Especial: Brasil se aproxima de 2 milhões de casos com 96% dos municípios afetados pela COVID-19
Brasília, 11 jul (Xinhua) -- A pandemia do novo coronavírus se aproxima de 2 milhões de casos confirmados no Brasil, com um avanço preocupante no interior do país, que registra 96,4% dos municípios afetados, chegando inclusive às comunidades indígenas, sem que exista ainda certeza de que a curva de contágio nacional tenha atingido seu pico.
A complexa situação que o país atravessa se viu agravada esta semana depois que no dia 7 de julho, o presidente Jair Bolsonaro anunciou ter recebido um diagnóstico positivo para COVID-19.
Em números absolutos, Brasil é o segundo país do mundo, tanto em mortes, como casos confirmados, atrás apenas dos Estados Unidos, embora se for considerada a população, o país ocupa o décimo lugar na incidência por milhão de habitantes e o décimo segundo na mortalidade por milhão de habitantes, de acordo com o Ministério da Saúde.
Até este sábado tinham sido confirmados oficialmente 1.839.850 casos da doença e 71.469 óbitos, com uma taxa de letalidade de 3,5%.
O país sul-americano alcançou 1 milhão de casos positivos no dia 18 de junho, o que significa, se a tendência for confirmada, que houve uma duplicação de casos em menos de um mês.
Isso significa que o novo milhão de casos deve ser alcançado 4,4 vezes mais rápido do que o primeiro, que começou a ser contabilizado em 26 de fevereiro, quando as autoridades confirmaram o primeiro caso.
Ao mesmo tempo, os dados do governo mostram que a doença avança no interior do país, onde o sistema de saúde tem maiores desafios devido à escassez de unidades de terapia intensiva e de recursos para atender aos pacientes mais graves.
A interiorização da pandemia no Brasil foi confirmada pelos técnicos do Ministério da Saúde em seu último boletim epidemiológico desta semana, divulgado na quarta-feira 8: dos casos acumulados, 63% estão nas cidades do interior e 37% nas capitais.
Segundo o ministério, até 18 de abril, 65% eram registrados nas capitais e 35% nas demais cidades, enquanto em 23 de maio se observou que a maioria passou a se concentrar fora das capitais brasileiras.
No final da semana epidemiológica terminada em 4 de julho, 52% das mortes e 63% dos casos registrados de COVID-19 ocorreram nos municípios do interior.
Segundo o doutor Bernardo Vargaftig, professor sênior do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, as diferenças sociais no país são determinantes no avanço da pandemia, devido às dificuldades da população de menores recursos para adotar medidas de distanciamento social.
"Existe uma grande diferença entre as pessoas que têm condições materiais para ficar isoladas em condições adequadas, e as famílias que vivem em um único aposento com piso de terra", destacou em conversa com a Xinhua.
Para Vargaftig, outro fator na disseminação do coronavírus é a heterogeneidade nas políticas de enfrentamento da pandemia.
"Buscando resolver o problema, as autoridades locais, tanto a nível dos estados como dos municípios, têm que aplicar regras novas, mas que não têm continuidade com os vizinhos. Por exemplo, se é necessário fazer um confinamento absoluto, não funciona se o vizinho não fizer também", ressaltou.
Outra preocupação crescente para as autoridades sanitárias é o avanço da pandemia entre os povos indígenas, razão porque estão sendo tomadas medidas adicionais a fim de conter o contágio e ampliar a cobertura médica para as comunidades.
De acordo com dados oficiais, há mais de 9.600 casos confirmados de COVID-19 entre os indígenas brasileiros, com 198 mortes.
O número exato de indígenas mortos pode ser maior devido ao fato de que a informação sobre muitas comunidades na região amazônica demora a chegar.
A deputada federal Sonia Guajajara, primeira mulher indígena a ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados, alertou também sobre o risco que a COVID-19 representa para a identidade cultural de dezenas de etnias.
O perigo de contágio preocupa em especial porque, em diversas etnias, os anciãos das aldeias são, muitas vezes, os últimos falantes de suas respectivas línguas.
"Não sabemos se os (povos) isolados foram contaminados, já que não podemos fazer contato com eles. Mas sabemos que há invasores perto e nos povos vizinhos", advertiu Guajajara nesta sexta-feira.
"Existe um grande risco de perder línguas inteiras. Temos gente com poucos oradores. Temos povos que foram obrigados a falar o idioma de outros povos e somente os anciãos podem redimir sua identidade", ressaltou.
O Supremo Tribunal Federal determinou a instalação de barreiras sanitárias para proteger os indígenas isolados- aqueles que por sua própria escolha não têm contato com o mundo exterior- e também aos que entraram em contato recentemente com o resto da sociedade.
Os indígenas isolados e de contato recente são os mais expostos ao risco de contágio e extinção devido às condições de vulnerabilidade imunológica e sociocultural.
Uma lei sancionada esta semana pelo presidente Bolsonaro estabelece medidas de proteção social no contexto da pandemia para as comunidades indígenas, quilombolas (comunidades de descendentes de escravos), de pescadores artesanais e dos povos tradicionais durante o período da pandemia.
Também foi criado um Plano Emergencial para o Enfrentamento da COVID-19 nos territórios indígenas, a fim de garantir o acesso aos insumos necessários para a prevenção, tratamento e a recuperação dos infectados.
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