Foto tirada no dia 22 de maio de 2024 mostra Casa Branca em Washington, D.C., Estados Unidos. (Xinhua/Liu Jie)
Gary Clyde Hufbauer, membro sênior não residente do Instituto Peterson de Economia Internacional, disse à Xinhua que essa é uma "má notícia" para a economia dos EUA e para os trabalhadores siderúrgicos americanos.
Washington, 4 jan (Xinhua) -- O presidente dos EUA, Joe Biden, bloqueou na sexta-feira a proposta de aquisição da U.S. Steel pela Nippon Steel do Japão, citando preocupações com a segurança nacional. Uma decisão que, segundo economistas, pode prejudicar os trabalhadores siderúrgicos americanos e a economia dos EUA.
Em resposta, o ministro da Economia, Comércio e Indústria do Japão, Yoji Muto, descreveu a medida como "incompreensível e lamentável" em uma declaração no sábado.
A decisão representou um revés nas relações de Washington com seu aliado mais próximo da Ásia-Pacífico e levou as empresas a ameaçarem com ações legais, disse uma reportagem do Financial Times.
Então, por que o presidente se opõe ao acordo e o que vem a seguir?
POR QUE BIDEN É CONTRA O ACORDO?
Biden, que há muito se opõe à compra, emitiu uma declaração na sexta-feira, dizendo que a aquisição "colocaria um dos maiores produtores de aço dos Estados Unidos sob controle estrangeiro e criaria risco para a segurança nacional e as cadeias essenciais de suprimentos".
Em uma ordem executiva assinada no mesmo dia, Biden citou a Lei de Produção de Defesa de 1950, afirmando que a Nippon Steel "pode tomar medidas que ameacem prejudicar a segurança nacional dos Estados Unidos".
A decisão de Biden "não é sobre o Japão", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, em um briefing na sexta-feira. "É sobre a siderurgia dos EUA e manter um dos maiores produtores de aço dos Estados Unidos como propriedade americana".
No final de 2023, a gigante siderúrgica japonesa Nippon Steel Corporation anunciou planos de adquirir a U.S. Steel, que já foi um símbolo da força industrial americana, mas desde então recusou significativamente.
Antes de Biden se retirar da disputa, ele e seu então oponente, Donald Trump, expressaram oposição à aquisição.
A equipe econômica de Biden havia dito anteriormente que o Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos (CFIUS, na sigla em inglês) revisaria a aquisição.
Recentemente, o CFIUS mostrou preocupações, acreditando que o acordo poderia levar a um declínio na produção de aço dos EUA e representar uma ameaça à segurança nacional. No entanto, devido à falta de consenso dentro do comitê sobre o bloqueio da aquisição, ele não deu uma recomendação formal sobre a permissão do acordo.
COMO A U.S. STEEL E A NIPPON STEEL REAGIRAM?
A decisão de Biden ocorreu após forte oposição do sindicato United Steelworkers ao acordo. A campanha do grupo provou ser fatal para a compra, apesar do intenso lobby nas últimas semanas de executivos da U.S. Steel e da Nippon Steel, disse o Financial Times.
A U.S. Steel também havia pedido anteriormente a Biden que aprovasse o acordo. Após a decisão do CFIUS de encaminhar a transação pendente com a Nippon Steel ao presidente, a U.S. Steel disse em declaração que a transação deveria ser aprovada por seus méritos e servir como modelo para investimento de "friendshoring".
"É a melhor maneira de garantir que a U.S. Steel, incluindo seus funcionários, comunidades e clientes, prosperem".
Em declaração conjunta na sexta-feira, as duas empresas disseram que estão "consternadas" com a decisão de Biden de bloquear a aquisição da U.S. Steel pela Nippon Steel, "o que reflete uma clara violação do devido processo e da lei que rege o CFIUS".
"A declaração e a ordem do presidente não mostram evidências confiáveis sobre questão de segurança nacional, deixando claro que foi uma decisão política", disse a declaração. "Infelizmente, isso envia uma mensagem assustadora para empresas sediadas em um país aliado dos EUA que esteja contemplando um investimento significativo no país".
"Após a decisão do presidente Biden, não temos escolha a não ser tomar todas as medidas adequadas para proteger nossos direitos legais", acrescentou.
"Essa ação do presidente Biden é vergonhosa e corrupta. Ele deu uma revanche política a um chefe sindical fora de contato com seus membros, ao mesmo tempo em que prejudicou o futuro da empresa, dos nossos trabalhadores e da segurança nacional", disse David Burritt, presidente e CEO da U.S. Steel, em declaração na sexta-feira.
"Ele insultou o Japão, um aliado essencial da economia e da segurança nacional, e colocou a competitividade americana em risco", acrescentou ele.
O QUE VEM A SEGUIR?
A medida pode ter implicações para o futuro investimento estrangeiro em empresas americanas. "Bloquear o acordo pode ser politicamente popular internamente, mas pode afastar o investimento estrangeiro em outras empresas dos EUA. Também pode privar a U.S. Steel do investimento que ela diz precisar", disse a CNN em uma reportagem na sexta-feira.
Gary Clyde Hufbauer, membro sênior não residente do Instituto Peterson de Economia Internacional, disse à Xinhua que essa é uma "má notícia" para a economia dos EUA e os trabalhadores siderúrgicos americanos. "A Nippon Steel tem tecnologia de alto-forno superior e dinheiro para implementar melhorias de capital. A U.S. Steel não tem compradores potenciais dos EUA", disse ele.
"Daqui a dois anos, os trabalhadores da U.S. Steel, junto com os acionistas, lamentarão a decisão de Biden, pois a empresa demitirá trabalhadores e as ações perderão valor. Enquanto isso, (o presidente eleito) Trump provavelmente irá impor tarifas ainda mais altas sobre as importações de aço dos EUA, impondo altos custos à economia dos EUA. Um resultado ruim para todos", disse Hufbauer.
As ações da U.S. Steel caíram 6,53% na sexta-feira depois que Biden bloqueou a aquisição.
O Japão é a maior fonte de investimento estrangeiro direto nos Estados Unidos. Em novembro de 2024, o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, pediu a Biden que aprovasse a aquisição da U.S. Steel pela Nippon Steel para evitar prejudicar os esforços recentes de fortalecer os laços entre os países, disse a Reuters em relatório.
A decisão do presidente cessante é "um afastamento da cultura de investimento aberto há muito estabelecida nos Estados Unidos, que pode ter implicações abrangentes para a economia americana", disse o The New York Times em um artigo.
Também é provável que levante preocupações sobre a receptividade dos EUA a futuros investimentos estrangeiros, com o presidente eleito Donald Trump também se opondo ao acordo, segundo o Financial Times.