Torcedor segura uma bandeira do Santos em frente ao Hospital Albert Einstein, na capital paulista, em homenagem a Pelé, em 29 de dezembro de 2022. (Foto por Chen Haoquan/Xinhua)
Por Eloyza Guardia
Rio de Janeiro, 29 dez (Xinhua) -- Ao falecer nesta quinta-feira aos 82 anos, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, o brasileiro mais conhecido em todo o planeta, leva com ele seu "alter ego", o "Rei'' do futebol.
Em tempos de Internet e das redes sociais, converter-se em uma pessoa conhecida em todo o mundo não é algo extraordinário, mas imagine alguém alcançar tal popularidade e mantê-la antes mesmo da Internet, e ainda, apesar de estar afastado há 45 anos da atividade que o tornou famoso! Edson Arantes do Nascimento conseguiu tal façanha, ou melhor, Pelé, conseguiu.
Durante muitos e muitos anos, Pelé foi o "grande embaixador" do Brasil em todos os continentes. Uma história antiga repetida por brasileiros que viajavam ao exterior conta que quando não se sabia falar o idioma local e se estava em uma situação complicada, bastava se identificar e dizer "Pelé, Brasil", que ganhavam um sorriso e todos os problemas eram resolvidos.
Edson Arantes do Nascimento nasceu em Três Corações, uma pequena cidade do estado de Minas Gerais, Brasil, filho do jogador de futebol "Dondinho", um atacante que teve carreira praticamente encurtada devido a uma lesão no joelho em sua primeira partida pelo Atlético Mineiro, meses antes do nascimento de Pelé.
Sem conseguir atuar em times de alto nível, Dondinho passou a jogar em equipes do interior de Minas Gerais e São Paulo.
Pelé se chama Edson em homenagem a Thomas Alva Edison porque no dia em que nasceu (23 de outubro de 1940) foi instalada a luz elétrica em Três Corações.
Alguns anos depois, Dondinho foi para a cidade de Bauru, no estado de São Paulo, para jogar pelo Bauru Atlético Club, clube pelo qual seu filho começou no futebol infantil.
Em 1956, ainda com 15 anos, Pelé foi levado pelo técnico do Bauru, Waldemar de Brito, ao Santos, que o contratou e pelo qual jogou durante toda sua carreira no Brasil, terminada em 1974.
No período, ele levou o clube a conquistar dez títulos estaduais e seis campeonatos nacionais, além de duas Copas Libertadores e dois Mundiais de Clubes (ambos em 1962 e 1963). Em 1969 marcou seu gol número 1.000, ao cobrar um pênalti contra o carioca Vasco da Gama, no estádio Maracaná, no Rio de Janeiro. Ao todo, anotou 1.281 gols, sendo 1.091 pelo Santos.
Artilheiro do Santos na temporada de 1957, Pelé foi convocado para a seleção brasileira e começou a se tornar celebridade aos 17 anos, como destaque da primeira Copa do Mundo conquistada pelo Brasil, na Suécia, 1958.
Único jogador do mundo a ter conquistado três Copas -- 1958,1962 e 1970, detém também o recorde do mais jovem a ganhar um Mundial. Se aposentou em 1974, deixando o futebol, porém em 1975 foi recontratado pelo New York Cosmos para ajudar à expansão do então nascente futebol (soccer para os norte-americanos) nos Estados Unidos. Atuou até 1977, quando se despediu das canchas em um amistoso entre o Cosmos e o Santos, no qual jogou cada tempo por uma das equipes.
Homenageado como "Atleta do Século XX" pelo Comitê Olímpico Internacional, foi eleito pela FIFA como o "Melhor Jogador do Século XX". Em 1994, foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da ONU e entre 1995 e 2001, exerceu o cargo de Ministro dos Esportes do Brasil, no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Além de jogar futebol, Pelé compôs canções, cantou com estrelas da música popular brasileira e participou de vários filmes, seja como ele mesmo ou como personagem, caso do filme "Fuga para a Vitória", com Sylvester Stallone.
Astro em uma época na qual o futebol não tinha os contratos e salários milionários atuais, Pelé ganhou mais dinheiro depois de se aposentar, em dezenas de propagandas de produtos de várias marcas.
Nos últimos anos, seus problemas de saúde, especialmente renais, o levaram a várias hospitalizações em UTIs. Além disso, em 2009, um incômodo crescente no quadril revelaria o desgaste das articulações que acabaram por obrigá-lo a andar primeiro com muletas e depois em cadeira de rodas, o que o levou a recusar vários convites para eventos, inclusive o de acender a tocha olímpica nos Jogos Olímpicos de Rio 2016.
No fim de agosto de 2021, durante exames de rotina que havia adiado por causa da pandemia, os médicos descobriram um câncer no cólon. Ele foi operado em setembro e começou a fazer quimioterapia. Em fevereiro passado, os médicos diagnosticaram metástase no intestino, pulmão e fígado.
No dia 29 de novembro, Pelé foi internado com infecção respiratória no Hospital Israelita Albert Einstein e para uma reavaliação de seu tratamento de quimioterapia. Com o passar dos dias, o estado de saúde de Pelé foi piorando e na semana passada, um boletim médico informou que o câncer tinha progredido e que o rei precisava de cuidados para as disfunções do rim e do coração.
Na tarde desta quinta-feira, após dias sem comunicação oficial, o hospital divulgou um boletim médico confirmando o falecimento do brasileiro mais conhecido em todo o mundo.
"O Hospital Israelita Albert Einstein confirma com pesar o falecimento de Edson Arantes do Nascimento, Pelé, hoje 29 de dezembro às 15h27 (horário local) de falência múltipla dos órgãos, em decorrência da progressão do câncer no colón, associado à sua condição clínica prévia. O Hospital Israelita Albert Einstein se solidariza com a família e todos que sofrem com a perda do nosso querido Rei do Futebol", publicou o hospital.
Segundo as últimas notícias, o corpo de Pelé permanecerá no hospital até a madrugada de segunda-feira, quando será transportado para cidade de Santos, onde será colocado a partir da manhã do dia 2 de janeiro na cancha do estádio da Vila Belmiro, local que Pelé sempre disse que gostaria de ser velado. O sepultamento está marcado para o dia seguinte. Fim
