Foto tirada em 8 de dezembro de 2024 mostra uma fumaça espessa após uma explosão em Damasco, na Síria. (Foto por Monsef Memari/Xinhua)
"Os maiores desafios nos próximos meses são três: navegar pelos desenvolvimentos de segurança, como as ações de Israel e o conflito entre a Turquia e as FDS (Forças Democráticas da Síria), impulsionar o processo político por meio do diálogo nacional e melhorar as condições de vida", disse Mohammad al-Omari, analista político sírio.
Por Hummam Sheikh Ali
Damasco, 9 jan (Xinhua) -- No dia 8 de dezembro de 2024, o governo de 54 anos de al-Assad sobre a Síria terminou abruptamente, após uma campanha militar de 11 dias liderada por combatentes da oposição que avançavam do norte.
Desde então, o novo governo da Síria tem se esforçado para restabelecer a ordem, reconstruir as instituições e se aproximar dos parceiros regionais e globais. Entretanto, administrar um país tão complexo como a Síria provou ser um desafio significativo.
ESFORÇOS DE ESTABILIZAÇÃO
Pouco depois do colapso do governo de Bashar al-Assad, os líderes do Hayat Tahrir al-Sham, a principal força por trás da ofensiva, formaram um governo interino com ministros que estavam servindo no chamado Governo de Salvação na Província de Idlib, no noroeste do país, um importante bastião da oposição durante a prolongada guerra de 13 anos na Síria.
O novo governo interino tem se esforçado para tranquilizar o público, enfatizando seu compromisso de preservar as instituições estatais e evitar o caos observado nas transições pós-regime em países como o Iraque e a Líbia.
Internamente, eles reabriram as principais estradas, suspenderam certas restrições e restabeleceram alguns serviços públicos básicos para restaurar a normalidade.
Suas medidas de segurança, no entanto, continuam sendo uma questão controversa. A repressão generalizada a supostos remanescentes da antiga ordem, juntamente com relatos esporádicos de detenções ou pequenos abusos, indicam o delicado equilíbrio entre a restauração da ordem e a proteção dos direitos individuais.
O novo gabinete também priorizou a recuperação de serviços internos, como a distribuição de eletricidade, a reabertura dos principais aeroportos e a supervisão da retomada dos escritórios do governo.
Um mês após a mudança de governo, os especialistas na Síria acreditam que é muito cedo para julgar a situação atual.
"Faz apenas um mês, portanto, é muito cedo para fazer julgamentos finais. O governo tentou primeiro manter o país estável, o que é visto como um passo positivo. A formação de um gabinete provisório ajuda a garantir a continuidade do Estado e visa melhorar a vida cotidiana dos cidadãos", disse Mohammad al-Omari, um analista político sírio, em entrevista à Xinhua.
ESFORÇOS DIPLOMÁTICOS
Em relação à política externa, a nova liderança da Síria agiu rapidamente para reparar as relações com as nações árabes e outras partes interessadas globais.
A reabertura do Aeroporto Internacional de Damasco para voos internacionais, incluindo seu primeiro voo civil do Catar em 13 anos, simboliza um passo significativo em direção à normalização das relações.
Delegações do Catar e da Turquia visitaram Damasco, enquanto o ministro interino das Relações Exteriores da Síria, Asaad Hassan al-Shibani, viajou para a Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos e Jordânia para estreitar os laços e pedir a suspensão das sanções ocidentais.
Enfatizando a inclusão, a colaboração econômica e o compromisso de atender às aspirações do povo sírio, o governo interino enviou uma mensagem de abertura para o diálogo.
Tropas israelenses são vistas perto da zona tampão nas Colinas de Golã, em 9 de dezembro de 2024. (Foto por Jamal Awad/Xinhua)
DESAFIOS DE SEGURANÇA
Apesar dos esforços diplomáticos, as ameaças à segurança persistem, pois as tropas israelenses avançaram repetidamente nas províncias de Quneitra e Daraa, no sul da Síria, causando o fechamento de estradas e a interrupção escolares.
O norte da Síria continua enfrentando confrontos entre facções apoiadas pela Turquia e as Forças Democráticas da Síria (FDS), apoiadas pelos EUA, à medida que a Turquia busca eliminar as ameaças percebidas dos grupos liderados pelos curdos.
Enquanto isso, o novo governo interino tem trabalhado para conter a proliferação de armas de pequeno porte, muitas delas deixadas para trás pelas antigas forças do governo em 8 de dezembro. Civis e até mesmo adolescentes teriam adquirido armas em locais militares abandonados, causando vários acidentes.
Para resolver isso, o governo interino criou centros para a entrega de armas nas principais cidades da Síria, como parte dos esforços para estabilizar o país e evitar qualquer possível caos resultante da proliferação de armas.
DIFICULDADES ECONÔMICAS
Embora os mercados de Damasco estejam repletos de produtos e necessidades que estão mais caros do que nunca, as interrupções de energia elétrica afetam muitas áreas. Além disso, as instituições governamentais ainda não estão totalmente operacionais.
Em resposta, o governo interino anunciou na quarta-feira que dois navios de geração de energia da Turquia e do Catar, cada um com capacidade de produzir centenas de megawatts, estavam a caminho para impulsionar a rede elétrica da Síria.
Isso ajudaria a reduzir a grave escassez de energia e a expandir os serviços em quase 50%, de acordo com relatórios oficiais.
Enquanto isso, o Ministério do Petróleo da Síria disse que também estão sendo feitos esforços para reiniciar as refinarias com remessas antecipadas de petróleo bruto.
Ainda assim, a infraestrutura prejudicada, a inflação e as sanções em andamento impedem uma recuperação rápida.
Sírios fugindo da Síria estão presos na fronteira com o Líbano na área de passagem de fronteira de Masnaa em 12 de dezembro de 2024. (Foto por Maher Kamar/Xinhua)
ESTRADA À FRENTE
Acredita-se que a reconstrução da coesão social seja o desafio mais crítico. Os observadores acreditam que a nova liderança deve garantir aos grupos minoritários, às comunidades de refugiados e às diversas facções políticas que seus direitos e interesses não serão ignorados na nova era.
Todas as atenções agora estão voltadas para a planejada conferência de diálogo nacional envolvendo grupos minoritários, partidos políticos e grupos da sociedade civil, embora a data ainda não tenha sido definida.
As autoridades prometeram convidar representantes de todos os segmentos da sociedade, esperando que haja uma representação equilibrada de partidos e grupos étnicos, religiosos e políticos.
As declarações oficiais enfatizam a necessidade de retorno dos sírios deslocados, embora ainda não tenha sido anunciada uma estrutura abrangente para a reintegração.
"Os maiores desafios nos próximos meses são três: navegar pelos desenvolvimentos de segurança, como as ações de Israel e o conflito entre a Turquia e as FDS, impulsionar o processo político por meio do diálogo nacional e melhorar as condições de vida", disse al-Omari.
Ele acrescentou que a nova autoridade deve trabalhar arduamente para convencer os países ocidentais a suspender as sufocantes sanções econômicas contra a Síria.
Na segunda-feira, o Tesouro dos EUA introduziu uma licença geral de seis meses que permite negociações específicas com o governo sírio, como transações relacionadas à energia e atividades relacionadas, para facilitar a entrega de ajuda humanitária.
O Ministério das Relações Exteriores interino da Síria saudou na quarta-feira as isenções e renúncias em relação às sanções econômicas contra a Síria, atribuindo o desenvolvimento a "sessões intensivas" e elogiando o "trabalho extraordinário das equipes notáveis da Síria".
Na quarta-feira, o ministro interino das Relações Exteriores da Síria prometeu restaurar a unidade territorial total do país e garantir o retorno dos refugiados.
"Nossa felicidade permanecerá inacabada até que cada centímetro da terra síria seja reunido e as pessoas deslocadas e os refugiados voltem para suas casas", disse al-Shibani em uma declaração que marcou o aniversário de um mês da mudança de governo.