Cientistas brasileiros conseguiram isolar e cultivar coronavírus em laboratório
Rio de janeiro, 6 mar (Xinhua) - Cientistas brasileiros da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram isolar e cultivar em laboratório o novo coronavírus, usando amostras retiradas dos dois primeiros pacientes brasileiros diagnosticados com a doença e, depois, reproduzindo o código genético.
Com isso, será possível enviar amostras inativas do vírus (sem capacidade de infectar as células), para outros centros de diagnóstico do país, que usarão o material para identificar a doença.
O processo foi realizado por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que divulgou a informação nesta sexta-feira.
"Os vírus que conseguimos cultivar em laboratório poderão ser usados em um kit para diagnóstico que o Ministério da Saúde distribuirá para os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens) em todo o país. Com isso, todos os estados estarão aptos a realizar o diagnóstico", afirmou Edison Luiz Durigon, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e coordenador do projeto.
Segundo ele, a falta de amostras do vírus para serem usadas como controles positivos era um dos fatores que limitava o diagnóstico do coronavírus no Brasil a laboratórios privados e a apenas três públicos de referência, um em São Paulo, outro no Rio de janeiro e outro no Pará.
Até então, as amostras de vírus usadas nos testes de diagnósticos vinham do exterior e custavam entre 3 mil e 4 mil dólares. O valor é elevado porque o material precisa ser transportado em gelo seco e, quanto mais distante, mais caro fica o envio.
A distribuição dos kits já foi iniciada e a estimativa do Ministério da Saúde é que em 20 dias, todos os estados deverão ter recebido. Os vírus serão enviados inativados, ou seja, sem capacidade de infectar células e em temperatura ambiente. Os vírus importados até agora tinham que ser transportados sob refrigeração, em gelo seco, o que encarecia os custos.
De posse das amostras com 1ml de vírus inativado, os pesquisadores poderão extrair o ácido nucléico do vírus que que servirá de controle positivo para o exame na técnica conhecida como RT-PCR (reação da cadeia da polimerase em tempo real, na sigla em inglês).
Segundo a Fapesp, isso permite aumentar em milhões o número de cópias do RNA do coronavírus, tornando possível detectá-lo e quantificá-lo em uma amostra clínica.
"O PCR permite fazer o diagnóstico em até quatro horas", afirmou Durigon. "Mas ainda são poucos os laboratórios no país que têm o equipamento disponível", disse.
Para superar a limitação, os pesquisadores da USP também pretendem desenvolver outros testes de diagnóstico baseados em técnicas mais acessíveis, como a análise por imunoflorescência, um método que permite observar micro-organismos usando corantes fluorescentes.
"Se conseguirmos validar um teste desse tipo específico para o coronavírus seria possível que outros laboratórios e hospitais, que não têm o equipamento para o exame por RT-PCR, também façam diagnóstico", acrescentou Durigon.
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