem levar a Europa a reavaliar sua estratégia econômica externa, com uma cooperação mais forte com a China representando "uma escolha altamente estratégica".