Foto tirada com celular no dia 10 de fevereiro de 2025 mostra cliente procurando ovos em loja da Costco em Azusa, Condado de Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos. (Xinhua/Gao Shan)
* Conforme a turbulência tarifária aumenta e os riscos de inflação voltam a aumentar, economistas e participantes do mercado estão cada vez mais preocupados se a "maneira mais difícil" a qual Trump se refere levará a uma recessão econômica ou mesmo à estagflação.
* Sob o caos tarifário, enquanto a atividade econômica desacelera, os preços podem subir. Alguns economistas temem que, se essa situação continuar, poderá levar a economia dos EUA à estagflação.
Por Xiong Maoling
Washington, 16 mar (Xinhua) -- Com os principais indicadores econômicos dos EUA mostrando tendências preocupantes, economistas e investidores alertam que o risco de uma "Trumpcessão" aumentou devido a políticas comerciais e econômicas imprevisíveis.
Para muitos eleitores americanos, Donald Trump foi visto como uma esperança para aliviar a inflação e melhorar a perspectiva econômica durante sua campanha eleitoral.
No entanto, quase dois meses após retornar à Casa Branca, o presidente dos EUA disse que está fazendo isso da "maneira mais difícil", aparentemente dizendo ao público americano para ajustar suas expectativas para a economia dos EUA.
PREOCUPAÇÕES CRESCENTES COM AS CONSEQUÊNCIAS TARIFÁRIAS
Conforme a turbulência tarifária aumenta e os riscos de inflação voltam a aumentar, economistas e participantes do mercado estão cada vez mais preocupados se a "maneira mais difícil" a que Trump se refere levará a uma recessão econômica ou mesmo à estagflação.
Na quarta-feira, as tarifas de 25% sobre aço e alumínio impostas pelo governo Trump a todos os parceiros comerciais entraram oficialmente em vigor, sem isenções. Essa política rapidamente provocou retaliações do Canadá e da União Europeia (UE), o que levou Trump a ameaçar uma tarifa de 200% sobre produtos alcoólicos da UE na quinta-feira.
Esses desenvolvimentos, juntamente com as recentes políticas tarifárias "intermitentes" de Trump em relação ao México e ao Canadá, levaram a uma queda acentuada no mercado de ações dos EUA nas últimas semanas, indicando um declínio significativo na confiança dos investidores.
Placa "Produtos Canadenses" na entrada de supermercado em Vancouver, British Columbia, Canadá, no dia 4 de março de 2025. (Foto por Liang Sen/Xinhua)
"A incerteza tarifária recebeu a maior parte da culpa pela pressão de venda e está exacerbando as preocupações com o crescimento econômico", disse Adam Turnquist, estrategista técnico chefe da LPL Financial, em nota na quinta-feira.
Em entrevista à Fox News no começo deste mês, quando perguntado se esperava uma recessão este ano, Trump disse: "Odeio prever coisas assim", observando que "há um período de transição". Na terça-feira, quando perguntado na Casa Branca "Você acha que haverá recessão?", Trump respondeu: "De forma alguma".
"Posso fazer isso do jeito fácil ou do difícil. O difícil de fazer é exatamente o que estou fazendo, mas os resultados serão 20 vezes maiores", disse Trump aos repórteres.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse na quinta-feira na CNBC que não está preocupado com "um pouco de volatilidade ao longo de três semanas". Bessent disse que o governo Trump está focado na "economia real" e nas perspectivas de longo prazo.
"A pressão total" de Trump e seus funcionários "sinaliza que eles estão sob muita pressão de pessoas que ouvem, o mercado de ações, legisladores republicanos e líderes empresariais", disse Kate Kalutkiewicz, diretora-gerente sênior da McLarty Associates, uma empresa de consultoria, citada pelo The New York Times. Kalutkiewicz trabalhou no Conselho Econômico Nacional no primeiro mandato de Trump.
Embora os líderes empresariais geralmente não tenham se oposto publicamente às políticas tarifárias de Trump, algumas empresas já alertaram sobre as consequências negativas que essas políticas podem trazer.
Gigantes do varejo como Walmart e Target previram em suas recentes teleconferências de resultados que os gastos do consumidor diminuiriam devido à incerteza econômica causada pelas ameaças tarifárias de Trump. A Delta Air Lines cortou recentemente sua previsão de lucro pela metade, alertando que a incerteza econômica estava fazendo com que passageiros em potencial reconsiderassem seus planos de viagem.
Cliente sai de loja da Target em Rosemead, Condado de Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos, no dia 4 de março de 2025. (Foto por Zeng Hui/Xinhua)
O Índice de Otimismo para Pequenas Empresas da Federação Nacional de Empresas Independentes (NFIB, na sigla em inglês) divulgado na terça-feira caiu pelo segundo mês consecutivo em fevereiro para 100,7, enquanto o índice de incerteza subiu para 104, seu segundo maior nível já registrado.
"A recente onda de atividade tarifária parece ter prejudicado as expectativas econômicas e colocado pressão ascendente sobre os preços das pequenas empresas", escreveram economistas do Wells Fargo em análise.
Em nota publicada na segunda-feira, Jan Hatzius, economista-chefe do Goldman Sachs, rebaixou significativamente a previsão de crescimento do PIB dos EUA para 2025 de 2,4% para 1,7%. Ele afirmou que o motivo do rebaixamento foi que as suposições de política comercial ficaram "consideravelmente mais adversas" e a administração está "gerenciando expectativas em relação à fraqueza econômica de curto prazo induzida por tarifas".
ESTIMATIVAS PESSIMISTAS SOBRE A ECONOMIA
Dean Baker, economista sênior do Centro de Pesquisa Econômica e Política, disse à Xinhua: "Com certeza muitas empresas estão adiando as contratações por causa da política comercial de Trump e também dos cortes erráticos no orçamento do governo".
"Isso praticamente garante um crescimento mais lento, o que aumenta o risco de recessão", disse Baker, acrescentando que não sabe se "o que vimos até agora realmente causará uma recessão".
Na quarta-feira, Bruce Kasman, economista-chefe global do JPMorgan, mostrou preocupações maiores sobre a economia dos EUA. Ele disse a repórteres em Cingapura que o banco de investimento agora estima uma chance de 40% de haver recessão nos EUA este ano.
Alguns economistas são mais pessimistas. "Acho que vimos uma mudança radical na percepção nos quase dois meses desde a posse do presidente Trump", escreveu na rede social X, Lawrence Summers, professor e presidente emérito da Universidade Harvard, estimando que a chance de a economia dos EUA entrar em recessão já está perto de 50%.
Summers destacou a combinação de "restrições substanciais à imigração, demissões substanciais no governo federal" e "os danos à competitividade dos EUA e à produção dos EUA causados pela tarifação".
Incerteza é a palavra-chave do momento. Art Hogan, estrategista-chefe de mercado da B. Riley Wealth Management, disse que os investidores estão preocupados que isso vire uma desaceleração econômica fabricada pela culatra. "Não sabemos qual será o resultado", ele foi citado pela CNN.
Sob o caos tarifário, enquanto a atividade econômica desacelera, os preços podem subir. Alguns economistas temem que, se essa situação continuar, poderá levar a economia dos EUA à estagflação.
Foto tirada em 14 de janeiro de 2025 mostra prateleira de ovos vazia em supermercado em Arlington, Estados Unidos. (Xinhua/Xiong Maoling)
Baker disse à Xinhua que "várias medidas de expectativas mostram que consumidores e empresas estão esperando uma inflação maior".
"Com Trump adicionando tarifas a isso, há pouquíssima chance de a taxa cair para a meta de 2%", disse à Xinhua, Gary Clyde Hufbauer, membro sênior não residente do Instituto Peterson de Economia Internacional. "Meu palpite é que a inflação persistirá na faixa de 3,0% a 3,8% pelos próximos 6 meses", disse ele.
A NBC News disse em reportagem que "em vez de reacender a economia, as políticas econômicas incomuns e sem precedentes de Trump, como tarifas, cortes de impostos e reduções de gastos, estão levantando o espectro não apenas de uma recessão, mas também de estagflação: aumentos sustentados de preços sem crescimento para acompanhá-los".
O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, disse em entrevista à CBS na terça-feira que mesmo que as políticas econômicas de Trump levassem a uma recessão, essas políticas ainda "valem a pena". A resposta final para saber se elas "valem a pena", no entanto, virá da população que é afetada.
Uma nova pesquisa da CNN mostra que, conforme os mercados declinam e os investidores expressam preocupações sobre as políticas comerciais de Trump, 56% dos americanos desaprovam as políticas econômicas de Trump, enquanto apenas 39% aprovam suas políticas tarifárias.