Foto tirada no dia 21 de novembro de 2024 mostra vista da cidade após nevar em Kiev, Ucrânia. (Xinhua/Li Dongxu)
Especialistas alertam que a Ucrânia está enfrentando seu inverno mais rigoroso desde que o conflito em larga escala com a Rússia começou há mais de 1.000 dias.
De acordo com dados da ONU, 65% da capacidade de produção de energia da Ucrânia foi destruída pelos ataques. Isso pode levar a apagões diários com duração de quatro a 18 horas.
Kiev/Moscou, 29 nov (Xinhua) -- A primeira nevasca cobriu grande parte da Ucrânia esta semana, com os cidadãos preocupados com um crescente receio sobre um inverno rigoroso em meio a hostilidades contínuas e quedas de energia generalizadas.
Tendo sofrido por muito tempo as consequências do conflito Rússia-Ucrânia, cada vez mais pessoas de ambos os lados querem paz.
VIDA SEM ELETRICIDADE
Os recentes ataques russos à rede elétrica da Ucrânia, combinados com temperaturas em queda, obrigaram a empresa estatal de energia Ukrenergo a impor restrições de energia mais rigorosas em Kiev e em mais 16 regiões.
Em Odesa, uma cidade portuária do Mar Negro na Ucrânia, algumas famílias sofreram apagões de 24 horas após um grande ataque em 17 de novembro. Para Tamara, dona de casa de 35 anos que mora em uma casa particular nos arredores da cidade, a eletricidade é essencial.
"Na nossa casa, tudo funciona com eletricidade. Sem ela, não há luz, aquecimento, água. Nem conseguimos cozinhar", disse Tamara.
Embora ela tenha uma estação de energia portátil e um gerador, eles oferecem apenas um alívio parcial. A estação de energia não consegue lidar com a caldeira, enquanto o gerador é muito pesado para ela operar sozinha.
Enquanto isso, Olha Ivanivna, empreendedora de 55 anos que administra uma pequena loja on-line em Kiev, também luta com constantes quedas de energia.
"A situação da eletricidade é catastrófica", disse ela. "Geralmente, eles cortam a energia três vezes por dia, por três a quatro horas cada vez".
Trabalhar nessas condições tem sido extremamente desafiador para ela.
Ela depende de guirlandas movidas a bateria com lâmpadas redondas como sua principal fonte de luz durante apagões.
Pessoas caminham em parque em meio à neve em Kiev, Ucrânia, no dia 21 de novembro de 2024. (Foto por Roman Petushkov/Xinhua)
INVERNO RIGOROSO CHEGANDO
Especialistas alertam que a Ucrânia está enfrentando seu inverno mais rigoroso desde que o conflito em larga escala com a Rússia começou há mais de 1.000 dias.
De acordo com dados da ONU, 65% da capacidade de produção de energia da Ucrânia foi destruída pelos ataques. Isso pode levar a apagões diários com duração de quatro a 18 horas.
"Não sei como passaremos por isso com temperaturas abaixo de zero", disse Olena, uma administradora de imóveis de 44 anos da cidade central ucraniana de Dnipro.
Em 21 de novembro, Dnipro teria sido alvo de um míssil balístico intercontinental, aumentando os receios de um conflito crescente.
As pessoas na Rússia também estão se preparando para um inverno rigoroso, lutando com os altos preços dos itens básicos.
De acordo com o meio de comunicação local PUAMO, os preços dos principais produtos alimentícios tiveram aumentos significativos desde o início do ano. O custo de batatas, açúcar e ovos aumentou em 79%, 56% e 18%, respectivamente. Espera-se que a tendência continue pelo resto do ano.
"Há menos de três meses, um pacote de 180 gramas de manteiga do mesmo fabricante custava 112 rublos (1,04 dólar americano), agora o preço subiu para 145 rublos (1,34 dólar). No entanto, não tive aumento de salário. Espero nossa vida volte ao normal o quanto antes", disse Elena, que trabalha para uma pequena empresa de mídia em Moscou.
Analistas atribuem a inflação crescente principalmente às sanções impostas pelo Ocidente, à desvalorização do rublo e ao aumento dos gastos com defesa.
Pessoas caminham em parque coberto de neve em Moscou, Rússia, no dia 4 de novembro de 2024. (Foto por Alexander Zemlianichenko Jr/Xinhua)
SONHOS DE PAZ
Algumas pesquisas públicas recentes na Rússia mostram um número recorde de pessoas apoiando as negociações de paz desde o início do conflito em fevereiro de 2022.
De acordo com a Russian Field, uma agência de pesquisas local, uma pesquisa telefônica recente revelou que 79% dos entrevistados são a favor do fim do conflito e de um acordo de paz, com 60% apoiando um cessar-fogo imediato e incondicional.
"Estamos aguentando um fardo mais pesado a cada dia, pois tudo fica mais caro. Por causa das sanções, meu marido perdeu o emprego em uma empresa de exportação. Mas a vida continua, e ainda temos que alimentar nossos dois filhos", disse Natalya, dona de casa que fazia compras em um supermercado em Moscou.
"O conflito não traz benefícios para os civis. Sonhamos com a paz", acrescentou ela.
Valeriia, mãe de quatro filhos de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia no nordeste, está muito preocupada com a forma como as quedas de energia afetam sua família. Ela se mudou com seus filhos de seu apartamento em Saltivka, uma grande área residencial em Kharkiv, para a casa de sua mãe em Industrialnyi, onde as quedas de energia são menos frequentes.
A eletricidade é essencial para a educação dos filhos, disse ela. Muitas escolas em Kharkiv mudaram para formas de ensino on-line devido aos bombardeios frequentes.
Antes especialista em extensão de cílios, Valeriia deixou o emprego para ajudar os filhos nos estudos. Depois de fugir para o exterior como refugiada no início de 2022, ela retornou à Ucrânia em setembro de 2023.
Além dos problemas de energia, Valeriia luta contra o medo constante de conflito. "Cada explosão faz meu coração disparar. Sonho com a paz, meus filhos voltando para a escola e eu abrindo meu próprio salão de beleza", disse ela.
Seus sentimentos são os mesmos de muitos ucranianos, incluindo Olha Ivanivna, empreendedora cujo negócio de roupas foi muito afetado.
"As roupas não são uma necessidade, então as vendas despencaram. As pessoas estão focadas em comprar comida e economizar dinheiro", disse Ivanivna.
Assim como Valeriia, ela sonha com o fim da guerra. "Todos queremos uma vida calma e previsível novamente, em que possamos planejar o amanhã", disse ela.