Por Alessandra Brites
Rio de Janeiro, 9 set (Xinhua ) -- Em uma sala da Escola Chinesa Internacional, localizada no bairro Botafogo, zona sul da cidade do Rio de Janeiro, professores e alunos, brasileiros e chineses, conversam em seus respectivos idiomas e confeccionam juntos o conhecido Bolo da Lua, doce que virou símbolo culinário do tradicional Festival do Meio do Outono, ou Festival da Lua.
Neste ano, a festividade começa no dia 10 de setembro na China, segundo o calendário lunar. Na ocasião da comemoração em terras brasileiras, as crianças realizaram as seguintes atividades: cantaram músicas em chinês, recitaram poesias chinesas, cantaram os hinos da China, do Brasil e da Escola, realizaram desenhos de ícones do Festival e comeram seus tradicionais Bolinhos da Lua. Estiveram presentes para assistir à celebração a cônsul-geral da China no Rio de Janeiro, Tian Min, e o presidente do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro, Ricardo Tonassi.
"Esta foi a minha primeira visita à Escola Chinesa e tive uma ótima impressão do trabalho desenvolvido. Ao ver alunos brasileiros e chineses falando chinês e português, percebe-se que se trata de um real intercâmbio necessário entre China e Brasil, países tão distantes geograficamente. Espero que estas crianças possam futuramente aprofundar ainda mais este intercâmbio. O Festival da Lua tem grande importância para os chineses e tem o significado de reunião, de encontro e de promover a paz e a bondade entre as pessoas", disse Tian Min.
"Uma das grandes honras da minha vida foi participar no processo de autorização desta escola. A importância da comunidade chinesa no Brasil e no Mundo é inestimável. Hoje o motor do mundo é a China e não consigo vislumbrar uma cidade cosmopolita como o Rio de Janeiro sem uma escola chinesa. Esta é uma instituição que agrega valores, agrega cultura e solidifica a relação Brasil-China. Ela é uma ponte para nossos alunos aprenderem a forma de pensar dos chineses e aprender com esta cultura milenar em várias áreas do conhecimento", afirmou Ricardo Tonassi.
Fundada em 2020, a Escola Chinesa Internacional é uma organização sem fins lucrativos que tem o aporte financeiro de empresários chineses que residem na capital carioca e o apoio do Consulado Geral da China no Rio de Janeiro.
"Há uma carência de conhecimento sobre a China no Brasil. Portanto, nossa escola, além de ensinar diversas áreas do conhecimento e o idioma mandarim, é um local para os alunos brasileiros terem contato e aprenderem nos livros e na prática a cultura chinesa", explicou a diretora-geral da Escola, Yuan Aiping, idealizadora do projeto que criou a instituição.
A integração cultural entre brasileiros e chineses também foi destacada pela professora Yang Boyu. "Em datas especiais como a do Festival da Lua, a Escola não está apenas ensinando o idioma, mas também aproximando a cultura chinesa da população local. Como cidadã chinesa é uma oportunidade única de trabalhar nossa cultura não apenas com os chineses que vivem no exterior, mas com os próprios brasileiros", disse ela.
Celebrado na China no 15º dia do 8º mês do calendário lunar, o Festival é considerado um importante feriado chinês, ficando atrás apenas do Festival da Primavera e do Ano Novo Lunar. Em 2006, o governo da China tornou a festividade um patrimônio cultural intangível.
Comemorada também em outros países da Ásia, esta festividade tem suas origens vinculadas a uma cultura agrária. Sua história remonta aos primórdios da Dinastia Tang, quando os chineses antigos observavam que os movimentos da Lua estavam relacionados às estações do ano e, consequentemente, à produção agrícola.
Assim, durante o outono e em período de Lua cheia e brilhante, as famílias celebravam e agradeciam fazendo oferendas ao satélite da Terra, além de distribuírem frutas e outros alimentos pelas ruas. Para os chineses, épocas de Lua Cheia simbolizam também a união familiar que é comemorada com os bolos lunares, brincadeiras com fogos de artifício e passeios em grupos. As origens do festival também remontam a lendas de deuses e figuras simbólicas como o coelho Tu'er Ye, ícone do festival. A data ainda é especial para os futuros casais, já que os chineses acreditam que a "Deusa Lua" é boa casamenteira.
Estes e outros traços culturais são apresentados aos alunos da Escola Chinesa Internacional do Rio desde os primeiros anos de suas vidas. Trata-se de um trabalho pedagógico que para além de buscar formar indivíduos com excelência escolar, visa promover uma integração cultural entre Brasil e China com base em valores como respeito mútuo, compreensão e tolerância com as diferenças, e, principalmente, excelência de caráter, como salienta a coordenadora pedagógica da Escola, Josilene Germanio.
"Os alunos brasileiros, chineses e de outras nacionalidades têm acesso à educação trilíngue, à tecnologia de ponta e ao conteúdo de excelência. Contudo, o que é importante enfatizar é o convívio diário em uma mesma sala de aula, que incentiva o conhecimento mútuo e promove uma integração cultural única que terá impacto significativo na vida destas crianças. Na mesma linha, é preciso lembrar que há uma valorização dos professores chineses e brasileiros tanto por parte dos alunos, quanto de todos os integrantes da Escola. A interação entre eles ocorre dia a dia, com professores chineses frequentando datas especiais do Brasil, a exemplo do Dia de São João, e professores brasileiros presentes nas comemorações como a do Festival da Lua. Estes profissionais sempre trabalham de forma transdisciplinar. Por isso, a Escola Chinesa tem um papel importante no Brasil", explicou Josilene Germanio. Fim