Infraestrutura sanitária e pobreza são os grandes desafios da América Latina para combater COVID-19, diz especialista

2020-03-28 19:19:42丨portuguese.xinhuanet.com

Rio de Janeiro, 27 mar (Xinhua) -- A infraestrutura sanitária e a pobreza são os grandes desafios da América Latina na luta contra o novo coronavírus, segundo explicou à Xinhua o diretor do Instituto de Estudos para a Saúde (IEPS), Miguel Lago.

Ele afirmou que a América Latina tem diante de si "uma oportunidade para aprender com os erros ocorridos" em outros países, principalmente Espanha e Itália, no combate ao vírus.

No caso da região, o especialista disse que "há que se considerar dois aspectos: um são os aspectos da situação que vivemos na América Latina, sobretudo por certas condições de moradia e de infraestruturas sanitárias, importantes nesse caso; e o segundo são as ações adotadas pelas autoridades sanitárias e o aprendizado que poderíamos ter tido a partir da experiência em outros países" na luta contra a COVID-19.

"Creio que é uma oportunidade para aprender com os erros que aconteceram, algo que Espanha e Itália, os dois países com mais mortes, reconhecem. Creio que, deste ponto de vista, é uma boa oportunidade para a América Latina", comentou.

Segundo o diretor do IEPS, "as condições de infraestrutura sanitária, de vida e de pobreza na América Latina é que são um grande problema e devem preocupar a todos".

"Pobreza não é apenas a pessoa não receber uma quantidade determinada de renda, é muito mais, implica em condições estruturais e, fundamentalmente para este caso, dois fatores extremamente sensíveis e muito perigosos: um é o fator das condições de moradia e superlotação e o outro é da infraestrutura sanitária, concretamente, água potável e corrente".

Lago ressaltou que "se temos que manter a famosa distância social e lavar as mãos frequentemente, nas condições habitacionais dos grandes conglomerados urbanos na América Latina, é muito perigoso o que pode ocorrer, devido ao alto percentual de aglomeração em algumas comunidades, especialmente as mais pobres e ao também alto percentual de falta de água corrente e da estrutura de serviços elementares".

O diretor do IEPS alertou que "estamos falando de muitas pessoas que estão em risco de contrair a doença e que não podem fazer a prevenção adequada como a quarentena e o distanciamento social".

Após afirmar que não há como impedir a vinda da epidemia "porque chegará a qualquer parte do planeta em que existirem seres humanos", Lago destacou que "medidas adotadas a tempo, mesmo drásticas, servem para prevenir a disseminação da doença".

O especialista fez um alerta sobre o possível colapso no sistema sanitário da América Latina causado pelo vírus.

"Qualquer projeção inclui um colapso do sistema sanitário, porque considerando 5% em cada país, já estamos falando de milhares de pessoas, ou até milhões, sem a estrutura básica para atendê-las".

"As histórias que chegam de alguns países são dolorosas, se deixa morrer pacientes porque acabaram os recursos. Acredito que este é o grande desafio na América Latina, aprender com isso e tentar diminuir o impacto, porque não é possível evitá-lo".

Miguel Lago admitiu que a quarentena imposta na maioria dos países "sem dúvida, provocará sérios estragos na economia. Os países mais ricos sairão provavelmente em melhores condições e os países pobres ou os segmentos mais pobres sairão em piores condições".

"Me parece que a saúde não é apenas um vírus, é também as condições sociais nas quais a pessoa vive e enfatizar somente a parte biológica é uma redução do ser humano, porque não somos apenas entes biológicos, e não tem nenhum sentido comparar qual doença matou mais ou menos, porque efetivamente, não é um concurso", comentou.

Para ele, "não se pode comparar a COVID-19 com a pandemia anterior do H1N1, mas o ser humano é assim e a saúde é sem dúvida uma expressão da condição social humana e se não enfatizamos estes aspectos econômicos, complicaremos o problema em vez de resolvê-lo", concluiu.

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