Beijing, 15 jun (Xinhua) -- A investigação da Comissão Europeia (CE) sobre os veículos elétricos (VEs) chineses expôs várias lacunas nas regras, disseram organizações empresariais e especialistas, ao mesmo tempo que alertam que os aumentos de impostos propostos podem ser autodestrutivos, pois significariam consequências indesejáveis.
A comissão revelou na última quarta-feira um plano para cobrar tarifas adicionais provisórias de até 38,1% sobre veículos elétricos fabricados na China, após a investigação anti-subsídios lançada no ano passado.
Falando em uma coletiva de imprensa na quinta-feira, He Yadong, porta-voz do Ministério do Comércio, disse que a China se reserva o direito de entrar com ações judiciais na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre o plano da UE.
"FALHAS GRAVES"
"Houve falhas graves no processo de investigação", disse a Câmara de Comércio da China para Importação e Exportação de Máquinas e Produtos Eletrônicos (CCCME, sigla em inglês), um grupo industrial que representa mais de 10 mil empresas membros na China.
"A investigação não foi iniciada pelas indústrias da UE. Em vez disso, foi uma investigação anti-subsídios ex-officio iniciada pela comissão com base na ameaça de danos. Isso é muito raro nas resoluções comerciais da UE", disse a CCCME.
A CCCME criticou as informações extensas e rigorosas solicitadas pela comissão, afirmando que eram sem precedentes e que era indicativa a inclinação da UE para chegar a uma conclusão predeterminada.
A Câmara de Comércio da China para a UE (CCCEU) também expressou profunda preocupação com o que considerou como manipulação política e protecionismo unilateral na investigação.
A comissão extrapolou o escopo de sua investigação de direitos compensatórios, fez exigências irracionais para as empresas e não deixou tempo suficiente para que as empresas e as partes interessadas respondessem e fornecessem provas, disse a CCCEU.
Durante as audiências realizadas em Bruxelas, as empresas chinesas e outras partes relevantes levaram as suas questões sobre os problemas decorrentes da investigação, mas a comissão não deu nenhuma resposta e nem corrigiu suas irregularidades, de acordo com a CCCEU.
Enquanto isso, o Conselho Chinês para a Promoção do Comércio Internacional (CCPIT, sigla em inglês) denunciou a medida da UE como "típicos padrões duplos", dizendo que a própria UE forneceu subsídios substanciais para suas próprias indústrias de veículos elétricos e baterias.
CONSEQUÊNCIAS EVITÁVEIS
Especialistas alertaram que tarifas adicionais poderiam desencadear consequências indesejadas, diminuindo a lucratividade das empresas e, assim, afetando o crescimento econômico da UE.
Zheng Chunrong, diretor do Centro de Estudos Alemães da Universidade Tongji, ressaltou que as empresas alemãs certamente arcarão com o peso dos conflitos comerciais, já que a China ainda responde pela maior fatia do mercado global para as montadoras alemãs.
Cerca de 50% das importações de veículos elétricos da UE provenientes da China vêm de marcas ocidentais que produzem veículos na China, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.
"Se a UE implementar tarifas, infligirá danos consideráveis à própria Europa", observou Zheng.
De acordo com um estudo de simulação conduzido pelo Instituto Kiel para a Economia Mundial (IfW Kiel), a imposição de uma tarifa de 20% resultaria em uma queda de 25% nas importações de VE da China, afetando as montadoras ocidentais com operações na China.
Após o anúncio da CE, montadoras europeias proeminentes, como Volkswagen, Mercedes-Benz e BMW, expressaram fortes objeções, já que tais medidas protecionistas podem forçá-las a perder parte do mercado chinês, um de seus principais centros de lucro.
Na Europa, as tarifas adicionais iminentes dever provocar o aumento dos preços dos VEs - um obstáculo ao esforço da UE para cumprir o ambicioso Acordo Verde Europeu.
A iniciativa, lançada em 2019 e prevista para eliminar progressivamente o registro de automóveis e vans com motores de combustão interna, exceto os de combustível eletrônico, até 2035, enfrenta agora um obstáculo potencial.
"Não há forma de qualquer parte do mundo se tornar verde, rápida e dedicada sem a China, porque então o custo será muito, muito mais elevado", disse Erik Solheim, co-presidente do Centro Europa-Ásia e ex-subsecretário-geral das Nações Unidas.