Entrevista: Relacionamento com a China é de "fundamental importância" para o Brasil, afirma ex-presidente brasileiro Michel Temer

Rio de Janeiro, 25 abr (Xinhua) -- O ex-presidente brasileiro Michel Temer afirmou em entrevista exclusiva à Xinhua que a relação entre Brasil e China é de "fundamental importância", principalmente neste momento de necessária ajuda internacional durante a crise da pandemia da COVID-19.

"Esta relação Brasil-China no tocante ao combate à pandemia foi de fundamental importância, até porque a China muito rapidamente agiu e conseguiu quase que debelar por inteiro a pandemia no Estado chinês. Estamos falando de uma relação além de institucional, humanista, porque estamos tentando salvar vidas", qualificou o ex-presidente.

Temer elogiou a integração demonstrada por Brasil e China em meio à tarefa de produzir imunizantes contra a doença do novo coronavírus. O ex-presidente comentou sobre sua comunicação pessoal com a parte chinesa, a fim de garantir a chegada de vacinas e insumos.

"É importantíssima essa relação. Eu sempre preguei que deveria haver um grande entrosamento entre os países, sobretudo os produtores de vacina. Aqui no Brasil, especialmente no estado de São Paulo, houve uma integração muito grande com a produção da vacina chinesa. A própria foi adquirida e também os insumos necessários para que o Butantan e a Fiocruz pudessem produzi-la", observou Temer.

Abordando o comércio entre os dois países, o ex-presidente ressaltou a importância do agronegócio na pauta de exportações brasileira, mencionando especificamente as vendas de soja e carne.

O ex-presidente brasileiro citou o episódio da Operação Carne Fraca - ação deflagrada pela Polícia Federal em 2017 com intuito de investigar venda de carne adulterada - como um momento ilustrativo da grande confiança que a China tem nos produtos brasileiros.

"Eu reconheço um momento no Brasil em que houve uma operação chamada Carne Fraca, com o fundamento que alguns frigoríficos estavam alterando seus produtos. Eu recebi do então embaixador uma notícia dizendo que a China continuaria a comprar regularmente a carne do Brasil, o que solidificou ainda mais nossas relações", disse o ex-presidente.

O ex-presidente Michel Temer confirmou a grande importância que os investimentos chineses já possuem no país e também identificou diversas áreas que podem continuar sendo atrativas ao capital chinês, em particular aquelas ligadas às privatizações no setor de infraestrutura.

"Nós temos muitos investimentos que podem sensibilizar a China. Por exemplo, cada vez mais se abrem as privatizações dos portos, aeroportos, das rodovias e ferrovias. Eu acho que pode haver muita presença chinesa", relatou Temer.

No caso do setor de telecomunicações, Temer considera que haverá uma licitação para a montagem da estrutura de internet 5G no Brasil ainda neste ano, ele entende que há muita chance de sucesso para a chinesa Huawei e não acredita que haverá oposição dentro do governo brasileiro. De acordo com o ex-presidente, até o fim de 2022 toda a rede 5G deve estar implementada no Brasil.

"Procurado pela Huawei, dei um parecer jurídico revelando as possibilidades da empresa participar desta licitação sem nenhum impedimento. Parece-me que nessa altura não há mais problemas no governo brasileiro. Portanto, acho que ainda este ano será levada adiante a licitação", explicou Temer.

Ainda que já tenha visitado a China diversas vezes na qualidade de presidente e vice-presidente em eventos como a cúpula dos BRICS, do G20 e reuniões bilaterais, o ex-mandatário brasileiro compartilhou a vontade de conhecer o país asiático como turista.

"Eu quero muito voltar (à China) como turista. Gostei muito de Beijing e fiquei encantado com Hangzhou. Estou acabando de ler sobre a vida de Deng Xiaoping e, quando eu posso, como comida chinesa aqui no Brasil", concluiu Temer.