Foto de arquivo tirada em 21 de fevereiro de 2016 mostra o fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, fazendo um discurso na véspera do início oficial do Congresso Mundial de Telefonia Móvel (MWC, na sigla em inglês) em Barcelona, Espanha. (Xinhua/Lino De Vallier)
Os apoiadores acreditam que essa medida significa a tentativa da Meta de encontrar um equilíbrio entre a liberdade de expressão, a autenticidade das informações e a responsabilidade da plataforma. Entretanto, os críticos argumentam que essa medida poderia reabrir as comportas para a desinformação, como notícias falsas, discurso de ódio e teorias da conspiração.
São Francisco, 12 jan (Xinhua) -- A gigante americana da mídia social Meta anunciou na terça-feira o encerramento de seu programa de checagem de fatos nos Estados Unidos e a sua substituição por um sistema de "Notas da Comunidade" para gerenciamento de conteúdo. A mudança começaria nos Estados Unidos.
Os apoiadores acreditam que essa medida significa a tentativa do Meta de encontrar um equilíbrio entre a liberdade de expressão, a autenticidade das informações e a responsabilidade da plataforma. Entretanto, os críticos argumentam que essa medida poderia reabrir as comportas para a desinformação, como notícias falsas, discurso de ódio e teorias da conspiração.
O QUE É "CHECAGEM DE FATOS"?
O programa de checagem de fatos foi uma iniciativa de revisão e gerenciamento de conteúdo lançada pelo antecessor da Meta, o Facebook, em 2016. Seu objetivo era combater a disseminação de desinformação em sua plataforma, colaborando com organizações independentes de terceiros para verificar a autenticidade do conteúdo.
Esse programa foi introduzido em resposta às críticas generalizadas durante as eleições presidenciais dos EUA em 2016, quando a plataforma foi acusada de permitir a proliferação de notícias falsas.
Com base nos resultados da checagem de fatos, o conteúdo seria categorizado como informação falsa, informação parcialmente falsa ou sem contexto.
As informações errôneas eram sinalizadas e acompanhadas de avisos ou links de contexto com informações factuais. O alcance desse conteúdo era restrito, e os usuários eram informados sobre as imprecisões. Os infratores reincidentes enfrentavam redução da visibilidade da conta ou penalidades mais severas, como restrições de comentários ou suspensões de contas.
POR QUE CANCELAR?
Embora a checagem de fatos seja uma ferramenta vital no combate à desinformação, beneficiando a disseminação de informações e a governança social, sua implementação na Meta gerou controvérsias, com preocupações sobre parcialidade, erros de julgamento e restrições à liberdade de expressão.
O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, disse em um vídeo na terça-feira que "os verificadores de fatos têm sido muito tendenciosos politicamente" e "destruíram mais confiança do que criaram".
A empresa disse que removeu milhões de conteúdos diariamente em dezembro, mas admitiu que uma a duas em cada 10 dessas ações "podem ter sido erros", enquanto algumas exclusões "podem não ter realmente violado suas políticas". A empresa disse que expandiria os relatórios de transparência para compartilhar números sobre os erros regularmente, para que as pessoas possam acompanhar seu progresso.
Ao anunciar a decisão de encerrar o programa, a Meta disse que seu sistema de gerenciamento de conteúdo e suas regras eram excessivamente complexos e aplicados em excesso, examinando muitas questões triviais e restringindo debates políticos legítimos. "Muito conteúdo inofensivo é censurado", disse Joel Kaplan, diretor de assuntos globais da Meta, acrescentando que muitas pessoas estão erroneamente presas na "prisão do Facebook".
O cancelamento do programa de checagem de fatos marca uma mudança na estratégia de gerenciamento de conteúdo da Meta, com o objetivo de equilibrar a luta contra a desinformação com a preservação da liberdade de expressão. Espera-se que essa mudança afete as operações da plataforma, a experiência do usuário, o discurso público e o ecossistema de informações mais amplo.
O QUE SÃO "NOTAS DA COMUNIDADE"?
A Meta anunciou que substituiria o programa de checagem de fatos por um sistema mais aberto e descentralizado de "Notas da Comunidade". Ele se inspira em um sistema semelhante implementado no X, onde, segundo informações, foi bem-sucedido na redução de preconceitos.
O modelo de "Notas da Comunidade" é uma abordagem de gerenciamento de conteúdo que envolve a participação da comunidade na revisão e complementação de informações básicas. Seu objetivo é fornecer um julgamento e uma interpretação mais abrangentes e transparentes do conteúdo on-line por meio de diversos usuários.
De acordo com a Meta, o modelo de "Notas da Comunidade" exige que usuários com pontos de vista diferentes cheguem a um consenso. Essa abordagem de baixo para cima contrasta com o processo de revisão conduzido pela plataforma, ajudando a reduzir a parcialidade e a aumentar a transparência das informações.
A Meta planeja implementar gradualmente do sistema de "Notas da Communidade" nos Estados Unidos primeiro nos próximos meses e continuará a aprimorá-lo ao longo do ano.
Especialistas do setor apontam que, embora o cancelamento do mecanismo de checagem de fatos possa restaurar mais espaço para discussões de tópicos políticos e principais e permitir que os usuários acessem conteúdo menos controlado, isso pode levar a desafios na governança de conteúdo se o modelo de "Notas da Comunidade" se mostrar ineficaz. A ausência de uma supervisão robusta poderia exacerbar a disseminação da desinformação, desestabilizar ainda mais o ecossistema de informações, corroer a confiança do público e intensificar as divisões políticas, sociais e culturais nos Estados Unidos.
REAÇÕES GLOBAIS
"Vamos voltar às nossas raízes e nos concentrar em reduzir os erros, simplificar nossas políticas e restaurar a liberdade de expressão em nossas plataformas", disse Zuckerberg.
A Reuters informou que essa medida é a mudança mais significativa da Meta em sua abordagem de gerenciamento de conteúdo político nos últimos anos. Ela é vista como uma concessão às críticas conservadoras e uma tentativa de fazer as pazes com o novo governo Trump.
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, banido do Facebook após os tumultos no Capitólio em 6 de janeiro de 2021, acusou a plataforma de ser "inimiga do povo" e de censurar vozes conservadoras. Sua conta foi restabelecida em 2023.
Em resposta à nova moderação de conteúdo da Meta, Trump, em uma coletiva de imprensa, elogiou a decisão de Zuckerberg e disse que o Meta havia feito um progresso significativo, sugerindo que a mudança poderia ser uma resposta às suas críticas anteriores à empresa. Elon Musk também elogiou a decisão. "Isso é legal", ele postou em sua plataforma X.
O presidente dos EUA, Joe Biden, criticou a Meta na sexta-feira, chamando a medida de "realmente vergonhosa".
A Aliança Internacional de Checagem de Fatos (IFCN, na sigla em inglês) alertou sobre as consequências devastadoras se a Meta ampliar sua mudança de política para além dos Estados Unidos e para outros países do mundo.
"Alguns desses países são altamente vulneráveis à desinformação, que estimula a instabilidade política, a interferência nas eleições, a violência da multidão e até mesmo o genocídio", disse a IFCN em uma carta aberta a Zuckerberg.
O Ministério das Relações Exteriores da França expressou preocupação com a decisão da Meta de encerrar a checagem de fatos. Ele enfatizou em uma declaração que a liberdade de expressão, um direito fundamental protegido pela França e por outros países europeus, não deve ser confundida com o direito à viralidade, que permitiria a disseminação de conteúdo não autêntico para milhões de usuários sem qualquer filtragem ou moderação.
O ministério observou que a mudança está atualmente limitada aos Estados Unidos, mas a França continua vigilante e comprometida em garantir que a Meta, juntamente com outras plataformas, cumpra suas obrigações de acordo com as leis europeias.
A organização sem fins lucrativos Accountable Tech, dos EUA, disse nas redes sociais que a internet não aceitou a mais recente iniciativa da Meta. A empresa se preocupa, em primeiro lugar, em maximizar o lucro, "mesmo que isso signifique sacrificar a segurança do usuário, o conteúdo de qualidade e nosso senso compartilhado de verdade".
"Zuckerberg está reabrindo as comportas exatamente para a mesma onda de ódio, desinformação e teorias da conspiração que causaram o 6 de janeiro e que continuam a estimular a violência no mundo real", disse Nicole Gill, fundadora e diretora executiva da organização. "Como resultado, o mundo será muito mais perigoso."