por Ma Qian
Beijing, 11 nov (Xinhua) -- "Os verdadeiros amigos sempre se sentem próximos uns dos outros, não importa a distância entre eles." O presidente chinês, Xi Jinping, citou essa linha popular de um antigo poema chinês para caracterizar as relações da China com os países da América Latina e do Caribe.
Desde que se tornou chefe de Estado chinês, Xi voou cinco vezes por metade do Globo para a América Latina e visitou 11 países da região. Lá, ele se reuniu com líderes nacionais, testemunhou a assinatura de acordos de cooperação, visitou fazendas locais, bebeu café da Costa Rica e foi presenteado com uma camisa de futebol argentino com seu nome ...
"Há um sentimento natural de afinidade entre nossos povos", disse Xi certa vez. Como o líder chinês está prestes a cruzar os vastos oceanos novamente para outra jornada a esta terra colorida e cheia de esperança, sua visita ao Peru e ao Brasil impulsionará ainda mais os intercâmbios e a cooperação entre os dois lados e injetará um novo ímpeto na construção de uma comunidade China-América Latina com um futuro compartilhado.
UM MEGA PORTO SOB A INICIATIVA CINTURÃO E ROTA
Xi chama o Peru de vizinho da China do outro lado do Pacífico. Embora os dois países estejam a milhares de quilômetros de distância, um porto programado para ser inaugurado no final deste mês aumentará ainda mais sua "vizinhança".
Chancay, localizado a cerca de 78 km ao norte de Lima, a capital peruana, é um porto natural de águas profundas. Uma vez em operação, ele se tornará uma importante porta de entrada para os oceanos e um centro crucial no Pacífico Sul, ajudando a redistribuir cargas de países como Chile, Equador, Colômbia, Brasil e Paraguai. Além disso, o tempo de frete marítimo da América do Sul para a Ásia será reduzido pela metade, de 45 dias para 23.
O porto é um projeto colaborativo significativo entre a China e o Peru, no qual Xi desempenhou um papel decisivo. Ao se reunir com a presidente peruana, Dina Boluarte, durante sua visita a Beijing em junho, Xi pediu esforços conjuntos para concluir o porto dentro do cronograma e transformá-lo em um novo corredor terra-mar entre a China e a América Latina.
"'De Chancay a Shanghai' tornou-se um slogan no Peru, indicando um futuro brilhante de cooperação mutuamente benéfica entre as duas nações", disse Xi à presidente peruana.
Embora Chancay e Shanghai tenham pronúncias espanholas semelhantes que podem confundir muitos, as pessoas no Peru abraçam esse slogan com paixão, esperando que Chancay possa se transformar em Shanghai do Peru no futuro.
Como um projeto emblemático de cooperação do Cinturão e Rota, o porto não apenas impulsionará o comércio entre os dois países, mas também reforçará a conectividade dentro e além do continente.
Na última década, a China e a América Latina tornaram-se parceiras sob a Iniciativa Cinturão e Rota proposta por Xi. Até agora, 22 países da região assinaram documentos de cooperação da Iniciativa com a China. Projetos construídos em conjunto no âmbito da Iniciativa, incluindo a linha de transmissão de ultra-alta tensão da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no Brasil, a ferrovia Belgrano Cargas da Argentina e a Rodovia Norte-Sul da Jamaica, deram frutos.
"A China e a América Latina desfrutam de fortes complementaridades econômicas. Suas estratégias de desenvolvimento estão alinhadas mutuamente e têm vantagens naturais para fortalecer a cooperação", disse Xi.
Desde 2012, a China é o segundo maior parceiro comercial da América Latina. Em 2022, o comércio entre os dois lados cresceu 7,7% ano a ano, atingindo US$ 485,7 bilhões. De acordo com um relatório divulgado recentemente pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe, a China será o mercado de exportação da região de crescimento mais rápido este ano.
Com o Porto de Chancay, espera-se que o comércio entre a China e a América Latina aumente ainda mais. "O Porto de Chancay ajudará o Peru a melhorar a eficiência do transporte marítimo e aprofundar a cooperação comercial com a Ásia", disse David Gamero, vice-gerente do projeto do megaporto de Chancay.
INTERAÇÃO DE DUAS GRANDES CIVILIZAÇÕES
"A condição do bom vinho é igual à do bom amigo", Xi citou o provérbio em português para descrever a amizade de longa data entre os povos chinês e latino-americano ao discursar no Congresso Nacional brasileiro durante uma visita ao país sul-americano em 2014. Foi a primeira visita de Xi ao Brasil depois de assumir a presidência chinesa.
No discurso, ele contou histórias de intercâmbios interpessoais entre os dois países. Ele também citou o letrista e romancista brasileiro Paulo Coelho e mencionou a telenovela brasileira Escrava Isaura, que foi bastante popular na China na década de 1980.
"Ouvi o discurso do presidente Xi no Congresso em 2014", disse Fausto Pinato, presidente da Frente Parlamentar Brasil-China do Congresso Nacional brasileiro. "Além da cooperação entre os dois países em diplomacia e comércio, ele também mencionou muito sobre a cultura brasileira, como a arquitetura de Brasília, as palavras do presidente Kubitschek, telenovelas brasileiras e um jornalista brasileiro."
"Seu conhecimento do Brasil nos deixou orgulhosos", acrescentou.
Os intercâmbios culturais são um pilar crucial de interação para a China e a América Latina, duas grandes civilizações. Xi enfatizou repetidamente que a amizade entre pessoas é vital para relações sólidas entre Estados.
De fato, enquanto ainda era uma autoridade local, Xi estava envolvido na cooperação entre a China e a América Latina.
Em 1996, Xi, então vice-secretário do Comitê Provincial de Fujian do Partido Comunista da China (PCCh), visitou o Brasil pela primeira vez. Ele voou para Fortaleza, capital do estado do Ceará, no nordeste do Brasil, e assinou um memorando de entendimento para estabelecer uma relação de província/estado irmãs entre a Província de Fujian, no leste da China, e o Ceará.
"Lembro-me de passar o dia de Ano Novo de 1996 na estrada ... Há alguma conexão entre mim e a cidade", lembrou Xi ao participar da cúpula do BRICS em Fortaleza em 2014.
A China estabeleceu aproximadamente 180 parcerias de cidades-irmãs com 17 países da América Latina e do Caribe, o que ilustra seus intercâmbios culturais e interpessoais sempre florescentes. Em maio do ano passado, Fortaleza estabeleceu uma relação fraterna com Xiamen, uma cidade costeira em Fujian onde Xi costumava servir como vice-prefeito. As cidades-irmãs são conhecidas como "Cidades Gêmeas do BRICS" porque ambas sediaram cúpulas do BRICS.
Nos últimos anos, as plataformas para intercâmbios culturais e interpessoais entre a China e a América Latina tornaram-se cada vez mais diversificadas, desde o Ano de Intercâmbio Cultural China-América Latina e a Temporada de Arte da América Latina e Caribe até o Campus de Treinamento de Jovens Líderes "Ponte do Futuro" China-América Latina.
"As ricas culturas e artes da China e da América Latina florescem como flores esplêndidas na vasta terra uma da outra, levando o aprendizado mútuo entre as civilizações chinesa e latino-americana a um novo patamar", disse Xi ao participar da cerimônia de encerramento do Ano de Intercâmbio Cultural China-América Latina em 2016 no Peru.
UMA VISÃO COMPARTILHADA PARA O DESENVOLVIMENTO COMUM
Ao discursar na Reunião de Líderes China-Países da América Latina e do Caribe realizada no Brasil em 2014, Xi propôs que a China, a América Latina e o Caribe construam uma comunidade com um futuro compartilhado.
A China e os países latino-americanos são todos países em desenvolvimento, em estágios semelhantes de desenvolvimento e assumindo as mesmas tarefas de desenvolvimento. Eles podem ser parceiros em suas respectivas buscas pela modernização.
Durante a visita do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva à China no ano passado, Xi e Lula testemunharam a assinatura de uma série de acordos de cooperação, muitos relacionados a novas áreas como redução da pobreza, economia digital e telecomunicações.
Isso serviu não apenas como uma indicação de que os dois países continuarão a criar novos motores de crescimento e promover conjuntamente a cooperação de alta qualidade para beneficiar ainda mais seus povos, mas também como um reflexo da nova tendência na cooperação ganha-ganha entre a China e a América Latina.
Pegue a cooperação em novas energias. A América Latina, com sol abundante, é um dos mercados fotovoltaicos mais promissores do mundo. As estatísticas do InfoLink mostram que a América Latina teve 24,8-27,4 GW de demanda fotovoltaica em 2023, sendo o Brasil o maior mercado, seguido por países como Chile e México. Por outro lado, a China tem sido líder global nas indústrias fotovoltaicas.
As empresas chinesas têm estado ativamente envolvidas na construção de usinas fotovoltaicas em países da América Latina, ajudando a transformar o setor de energia da região. No Brasil, o Complexo Solar Marangatu, investido pela SPIC Brasil, subsidiária da chinesa State Power Investment Corporation (SPIC), foi inaugurado oficialmente em junho deste ano. Ele gerará eletricidade suficiente para abastecer aproximadamente 550 mil residências anualmente.
"Hoje temos uma presença muito grande de empresas chinesas no Brasil... Isso contribuiu para a reindustrialização do Brasil", disse a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff em uma entrevista recente à Xinhua. Ela agora é chefe do Novo Banco de Desenvolvimento, um banco multilateral de desenvolvimento estabelecido pelo grupo BRICS.
No final de setembro, em Beijing, antes do 75º aniversário da fundação da República Popular da China, Xi presenteou Dilma com a Medalha da Amizade, o maior prêmio da China para estrangeiros, para homenagear sua contribuição à amizade China-Brasil.
Dilma disse que ficou impressionada com o notável desenvolvimento da China nas últimas décadas. Ela elogiou a filosofia de desenvolvimento centrado nas pessoas de Xi. "Eu compartilho profundamente" essa visão, disse ela.
A China, liderada por Xi, está se esforçando para realizar seu sonho de revitalização nacional, enquanto a unidade, a cooperação, o desenvolvimento e a revitalização são os sonhos do povo latino-americano. Aos olhos de Xi, a China e os países latino-americanos são bons amigos e parceiros que pensam da mesma forma, andando de mãos dadas.
"O 'Sonho Chinês' e o 'Sonho Latino-Americano' estão intimamente ligados. Ambos os lados devem ter a coragem de perseguir o sonho e conjuntamente torná-lo realidade", disse Xi.