Coronavírus: China e Brasil mantêm cooperação estreita para conter doença

2020-02-15 19:13:36丨portuguese.xinhuanet.com

Por Janaína Camara da Silveira

Rio de Janeiro, 14 fev (Xinhua) - A China está atuando para prevenir que o surto do novo coronavírus se expanda dentro do país e trabalha em contato estreito com a comunidade internacional, incluindo o Brasil, para conter infecções pela COVID-19, reforçou o cônsul-geral da China no Rio de Janeiro, Li Yang. Ele participou nesta sexta-feira do evento Coronavírus na China e as Implicações para a Política Internacional, promovido pelo think tank BRICS Policy Center.

"Estamos compartilhando informações com a comunidade internacional de forma responsável, abrindo nossos dados e até mesmo oferecendo amostras do novo vírus, a fim de evitar que a doença chegue a outros países", afirmou Li. A mesa teve também a participação da especialista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Marilda Siqueira, do professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Luiz Roberto Cunha, e da professora de Relações Internacionais da PUC-Rio Monica Herz.

Segundo cônsul-geral, a atual crise deve trazer problemas a curto prazo para a economia, mas a resiliência da economia chinesa prevalecerá. Li acredita também que a concentração e a troca de informações e experiências com organismos internacionais e com outros países deve reforçar as instituições multilaterais e a governança global, a fim de que a experiência atual sirva como aprendizado para conter novas epidemias nacionais, regionais ou globais. Li saudou o fato de que o Brasil não impôs nenhuma limitação a viagens de cidadãos chineses.

O Brasil ainda não registrou nenhum caso de COVID-19, e a rede nacional de laboratórios tem capacidade para detectar o vírus. Segundo Marilda, há dois cenários para o novo coronavírus: que ele desapareça, o que ocorreu com a cepa responsável pela SARS, em 2003, ou que se torne uma doença sazonal. Uma vacina, segundo ela, deverá demorar, pelo menos, 18 meses até ser desenvolvida e testada. Como a doença ainda é nova, com os primeiros casos reportados em dezembro de 2019, ainda é cedo para definir um padrão de transmissibilidade e de cura, acrescentou a pesquisadora.

Vida em quarentena no Brasil

Desde 9 de fevereiro, estão em quarentena 34 brasileiros que viviam em Wuhan e em cidades vizinhas da Província de Hubei, além de três diplomatas brasileiros baseados na China e o corpo técnico e a tripulação da Força Aérea Brasileira (FAB) que viajou à China para repatriá-los. O grupo cumprirá de 14 a 18 dias de quarentena em um hotel da FAB em Anápolis, no Estado de Goiás, para evitar qualquer perigo de transmissão do novo coronavírus. Até sexta-feira, ninguém no grupo apresentava nenhum sintoma de doença respiratória.

Para o estudante de mandarim Heros Martines, de 23 anos, que está no grupo de repatriados, a possibilidade de voltar ao Brasil garantiu que o grupo tivesse uma previsibilidade em relação ao fim da quarentena. A cidade de 11 milhões de habitantes está em quarentena desde 23 de janeiro e ainda não há previsão para o fim desta medida de contenção.

"Eu não tinha medo na China, mas a sensação de não saber quando a rotina voltaria ao normal é desagradável", disse o estudante. No dia 17, ele e todos os colegas de mandarim da Universidade de Hubei voltarão a ter aulas online.

O estudante disse que ficou sabendo da evacuação um dia antes da partida. Seu grupo foi um dos primeiros a seguir para o hotel que seria o ponto de encontro dos brasileiros. Dali, partiram para o aeroporto. "Ali senti o primeiro baque, pois o aeroporto estava aberto para um grupo de apenas 40 pessoas e ele é enorme. Os trabalhadores estavam superparamentados, vestidos dos pés à cabeça", lembrou, acrescentando que todos passaram por questionários e medições de temperatura antes do embarque.

"Quando subi ao avião, o médico disse 'bem-vindos ao Brasil', o que me deixou bem emocionado, foi um momento único", narrou o estudante. A partir dali, seriam 37 horas de viagem, com escalas em Urumqi (ainda na China), Varsóvia (Polônia, onde desembarcaram cinco poloneses), Las Palmas (Espanha), Fortaleza e Anápolis. "A cada quatro horas tínhamos de trocar as máscaras e passar álcool-gel nas mãos. A equipe da FAB era sempre muito atenciosa", recordou Martines, dizendo que a rotina se mantém no hotel.

Segundo ele, o clima na quarentena é de confraternização. Além disso, há atividades culturais e reuniões sobre cuidados em relação ao vírus. Mesmo feliz de estar no Brasil, os planos são de regressar a Wuhan. "Assim que a situação estiver normalizada, quero retornar à China, onde pretendo fazer também graduação a partir de setembro."

Governos da China e do Brasil atuaram juntos para expatriar brasileiros

O diplomata brasileiro Germano Corrêa, que junto com os colegas Flávio Pazetto e João Batista Magalhães, viajou com o grupo de brasileiros e está em quarentena em Anápolis, afirmou que as tratativas com o governo chinês para garantir a repatriação ocorreram de forma rápida e pragmática, com cooperação e amabilidade. O Ministério das Relações Exteriores chinês concedeu a autorização para a evacuação dos brasileiros e aprovou o trajeto - algo inédito em se tratando de Brasil, pois se trata do percurso mais longo percorrido até agora nas operações de repatriação de Wuhan. Já o Escritório de Negócios Estrangeiros da Província de Hubei foi responsável pelas autorizações para circulação das pessoas na cidade de Wuhan e logística local.

"Tínhamos uma (autorização) entre 22h e 3h para pousar e decolar, pois o aeroporto local está sendo utilizado para transporte de pessoal e de material para conter a crise", contou Corrêa.

Ele e os colegas diplomatas viajaram a Wuhan desde Beijing, onde fica a Embaixada do Brasil, de carro, num trajeto de 16 horas. "Foi uma viagem difícil, as estradas muito vazias, alguns trechos com neve", relembrou. No mesmo dia, o grupo começou a preparar a partida. Os brasileiros foram levados de suas casas ao hotel designado pelas autoridades locais como ponto de encontro em um ônibus, um micro-ônibus e em uma van. "Tivemos de identificar previamente todo o grupo, incluindo os motoristas, pois a circulação em Wuhan é restrita hoje."

Para além das tratativas na China, um grupo composto por técnicos dos Ministérios da Defesa, da Saúde, das Relações Exteriores do Brasil e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) atuou em Brasília para esquematizar a repatriação e a quarentena. Segundo ele, todo o processo está sendo encarado como um aprendizado, pois a ação é inédita no Brasil, que teve de aprovar uma legislação específica sobre quarentena.

Ao final do período, a expectativa é de que Corrêa e os colegas retornem à China.

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