Relações China-Portugal são excelentes nos campos político e diplomático e devem avançar mais em outros, diz embaixador português

2021-03-06 11:34:13丨portuguese.xinhuanet.com

Beijing, 6 mar (Xinhua) -- Em entrevista exclusiva à XinhuaNet, o embaixador de Portugal na China, José Augusto Duarte, destacou o fato de que, na China, até mesmo decisões e ações internas são acompanhadas de perto, uma vez que têm impacto em todo o planeta.

Ao comentar sobre as Duas Sessões, reuniões da Assembleia Popular Nacional (APN) e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), que ocorrem em março, o embaixador afirmou que sendo a China o país mais populoso e a segunda maior economia do mundo, um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e um ativo parceiro internacional em todos os continentes, todas as decisões e opções estratégicas aprovadas na APN e na CPPCC são acompanhadas com muita atenção, pois poderão ter sempre um impacto internacional mesmo quando direcionadas para questões internas na China.

"Por exemplo, a redução da pobreza na China, que é dirigida à população deste país, acaba por ter um efeito positivo na economia do resto do mundo. Do mesmo modo, as medidas tomadas em relação às mudanças climáticas na China, pela sua escala, têm um impacto em todo o planeta".

Segundo o diplomata, sob o ponto de vista de urgência internacional, haverá atenção especial sobre medidas concretas para combater as mudanças climáticas, preservar a biodiversidade e assim se contribuir para alcançar os objetivos programáticos que o presidente Xi Jinping já anunciou.

Quando se refere às relações bilaterais entre China e Portugal, Duarte afirma que a relação político-diplomática é excelente, reflexo de uma "sólida e velha amizade e uma boa compreensão mútua". Para o diplomata, tal entendimento ainda não é acompanhado em igual dimensão em relação às trocas comerciais ou à intensidade dos contatos culturais que contribuiriam para um maior conhecimento mútuo. Para ele, é preciso haver esforços em 2021 e nos próximos anos para elevar as relações comerciais e culturais sino-portuguesas para o nível de excelência do relacionamento político-diplomático já existente.

Na questão ambiental, por exemplo, se não forem tomadas medidas para reduzir as emissões de gases na atmosfera urgentemente, o mundo pagará um preço incomportável, e os efeitos serão devastadores como todos os cientistas o referem. Duarte espera que a China tenha no campo das mudanças climáticas o mesmo nível de ambição e de determinação com que tem enfrentado a pandemia da COVID-19 e que dê o exemplo necessário de grande nação para que outros mais hesitantes a possam seguir.

"Não serão medidas fáceis as que se esperam, mas são medidas corajosas e mobilizadoras de quem pensa nas próximas gerações e na sobrevivência do planeta. É isso que eu sei que a China pode fazer e que espero efetivamente faça. Foram aprovados os grandes objetivos para 2030 e para 2060", disse.

A PANDEMIA DA COVID-19 E A GLOBALIZAÇÃO

Para o embaixador, a pandemia da COVID-19 afeta a população de todos os países e, por isso, o mundo precisa de esforços conjuntos para ajudar aos Estados mais vulneráveis a vacinarem suas populações a fim de erradicar a doença.

"A COVID-19 só desaparecerá quando toda a população estiver vacinada. Neste domínio julgo que Portugal e a China podem ter um trabalho conjunto importante para a produção e administração de vacinas em países que nos tenham requerido essa ajuda e que não disponham dos recursos humanos e materiais para vacinarem com relativa rapidez toda a sua população", afirmou o diplomata.

Já em relação a críticas que a globalização sofreria justamente em razão da pandemia, Duarte afirma que em Portugal não se considera que o unilateralismo e o protecionismo sejam as respostas certas para os desafios que atuais compartilhados por todos.

"A crise atual deverá necessariamente obrigar-nos a reavaliar alguns modelos e algumas opções anteriores e introduzir-lhe certamente algumas melhorias. Isso é indispensável e todos concordaremos certamente com essa evidência. No entanto, teremos de introduzir reformas ditadas não apenas pelas lições aprendidas com a presente crise, mas também com outras crises anteriores. Nacionalismo e protecionismo sabemos todos do passado que por regra levam-nos a crises ainda mais graves do que aquela que vivemos atualmente", concluiu o embaixador.

BATALHA CONTRA A POBREZA NA CHINA

Para o embaixador de Portugal na China, a luta contra a pobreza é um objetivo mundial aprovado pelas Nações Unidas com critérios e metas bem definidas. Segundo ele, a China conseguiu um resultado do qual justificadamente se orgulha e que merece naturalmente a consideração de todo o mundo. Mais notável ainda, destaca o embaixador, é que a China conseguiu estes bons resultados num espaço de tempo relativamente curto, já que todo este processo começou há cerca de 40 anos.

Contudo, diz o diplomata, apesar de muitas experiências serem úteis como aprendizagem, é preciso saber que cada sociedade tem problemas estruturais próprios, precisando encontrar as próprias metodologias para sair da pobreza. Para ele, não há receita universal, e há regiões que necessitarão de apoio durante mais tempo para no espaço de uma ou duas gerações terem a possibilidade de alcançar tais resultados.

Duarte afirma que a pobreza tem muitas origens e são muitos os fatores que contribuem para ela. Por norma, diz, a baixa escolaridade, a falta de habitação, a fome, a falta de acesso à saúde são fatores muito ligados à pobreza ancestral, mas também há camadas sociais que passam da classe média para a pobreza quando as situações de determinados países ou regiões se deterioram.

"A batalha contra a pobreza ganha-se todos os dias para termos a certeza que não a viremos a perder mais tarde de novo", diz o embaixador.

Em relação à economia mundial, o embaixador diz que esta foi fortemente abalada com a epidemia, mas a China, com escala global, é felizmente uma das economias menos afetadas, ou pelo menos uma das que melhor tem resistido. Sendo assim, acredita o diplomata, a China poderá ter papel importante na reanimação da economia mundial, evitando o protecionismo econômico como resposta de nações mais afetadas. Segundo ele, o exemplo e a postura da China serão determinantes para influenciar as opções de muitas nações.

Já em relação ao Acordo de Investimentos entre a China e a União Europeia, Duarte acredita que este abra perspectivas para uma nova fase do relacionamento entre a China e os países europeus. "É um avanço importante que vai no sentido de uma maior aproximação entre chineses e europeus. Falta agora ser aprovado pelo Parlamento Europeu", completou.

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