Opinião: Quando os direitos humanos se tornam uma arma: os riscos da política externa dos EUA-Xinhua

Opinião: Quando os direitos humanos se tornam uma arma: os riscos da política externa dos EUA

2025-03-14 13:32:03丨portuguese.xinhuanet.com

Foto tirada em 22 de maio de 2024 mostra a Casa Branca em Washington, D.C., nos Estados Unidos. (Xinhua/Liu Jie)

Os Estados Unidos são realmente um defensor global da democracia e dos direitos humanos? 

Suas realidades domésticas e operações no exterior indicam um retumbante não.

Por Hua Gesheng

Para muitos europeus, a Conferência de Segurança de Munique, realizada no mês passado, foi o momento da verdade, revelando a verdadeira natureza da política externa dos EUA. O vice-presidente dos EUA, JD Vance, desferiu um ataque contundente contra a Europa durante o encontro global anual, tendo como alvo países como Alemanha, Reino Unido, Suécia e Romênia por sua forma de lidar com a democracia e os direitos humanos.

O ataque de Vance à Europa provocou uma reação dos líderes europeus. O chanceler alemão, Olaf Scholz, rejeitou firmemente a intrusão de Washington, dizendo: "Não aceitaremos que pessoas de fora se intrometam em nossos processos democráticos ou na opinião pública". O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, escreveu em rede social: "Nenhum país é obrigado a adotar o modelo de outro, nem nenhuma nação pode impor seu próprio modelo à Europa."

O repreensão de Washington, embora incomum para a Europa, não é novidade. Há décadas, os Estados Unidos vêm abusando dos conceitos de democracia e direitos humanos para fins políticos, especialmente contra países que não seguem a linha dos EUA em termos ideológicos ou estratégicos.

Historicamente, essa abordagem tem sido direcionada a países como a China e a Rússia. Agora, os aliados dos EUA se encontram na mira.

DUPLO PADRÃO

Os Estados Unidos são realmente um defensor global da democracia e dos direitos humanos? Suas realidades domésticas e operações no exterior indicam um retumbante não. Se Washington estivesse realmente comprometido com os princípios, não teria permitido a discriminação sistêmica contra seus cidadãos, principalmente afro-americanos, latinos, asiático-americanos e outros grupos minoritários. Tampouco teria permitido que a crise da violência armada não fosse abordada e persistisse, ferindo o direito humano mais fundamental - o direito à vida.

Enquanto todos esses problemas estão se alastrando em seu próprio quintal, os Estados Unidos têm se ocupado em criar problemas em outras partes do mundo. Suas operações militares no exterior mataram e desalojaram milhões de civis inocentes. Além disso, suas medidas coercitivas unilaterais contra países como Cuba prejudicaram os meios de subsistência da população local, negando-lhes direitos humanos básicos, como acesso a medicamentos e alimentos. Mais recentemente, seu flagrante desrespeito aos direitos fundamentais de cidadãos brasileiros deportados como imigrantes ilegais expõe mais uma vez seu duplo padrão em relação aos direitos humanos.

Esse grande contraste entre a retórica e o comportamento gera sérias preocupações sobre a verdadeira face por trás da persona dos EUA.

O presidente dos EUA, Donald Trump, fala em uma coletiva de imprensa conjunta com o presidente francês Emmanuel Macron (não na foto) na Casa Branca em Washington, D.C., Estados Unidos, em 24 de fevereiro de 2025. (Xinhua/Hu Yousong)

MOTIVAÇÃO REAL

Se os direitos humanos são apenas pretextos, qual é o verdadeiro objetivo dos Estados Unidos? Duas coisas significam muito para o governo dos EUA.

Primeiro, a base política interna. O discurso de Vance, embora dirigido à Europa, foi feito para reforçar o apoio popular do governo de Donald Trump no país. Sua ênfase na liberdade de expressão e na política de imigração atendeu aos principais apoiadores do governo. Foi uma ferramenta para mobilizar a base e uma reação à crescente oposição dentro do país.

Segundo, a hegemonia global. Os Estados Unidos estão empenhados em manter seu domínio global. Eles não tolerarão que alguém seja visto como desafiador dos Estados Unidos em assuntos internacionais. As críticas do governo Trump à Europa, apresentadas como uma defesa da democracia, são, na verdade, uma tentativa de pressionar as nações europeias a alinhar suas políticas com os interesses estratégicos americanos, especialmente em segurança, economia e arquitetura global.

O mesmo medo de perder o domínio tem motivado os ataques dos EUA à China. A impressionante semelhança na retórica contra os aliados e outros ressalta que essas críticas têm menos a ver com princípios e mais com manobras geopolíticas.

ALTOS RISCOS

O uso dos direitos humanos como ferramenta política representa um sério risco e prejudica os valores fundamentais e os princípios básicos da humanidade. A democracia e os direitos humanos devem ser direitos fundamentais aos quais todas as nações e cidadãos têm direito. Entretanto, quando são manipulados como ferramentas para atingir interesses nacionais específicos, eles perdem sua autoridade moral e credibilidade.

Essa abordagem também prejudica as relações internacionais. Armar a democracia e os direitos humanos pode gerar tensões diplomáticas e aprofundar as divisões. Quando as nações percebem esses valores como ferramentas de interferência estrangeira, o ressentimento aumenta. Isso poderia potencialmente aumentar os conflitos e prejudicar a cooperação em questões globais urgentes, exacerbando ainda mais o já turbulento cenário internacional.

Ao se reunirem para a 58ª sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (UNHRC, na sigla em inglês), os países devem estar vigilantes contra a potencial exploração deste importante fórum para ganho político. O recente anúncio dos EUA de se retirar novamente do UNHRC já lançou uma sombra sobre o conselho. Se a agência se tornar uma plataforma para abusar do duplo padrão e da postura geopolítica, ela corre o risco de perder ainda mais sua credibilidade e eficácia no avanço dos direitos humanos globais.

Os direitos humanos devem ser entendidos dentro do contexto das realidades históricas, culturais e sociais únicas de cada país. Não existe um modelo único que se aplique universalmente, e nenhuma nação tem autoridade para ditar políticas a outras. Em vez disso, a comunidade global deve priorizar o diálogo construtivo e o respeito mútuo em vez da coerção e do confronto ideológico.

Como uma das principais instituições da ONU, o conselho deve ser um fórum para o diálogo genuíno, e não um mecanismo para ambições hegemônicas. Para estabelecer uma estrutura internacional de direitos humanos justa, equitativa e inclusiva, o verdadeiro multilateralismo é essencial. As nações devem se envolver em intercâmbios equitativos e significativos, deixando de lado os preconceitos políticos para promover uma abordagem mais eficaz e cooperativa dos direitos humanos globais.

O futuro dos direitos humanos internacionais depende do diálogo, não da divisão; está na cooperação, não na coerção. Os direitos humanos não são uma arma, mas uma fita. As armas atacam, mas as fitas unem. Somente por meio da união podemos fazer uma diferença real.

Nota do editor: Hua Gesheng é comentarista de assuntos internacionais e multilaterais, escrevendo regularmente para a Agência de Notícias Xinhua, o jornal Global Times, o jornal China Daily, a emissora CGTN e etc. Ela pode ser contatada pelo e-mail gesheng1213@gmail.com.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade da autora e não refletem necessariamente as posições da Agência de Notícias Xinhua.

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