Estudo aponta que novo coronavírus sofreu mutação e adquiriu suas próprias singularidades no Brasil
Rio de Janeiro, 26 mar (Xinhua) -- Cientistas brasileiros conseguiram sequenciar em tempo recorde o genoma do novo coronavírus em pacientes de diferentes regiões do país e descobriram que vem sofrendo mutações desde os primeiros casos registrados no país e adquiriu suas próprias singularidades.
O trabalho foi realizado por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Laboratório de Bioinformática do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), após um esforço ininterrupto de 48 horas estudando 19 casos registrados no sul, sudeste, e centro-oeste do país.
Dos 19 pacientes infectados com o vírus, só dois deles são de origem asiática. Os demais são todos descendentes de europeus.
Segundo explicou uma das autoras do estudo, Ana Tereza Vasconcelos, coordenadora do LNCC, entre os vírus há um "cluster", um agregado de marcas no genoma que indicam que o vírus introduzido no Brasil sofreu mutações após chegar ao país.
Isso só acontece quando o patógeno está há tempo e em quantidade suficientes para que essas mutações possam ocorrer e ser percebidas. "Realmente, o vírus está entre nós", disse Vasconcelos.
"É um vírus de RNA. Seu material genético é muito simples e altamente sujeito a alterações ou mutações. Passar por mutações em pouquíssimo tempo é inerente ao vírus e é por isso que estudá-las permite identificar sua origem, sua árvore genealógica e também detectar mutações perigosas. É um trabalho com importância na prevenção, na contenção e no futuro, no desenvolvimento de testes, vacinas e terapias", explicou a cientista.
"Nosso trabalho reforça a importância do isolamento social e de fazer testes para conter a transmissão da COVID-19 no Brasil. São as armas que temos agora. Não teremos vacina nem remédios a tempo para salvar as vítimas desta pandemia", acrescentou Renato Santana, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução da UFMG.
O grupo, que conta com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicações do Brasil e de fundações de amparo à pesquisa do Rio de Janeiro e Minas Gerais, continuará sequenciando e analisando os genomas da COVID-19 em pacientes de todo o país para descobrir novas mutações e dispor de um banco de amostras genéticas do vírus.
Segundo o último balanço divulgado pelo governo brasileiro, a COVID-19 deixou pelo menos 77 mortos e 2.915 casos positivos no país.
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