Embaixador chinês no Brasil critica o deputado federal Eduardo Bolsonaro por suas palavras contra China

Por Janaína Camara da Silveira

Rio de Janeiro, 18 mar (Xinhua) -- A embaixada da China no Brasil classificou nesta quarta-feira como extremamente irresponsáveis as declarações em redes sociais do deputado federal Eduardo Bolsonaro de que a China teria deliberadamente escondido a crise do novo coronavírus.

Segundo o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, também por meio de redes sociais, a "parte chinesa repudia veemente as palavras" e exigiu desculpas ao povo chinês. Yang afirmou que levará o caso para protestar e mostrar indignação à Câmara dos Deputados do Brasil e ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro.

A embaixada chinesa ainda classificou as declarações de Eduardo Bolsonaro como semelhantes a algumas que circulam em Miami, numa referência à viagem da última semana da comitiva presidencial brasileira, de que o deputado fez parte, quando o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, teve jantar com o presidente norte-americano, Donald Trump, e participou de dois eventos empresariais, além de outros encontros. Ao retornar ao Brasil, pelo menos 17 integrantes da comitiva apresentaram testes positivos do coronavírus.

O professor Evandro Menezes de Carvalho, coordenador do Núcleo de Pesquisas Brasil-China da FGV Direito-Rio, disse que apontar a China como culpada pela epidemia do coronavírus é um ato de hostilidade contra este país e seu povo.

"Ao afirmar que a China teria preferido esconder o surto do coronavírus, Eduardo Bolsonaro assume um ponto de vista de que a China teria sido irresponsável, e o governo chinês teria sido negligente com o controle da propagação do vírus. Quando, na realidade, aconteceu o oposto. O governo central da China foi rápido e eficaz na contenção do vírus. Houve uma determinação política sem igual e elogiada, inclusive, pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde", afirmou o professor em entrevista à Xinhua.

"O pai do deputado, mesmo ciente das notícias sobre o vírus na China e na Europa, preferiu abertamente negligenciar os riscos para a saúde da população brasileira. O presidente declarou que o coronavírus seria uma 'fantasia', 'que não é isso tudo que a mídia propaga pelo mundo', que o poder destruidor do vírus estaria 'sendo superdimensionado' e que seria 'histerismo' proibir jogos de futebol por conta do coronavírus", continuou Carvalho.

"Mesmo tendo vários membros de seu staff infectados, e com suspeita dele mesmo ter sido infectado, resolve se juntar às pessoas que faziam uma manifestação de apoio ao fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (no último domingo, já depois do retorno ao Brasil). E quando o presidente Bolsonaro declara que é direito dele apertar a mão do povo, mesmo com o risco de contaminá-las, ele é que teria sido negligente. Assim, a declaração do deputado Eduardo Bolsonaro é uma agressão explícita à China que poderá afetar a relação bilateral do país que tem sido o nosso maior parceiro econômico e comercial e, sobretudo, muito leal aos interesses brasileiros."

Por sua parte, o deputado Fausto Pinato, presidente das Frentes Parlamentares Brasil-China e do BRICS, disse que as palavras de Eduardo Bolsonaro causaram uma crise diplomática com a China. "Venho aqui em público como deputado federal dizer que eu sinto vergonha das palavras do Eduardo Bolsonaro. E dizer ao presidente que o senhor tem que desmentir isso de maneira imediata", disse.

Na noite desta quarta-feira, pelo menos um governador no Brasil já havia se posicionado. Flávio Dino, governador do Maranhão, afirmou que "um filho de Bolsonaro revolve agredir uma Nação - a China - com a qual o Brasil mantém relações diplomáticas e é o principal destino de muitas exportações brasileiras. Isso é uma irresponsabilidade. Uma retratação é necessária", afirmou o governante.